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4.6.09

a dream about johnny

"well you may throw your rock and hide your hand
workin' in the dark against your fellow man
but as sure as god made black and white
what's down in the dark will be brought to the light"


(johnny cash - "god's gonna cut you down")




tempos atrás, tive um daqueles sonhos especiais, daqueles que, por mais que você esqueça os detalhes, sempre vai lembrar que sonhou. sonhei que ia ter um show do david bowie, ao pé do morro que fica ao lado da piscina do hotel esplêndido em poços de caldas e, porque o sonho era meu, eu ia participar do show, fazendo segunda voz em “white light/ white heat”.
depois, burroughs me veio em sonho e, com dedo em riste, proclamou uma frase: “learn in the streets”.

ontem, tive um outro desses.

deve ter sido porque, antes do beijo de boa noite que me botou na cama pra dormir sorrindo, eu tava brincando de cantar “ring of fire” na versão karaokê que achei nos cds de backup, mas sim: johnny cash apareceu.

o engraçado é que no sonho, eu já sabia que ele viria e isso gerou uma confusão daquelas que só acontecem em sonho. queria que ele autografasse meu “live at folsom prision”, porque, dentre os cds que eu tenho em forma física, é o mais bonito.
era engraçado porque eu não estava em nenhum lugar conhecido.
estava em uma espécie de taverna, com mesas rústicas de madeira, compridas, com bancos igualmente compridos, também de madeira.
lá, naquela taverna, estava a cômoda com meus cds, que nunca saiu da casa dos meus pais e, por mais que eu procurasse, não achava o dito cd.

não lembro como cash chegou, mas quando vi, já estava lá, vestindo preto, tocando com o meu violão, que, pelo menos no sonho, tinha todas as cordas.
o violão que eu estava usando, apesar de não saber tocar nada – nem em sonho – era parecido com o meu primeiro violão, exceto pelo fato de ter doze cordas.
lembro de, no sonho, ter olhado pra todas aquelas cordas e pensando “pra quê um violão com 12 cordas se, no máximo, eu uso três delas?”.
ele tocou “ring of fire” e eu fiquei tentando fingir que fazia alguma coisa quando, na real, só ia fazendo a segunda voz no refrão.

sem o cd na mão, pedi um autógrafo no meu bloquinho de escrever nanocarta e, quando ele me perguntou se era pra mim, eu disse que era pra você – a mim bastava ter tido o sonho.
ele assinou com seu nome lá no alto da folha.

eu tinha noção que era um sonho e pensei daquele jeito que se pensa em sonho, que você nunca sabe se fala pra dentro ou pra fora e, no fim, não faz diferença nenhuma – provavelmente foi uma daquelas frases que você fala alto, dormindo, acorda com o som da própria voz e nunca mais lembra do sonho que teve.

“acho que alguém lá em cima gosta de mim”, eu disse.

foi aí, que ele levantou os olhos do violão, parou a música com os dedos no pescoço e apontou o olhar pra mim como se estivesse a fim de pregar minha alma na parede do outro lado da sala.

“olha, filho. se deus é o que dizem que ele é, então alguém lá em cima gosta de você. independente de qualquer coisa, mesmo que você nunca tenha perdido nenhuma pessoa que te ame, alguém lá em cima sempre vai gostar de você”, ele disse.

estendeu a folha branca com seu nome em cima e o nome dele embaixo e, com os olhos, bateu o prego: “fique feliz porque alguém aqui embaixo gosta de você. isso, filho, é que é o céu”.
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11.5.09

rachando pedra ao meio com um jato de mijo



Tava conversando com a Joh ontem e, out of the blue, tocou “I've Been Everywhere”, do Johnny Cash. Ela deu um pulo da cadeira e foi ver de onde vinha. Vinha do filme que a Globo tava passando, que eu acho que era “O Vôo da Fênix”. Eu tava com preguiça de ligar na Globo e botei pra tocar toda a pasta “Johnny Cash” na mesma hora.

Daí, lembrei do caso do Paxá com o Johnny Cash.

Foi numa viagem de reveillon que a gente fez pra Ilhabela. Acho que foi no fim de 2003, quando Cash morreu. Tinha levado pra lá um CD com músicas sortidas do homem de preto, gravadas aleatoriamente, direto do HD, só pra ter um CD do Johnny Cash que fosse descartável e que, se não sobrevivesse à viagem, tudo bem. Você não leva a sua edição de luxo do “Live At Folsom Prision” pra uma viagem onde tudo pode acontecer, leva?
Acontece que o Paxá e eu temos uma rusga histórica no que diz respeito à música. Ele insiste em ficar tocando as mesmas músicas de sempre, que ele grava em fita na Kiss FM e eu insisto em jogar as fitas dele dentro do mar, pra ele não encher o saco fazendo a gente ouvir sempre as mesmas músicas do Led Zeppelin, do Jethro Tull, do Iron Maiden e tudo mais.
Minha birra não é com nenhuma das bandas citadas, mas apenas e tão somente com a insistência das rádios em manter um playlist estreito.
Também nem é com isso, porque, pra isso é simples: é só não ouvir.
O que me irrita é ter um cara, de 65 anos de idade, que grava isso e vem me mostrar achando que é bom.
Não.
Não é bom.
Só que, pra se fazer a linha do “se você não deixa eu tocar minhas coisas, eu não deixo você tocar as suas”, ele não queria – NEM FODENDO – que eu botasse o CD do Johnny Cash pra rolar.
Ele dizia que era música country e que ele não gostava de música country e fim.

Nesse ponto da conversa, a Joh estampou um “sacrilégio”, com o qual concordei sem piscar, mas não comentei, porque o melhor da história viria a seguir.

Uma tarde, o Paxá ficou bêbado e capotou no sofá da sala.
Pra mim, era a oportunidade de ouro.
Botei o CD do Johnny Cash pra rodar enquanto ele dormia e a gente saiu pra ir fazer alguma coisa.
Provavelmente foi pra cachoeira ou, talvez, fazer compras.
Quando a gente voltou, coisa de três horas depois, vi uma cena que nunca mais esqueci.
O CD ainda tocava – e tocava ALTO – e o Paxá tava pro lado de fora da casa, sentado no degrau de entrada, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos segurando a cabeça. Ele percebeu que a gente tinha chegado, meio que tentou esconder os olhos, mas eu já havia passado por aquilo e sabia o que era. Daí, o Paxá me chamou de lado e perguntou se ele podia ficarcom aquela minha coletânea do Johnny Cash pra ele, porque ele... ele... ele... a voz afinou, os olhos ficaram vermelhos e não havia nada mais pra se dizer.

É porque você não conhece o Paxá, mas vai por mim: se o Johnny Cash conseguiu fazer isso com o Paxá, ele devia ser capaz de partir pedra no meio com um jato de mijo.

Engraçado é que, justamente depois de contar essa história pra Joh, com as músicas do Johnny Cash ainda tocando no computador, o shuffle sorteou "First Time Ever I Saw Your Face" pra tocar.
Imediatamente, parei de rir desse negócio de rachar pedra com jato de mijo e, quando fui ver, tava com os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos segurando a cabeça, os olhos vermelhos, a voz afinando e pareceu que dava pra sentir a terra girar com as minhas próprias mãos.
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