7.6.08

TUCORICAST#01


Tem coisas que a gente não esquece nunca.
Tem outras que a gente esquece, mas dessas não posso falar,
porque esqueci como elas eram.
Porque é por isso que eu escrevo.
É pra não esquecer.
E é aí também que bate o ponto, como um jab de Ali.
Você tomou,
bambeou,
não sabe de onde vem,
mas sabe que, se não ficar esperto,
vem mais e mais.
Acontece que eu venho me aventurando um pouco além do jardim de casa.
O que isso quer dizer é que me sinto seguro o bastante a respeito de mim mesmo
para me dissolver aquilo que minha imaginação cria e minha fantasia pinta.
O problema que isso traz pra uma pessoa como eu,
com o tipo bem específico de insegurança que eu tenho,
é que eu me sinto como o cara que entrou no labirinto pra pegar o Minotauro –
que eu nunca sei se é Perseu ou Teseu ou Tadeu, ou Amadeu –
mas não deixa atrás de si a trilha de barbante que vai guiá-lo à saída depois.
Não sei se você entende.
Talvez eu mesmo ainda não entenda.
Faz anos da vida que eu tento entender
o que faz uma pessoa legal ficar babaca de repente.
Acho que agora eu começo a suspeitar do que seja.
É um princípio básico do aprender a voar:
você tem um ninho
e você precisa aprender o caminho de volta pra ele
se quiser se perder por aí.
Só que, pra gente, o nome desse ninho é identidade.
Quando a gente precisa voltar pra dentro da gente mesmo, como é que faz?
Que caminho que a gente segue?
Eu sei o que você vai responder:
que a gente segue o caminho por onde a gente veio.
Completamente certo.
A não ser, é claro, que você tenha essa estranha mania
de não tomar muitas decisões e simplesmente ir,
tentar ir passando pela vida como uma mistura de água e nuvem
– se ajustando a tudo e se prendendo a nada.
Por incrível que pareça, tenho mais facilidade de me prender a nada
do pra me ajustar a tudo.
Pelo menos é assim que é agora,
porque lembro de já ter tido a mesma dificuldade, só que ao inverso.
Porque, pra mim, hoje pelo menos,
eu acho que tem coisas as quais a gente simplesmente não pode se ajustar.
Mas as vezes, são justamente essas coisas às quais você não pode se ajustar
é que acabam tomando a maior parte do seu tempo e,
quando você volta pra lá,
a referência que você tem está distorcida por um padrão aleatório
porque é assim que você se adapta: como quem surfa.
È preciso que exista um lugar em que você possa ser vergonhosamente verdadeiro, perigosamente tosco e deliciosamente vulgar.
Porque, senão, você dança.
Foi justamente por isso que eu resolvi fazer uma coisa
que faz muito tempo que me amedrontava.
Fazer um podcast sem medo de soar babaca.
Porque tudo que eu ouço é gente sendo babaca
ou simplesmente não sendo em podcasts e em programas de rádio.
Tem algumas exceções, é claro, e eu admiro profundamente cada uma delas.
É difícil pra mim ignorar o que eu acho que vá ser o “momento certo”
e assumir que todo momento é certo e que,
por mais idiota que possa parecer,
é verdade: a hora é agora e vamo que vamo.
Então, eu fiz.
Gravei um podcast.
Falei um monte de merda,
toquei um monte de música
e me dei o trabalho de falar entre cada uma delas.
Claro que isso pode ser chato,
mas eu juro que me esforço pra que não seja.
Como esse foi o primeiro,
não me acertei direito com a técnica e as músicas ficaram mais altas que a voz.
Então, isso pode ocasionar um eventual susto
quando eu termino de falar, bem baixinho, e a música entra alta demais.
Talvez isso não seja lá um grande problema
porque eu marco bem quando as músicas vão entrar,
então, se você prestar atenção no que eu estou dizendo
– e eu espero que você preste – dá pra abaixar o volume antes do coice.
De qualquer modo, é divertido.
Pode ser divertido também pra você se você tentar responder essas três questões:
a) o que ele estava tomando?
b) quando bateu?
c) quando baixou?
É isso assim e, assim sendo, seja lá o que for, que fosse.
Enjoy the ride.

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2 comentários:

Maria B. disse...

Eitaaaaa! A identidade é um porto seguro, mas a gente não pode esquecer que ela é sempre dinâmica e que, portanto, esse caminho de volta também sempre muda. E muda de acordo com a gente mesmo. Por isso, a hora é sempre agora de ser o que a gente quer ser. Nem que seja pra gente se perder até conseguir se achar de novo.
bjo

Kakaya disse...

Li tudo que faltava!
Adoro ler você ;)