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11.5.09

Vamos Dizer Que eu Diga o Que Você Disse Que Diria?

(texto publicado na Coluna do Meio, do Rockwave em 09/03/2006, com uma chamada de capa que dizia assim: "Coluna do meio - Uma coluna confusa, perdida e desorientada, assim, que nem você.")




Vamos dizer que,
de repente,
eu sinta o que você quer que eu sinta,
mas vamos dizer que eu minta.

Vamos dizer que, pra dizer isso,
você teria que ignorar tudo o que você sente que eu sinto e,
vamos dizer que isso, de repente, seja fácil para caralho.

Vamos dizer que haja um atalho.

Vamos dizer que eu, de repente,
te diga bem aquilo que você tem certeza que eu nunca diria,
mas que você morre de medo que eu diga.

Vamos dizer que eu tenha lombriga.
Vamos dizer que não, mas que, talvez, eu te siga.
Vamos dizer também que seja só uma dor de barriga,
mas vamos dizer que não, que eu não diga.

Vamos dizer...

Vamos dizer que, como um sol que se apagou faz muito tempo,
esteja eu apenas reluzindo uma luz que já existiu um dia
e que só não se apagou porque ainda não acabou de se propagar.
Uma luz morta que vamos dizer que só brilha porque ainda existe ar.
Vamos dizer que essa distorção que parece legal, que parece divertida,
seja só o melancólico último acorde de uma sinfonia
que - nunca - nunca mais vai se repetir.

Vamos dizer que, de repente, eu precise sumir.

Vamos dizer que eu talvez apenas com uma vontade imensa
de copiar o primeiro parágrafo de "On The Road", do Kerouac,
porque isso tudo tem a ver com uma doença terrível
sobre a qual não vale nem a pena comentar,
exceto pelo fato de que ela tem algo a ver
com a brutal e cruel execução de tudo que um dia senti
e a vigente sensação de que tudo está morto
e o que, o que não está, é inútil.

Vamos que, de repente,
você me diz tudo que você tem em mente.

Vamos que,
de repente,
você me diz tudo que você tem.
E mente.

Vamos que, de repente, você me diz tudo de que você é temente.

Vamos dizer que,
antes disso tudo,
eu mesmo digo,
de repente.

Vamos que a gente descubra o fruto proibido
e, com ele,
a serpente.

Vamos dizer que não haja uma planilha,
que eu peça truco sem manilha,
que acabe nossa pilha.

Vamos dizer que eu mude: pra Marília
e que Marília seja o nome da minha irmã
e que eu não a vi nesta manhã.

Vamos dizer que, talvez, eu tenha sido jornalista,
que tenha sido locutor,
que tenha sido ator
e que tenha sentido dor.

Vamos dizer que eu tenha sido namorado,
que tenha sido afastado,
que tenha estado errado.

Vamos que eu sou um idiota,
com cabeça de marmota
e te chame de cocota.

Eu, que tenho sido amante,
sem que tenha sido o bastante e que,
neste exato instante,
sei que eu, não obstante,
sempre fui eu.

Distante.

Sei que fui um sucesso
e sei que fui um fracasso,
sempre sucessivamente
e sempre da noite pro dia.

Vamos dizer que fui reticência,
que não tive paciência e que
depois, me descobri um ponto.

Ah, como sou tonto...
Me dá um desconto?

Vamos dizer que seja covardia.
Mas, vamos dizer que eu já sabia.

Vamos dizer que eu tenha aprendido a entender
e que tenha aprendido a esquecer e que, por isso,
sempre isso, tenho que aprender tudo de novo,
da galinha até o ovo.

Vamos dizer que talvez eu tenha que ir embora
e tenha que ir andando agora,
antes que seja preciso correr,
antes que alguma coisa comece a doer.
Vamos...
vamos dizer.

Vamos dizer que um dia eu cansei, no outro descansei.
E aí, bati e depois corri.
E depois parei.
E depois, não sei.

É dificil falar, então que falem por mim,
mas que digam assim:
não vou vender meu peixe.

Não gosto de peixe.
E odeio vender.

Quem me quiser, que me pague pra ver.

Sei que um dia sonhei que era outra pessoa,
uma pessoa boa.

Vamos dizer que eu estivesse certo,
mas que era tudo um sonho mas,
neste sonho, havia você por perto.

Vamos dizer que dia desses eu me vi desperto,
mas vi que tudo continuava deserto.

Vamos dizer que talvez seja muito, muito cedo,
mas vamos dizer que, não é nenhum segredo,
que talvez seja só medo.

Vamos dizer que, talvez, se eu fosse seco, cínico e falso,
domesticaria minha língua para que ela dissesse "está tchudo bem",
mas eu tenho um nojo enorme de qualquer pessoa que fala "tchudo bem" e,
somando isso com o nojo que sinto de mim,
apenas digo que não tô a fim e,
sendo assim,
este é o fim.

Vamos dizer que eu morra.
Vamos dizer que não.

Vamos dizer que - porra - eu só precise...
... de um tantinho assim da tua atenção.

(para o jonathan, que me mandou um scrap no orkut pedindo pra que eu repostasse esse texto. e pra joh que deixou um scrap lá - o que me fez lembrar que existe orkut)
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21.2.09

te conheço de outros carnavais, não?

ATENÇÃO: ESTE TEXTO FOI ESCRITO ORIGINALMENTE EM 2004 PARA A "COLUNA DO MEIO" DO ROCKWAVE.
Na real, pensei em fazer mil atualizações nele, mas a tentação de fazer uma viagem ao futuro e ao passado ao mesmo tempo foi maior.
Então, deixei como tá.
Se você quiser saber mais sobre o futuro, não é comigo.
É aqui no Solta O Frango.

ok?



Carnaval 3004 - Cobertura completa, geral e irrestrita - SÓ AQUI! Sim... você leu certo: 3004!



Eu que passei a minha vida inteira procurando... E foi justamente numa viagem errada que ele me falou.
Confesso que não entendi direito o que era um lança perfume e, só por isso, bebi aquele meio litro de After Sport de Atkinson.

A alucinação foi forte.

Fui transportado direto pra 3004 e, no meio daquilo tudo, fiz várias anotações sobre tudo que vi.
Pra dizer a verdade, não lembro onde deixei essas anotações, por isso eu vou falar só do que lembro.

No ano de 3004, o Brasil não se chama mais Brasil.
Para tentar fazer parte da comunidade econômica européia e descolar uns cursos bacanas no exterior, o País naturalizou-se romeno e mudou de nome para República Democrática da Finlândia do Sul.

O carnaval, porém, perdeu-se no meio da viagem.

Alguns culpam o serviço imprudente das companhias aéreas, outros dizem que foi a rigidez do solo de terra roxa que causou o apodrecimento das nossas raízes, mas o fato é que o carnaval se perdeu.

Na minha opinião, ele se perdeu em Campinas e ficou rondando nos arredores do Taquaral - por que é que todo mundo que se perde em Campinas acaba chegando no Taquaral? - e terminou seus dias arremessado contra o vidro de uma picape por um maluco produtor breganejo que berrava "rá, satanás!".

Para saber onde o carnaval tinha ido parar foi encomendado um extenso trabalho de reconstituição e pesquisa numa tentativa desesperada de responder a pergunta: onde foi parar nosso carnaval?
Descobriu-se então, que havia uma velha brincadeira que consistia em jogar água ou perfume nos outros.
A prática foi trazida para cá por portugueses sujos, em 1723, e se chamava "entrudo".
Em 3004, a crise de abastecimento água deixou poucas alternativas aos foliões.
A transformação do Rio Amazonas em Pesque Pague Amazonino Mendes e sua subseqüente contaminação por coliformes fecais, deixou todo mundo na merda.
Assim, os foliões se viram obrigados a apelar para outros recursos, transformando a guerra de cocô em um "must".
O consumo de fibras nesta época do ano aumenta consideravelmente e, em 3004, quando uma pessoa diz que está "cagando e andando para o carnaval", o sentido é outro, completamente outro.

O grande destaque do Carnaval 3004 é o Grêmio Recreativo e Laxativo Vai Vai - conhecido pelos associados pela corruptela "Vai Vai Cagar" - orgulhoso produtor de oitocentos quilos.
Mas nem tudo é uma bosta no Carnaval 3004.
Carnaval 3004 também tem mulher.
Partes interessantes da anatomia feminina são expostas no Pavilhão da Bienal, na instalação do doutor Farah Jorge Farah. Lá ficou provado que a família Farah não entende a mulher como um todo.
A exposição é apresentada por Débora Secco que, por um milagre da conservação criogênica, conseguiu manter a forma de 2004 em 3004. A diferença é que agora as pessoas não tem pudores de dizer que ela está gorda como uma porca.
A exposição é abrilhantada por performances da Mulata Globeleza que, não dispondo das mesmas técnicas de conservação criogênica, é conhecida como Tia Nastácia Globeleza.
As antigas escolas de samba, instituições de respeito no carnaval, começam a sair paulatinamente dos guetos onde estavam confinadas e exibem os sinais que a passagem dos anos deixou.
Depois do renascimento da "Vai Vai Cagar", o paradeiro das outras escolas de samba foi sendo investigado e, aos poucos, elas foram sendo localizadas, recenseadas e recadastradas. Veja abaixo:

Nenê da Vila Matilde - depois de uma adolescência problemática, virou Balzaca da Vila Matilde e, viciada em Lexotan, mudou-se para a Califórnia. Vila Califórnia, Zona Sul de São Paulo.

Unidos de Vila Maria - Ficaram tanto tempo unidos que seus epitélios sofreram mutação e agora são conhecidos como Múltiplos Gêmeos Siameses da Vila Maria.

Rosas de Ouro - reuniram com os donos da Águia de Ouro e derreteram-se a fim de conseguir um pouco mais de lastro e de lustro. Não conseguiram e acabaram se vendendo para o primeiro sujeito com uma placa de "compro ouro" que apareceu.

Gaviões da Fiel - conseguiram, com sucesso, clonar o antigo dirigente do Corinthians, Vicente Matheus, a partir de uma cutícula conservada em formol. Clonaram duas vezes o mesmo sujeito entrando para a história como a primeira clonagem com back-up. Entretanto, ao saber da existência de um segundo Vicente Matheus, o primeiro entrou em depressão e tentou o suicídio, porém acabou matando seu irmão gêmeo.

Camisa Verde e Branco - depois de sucessivas lavadas, é hoje conhecida como camisa branca.

Império da Casa Verde - depois do plebiscito de 2874 é conhecida como República Federativa da Casa Verde. E ainda não resolveu o problema de infiltração que faz a casa, enquanto casa, ficar verde.

X-9 - Descobriu que, na verdade, nunca foi uma escola de samba e sim uma combinação vertical/horizontal de jogo de batalha naval. Deu água.

Unidos do Peruche - foi comprada por um grupo de milionários gaúchos e hoje é conhecida como Unidos Pelo Peru, tchê!

Mocidade Alegre - apesar de ter perdido a mocidade, continua alegre. Está a cara do Gugu Liberato e freqüenta as purpurinadas tardes de sábado da praça Benedito KY.

Leandro de Itaquera - Uniu-se a um conhecido cantor sertanejo e hoje faz sucesso em festas de rodeio como Leandro e Leonardo de Itaquera.

Barroca Zona Sul - sobreviveu bem ao período de inatividade, investiu capital, comprou a Companhia de Embananamento de Tráfego e hoje é conhecida como Barroca da Zona Azul, monopolizando o estacionamento em vias públicas.


Acadêmicos do Tucuruvi
- Eu mesmo comprei. Sempre quis ter uma escola de samba só pra mim. E, apesar de não deixar mais que ela saia na rua depois das dez da noite, mudei seu nome pra Acadêmicos do Tucori, viu?

Em 3004, Carnaval continua sendo isso aí:
todo mundo sabe que tinha samba,
todo mundo entende que tinha suor, mas...
porra...
Pra quê ouriço?

Chegou até aqui?
Então, na boa: esquece esse papo de escola de samba e vai ver Escola do Rock com o Jack Black, vai...
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