"well you may throw your rock and hide your hand
workin' in the dark against your fellow man
but as sure as god made black and white
what's down in the dark will be brought to the light"
(johnny cash - "god's gonna cut you down")
tempos atrás, tive um daqueles sonhos especiais, daqueles que, por mais que você esqueça os detalhes, sempre vai lembrar que sonhou. sonhei que ia ter um show do david bowie, ao pé do morro que fica ao lado da piscina do hotel esplêndido em poços de caldas e, porque o sonho era meu, eu ia participar do show, fazendo segunda voz em “white light/ white heat”.
depois, burroughs me veio em sonho e, com dedo em riste, proclamou uma frase: “learn in the streets”.
ontem, tive um outro desses.
deve ter sido porque, antes do beijo de boa noite que me botou na cama pra dormir sorrindo, eu tava brincando de cantar “ring of fire” na versão karaokê que achei nos cds de backup, mas sim: johnny cash apareceu.
o engraçado é que no sonho, eu já sabia que ele viria e isso gerou uma confusão daquelas que só acontecem em sonho. queria que ele autografasse meu “live at folsom prision”, porque, dentre os cds que eu tenho em forma física, é o mais bonito.
era engraçado porque eu não estava em nenhum lugar conhecido.
estava em uma espécie de taverna, com mesas rústicas de madeira, compridas, com bancos igualmente compridos, também de madeira.
lá, naquela taverna, estava a cômoda com meus cds, que nunca saiu da casa dos meus pais e, por mais que eu procurasse, não achava o dito cd.
não lembro como cash chegou, mas quando vi, já estava lá, vestindo preto, tocando com o meu violão, que, pelo menos no sonho, tinha todas as cordas.
o violão que eu estava usando, apesar de não saber tocar nada – nem em sonho – era parecido com o meu primeiro violão, exceto pelo fato de ter doze cordas.
lembro de, no sonho, ter olhado pra todas aquelas cordas e pensando “pra quê um violão com 12 cordas se, no máximo, eu uso três delas?”.
ele tocou “ring of fire” e eu fiquei tentando fingir que fazia alguma coisa quando, na real, só ia fazendo a segunda voz no refrão.
sem o cd na mão, pedi um autógrafo no meu bloquinho de escrever nanocarta e, quando ele me perguntou se era pra mim, eu disse que era pra você – a mim bastava ter tido o sonho.
ele assinou com seu nome lá no alto da folha.
eu tinha noção que era um sonho e pensei daquele jeito que se pensa em sonho, que você nunca sabe se fala pra dentro ou pra fora e, no fim, não faz diferença nenhuma – provavelmente foi uma daquelas frases que você fala alto, dormindo, acorda com o som da própria voz e nunca mais lembra do sonho que teve.
“acho que alguém lá em cima gosta de mim”, eu disse.
foi aí, que ele levantou os olhos do violão, parou a música com os dedos no pescoço e apontou o olhar pra mim como se estivesse a fim de pregar minha alma na parede do outro lado da sala.
“olha, filho. se deus é o que dizem que ele é, então alguém lá em cima gosta de você. independente de qualquer coisa, mesmo que você nunca tenha perdido nenhuma pessoa que te ame, alguém lá em cima sempre vai gostar de você”, ele disse.
estendeu a folha branca com seu nome em cima e o nome dele embaixo e, com os olhos, bateu o prego: “fique feliz porque alguém aqui embaixo gosta de você. isso, filho, é que é o céu”.
workin' in the dark against your fellow man
but as sure as god made black and white
what's down in the dark will be brought to the light"
(johnny cash - "god's gonna cut you down")
tempos atrás, tive um daqueles sonhos especiais, daqueles que, por mais que você esqueça os detalhes, sempre vai lembrar que sonhou. sonhei que ia ter um show do david bowie, ao pé do morro que fica ao lado da piscina do hotel esplêndido em poços de caldas e, porque o sonho era meu, eu ia participar do show, fazendo segunda voz em “white light/ white heat”.
depois, burroughs me veio em sonho e, com dedo em riste, proclamou uma frase: “learn in the streets”.
ontem, tive um outro desses.
deve ter sido porque, antes do beijo de boa noite que me botou na cama pra dormir sorrindo, eu tava brincando de cantar “ring of fire” na versão karaokê que achei nos cds de backup, mas sim: johnny cash apareceu.
o engraçado é que no sonho, eu já sabia que ele viria e isso gerou uma confusão daquelas que só acontecem em sonho. queria que ele autografasse meu “live at folsom prision”, porque, dentre os cds que eu tenho em forma física, é o mais bonito.
era engraçado porque eu não estava em nenhum lugar conhecido.
estava em uma espécie de taverna, com mesas rústicas de madeira, compridas, com bancos igualmente compridos, também de madeira.
lá, naquela taverna, estava a cômoda com meus cds, que nunca saiu da casa dos meus pais e, por mais que eu procurasse, não achava o dito cd.
não lembro como cash chegou, mas quando vi, já estava lá, vestindo preto, tocando com o meu violão, que, pelo menos no sonho, tinha todas as cordas.
o violão que eu estava usando, apesar de não saber tocar nada – nem em sonho – era parecido com o meu primeiro violão, exceto pelo fato de ter doze cordas.
lembro de, no sonho, ter olhado pra todas aquelas cordas e pensando “pra quê um violão com 12 cordas se, no máximo, eu uso três delas?”.
ele tocou “ring of fire” e eu fiquei tentando fingir que fazia alguma coisa quando, na real, só ia fazendo a segunda voz no refrão.
sem o cd na mão, pedi um autógrafo no meu bloquinho de escrever nanocarta e, quando ele me perguntou se era pra mim, eu disse que era pra você – a mim bastava ter tido o sonho.
ele assinou com seu nome lá no alto da folha.
eu tinha noção que era um sonho e pensei daquele jeito que se pensa em sonho, que você nunca sabe se fala pra dentro ou pra fora e, no fim, não faz diferença nenhuma – provavelmente foi uma daquelas frases que você fala alto, dormindo, acorda com o som da própria voz e nunca mais lembra do sonho que teve.
“acho que alguém lá em cima gosta de mim”, eu disse.
foi aí, que ele levantou os olhos do violão, parou a música com os dedos no pescoço e apontou o olhar pra mim como se estivesse a fim de pregar minha alma na parede do outro lado da sala.
“olha, filho. se deus é o que dizem que ele é, então alguém lá em cima gosta de você. independente de qualquer coisa, mesmo que você nunca tenha perdido nenhuma pessoa que te ame, alguém lá em cima sempre vai gostar de você”, ele disse.
estendeu a folha branca com seu nome em cima e o nome dele embaixo e, com os olhos, bateu o prego: “fique feliz porque alguém aqui embaixo gosta de você. isso, filho, é que é o céu”.