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23.3.09

Manifesto T&T





Talvez você não entenda o que a gente vai fazer.
Talvez até entenda,
mas não ache graça nenhuma.

Afinal, o que a gente faz é muito próximo de não fazer nada.

A gente não ensaia.

O que acontece é que a gente toca.

Nenhum de nós é excepcional.
(pelo menos não no sentido musical da coisa).
Acho que a gente nem tá a fim disso.
A gente não quer ser melhor que ninguém.
A gente só quer tocar.
Beber uma garrafa inteira de Dreher,
falar meio-quilo de merda e tocar.
O que é que vai sair, a gente nunca sabe.
A gente só tem que estar preparado.

No começo, foi difícil conviver com essa mania de surfar com o improvável
e de acreditar que, de qualquer jeito, tudo vai sair por acaso.

A gente quer ter um pouco mais de escolha,
ou então, não ter escolha nenhuma.

Se a gente não tá preso pela prisão,
a gente também não está preso pela liberdade.

A gente é escravo de um monte de coisa, a gente sabe,
mas sabe também que, apesar das coisas serem muitas,
a escravidão é uma só.

A gente só gosta de ficar aqui sentado, olhando pras barras da prisão.

A gente aqui,
elas lá
e o resto,
esse espaço que existe entre nós e as grades
é que é a verdadeira liberdade.

A gente pode não saber tocar a melhor música do mundo,
mas o jeito que a gente tocou,
se você ouviu,
era o melhor jeito que a gente podia tocar.

O jeito de agora,
o jeito de já.

Outra coisa é que a gente não toca cover
nem que a vaca tussa sua própria versão
de “bruce lee” em tupi-guarani ou maori.

Tem uma ou outra exceção,
mas é daquelas que só dão certo quando dão errado.
A gente talvez pudesse ganhar o Oscar de melhor canção,
mas dá uma preguiça que só...

A gente não quer nada disso,
a gente quer só tocar.
A gente quer aquela sensação
de que a letra encaixou com a música,
mesmo que depois de um pouco,
as duas se percam outra vez.

A gente quer aquelas músicas simples
que fazia pra pedir coisas quando era criança.

Uma vez, meu irmão e eu ficamos na sala,
cantando que a gente queria CAMARÃO no almoço.
Tava passando desenho na TV,
então a gente cantava baixinho.
"CA-MA-RÃO. EU QUERO CAMARÃO"
Aí, quando acabou o desenho,
alguma coisa já havia se perdido na cantoria
e a gente começou a cantar,
dessa vez mais alto,
que a gente queria "MA-CAR-RÃO".

Minha mãe,
que não tinha um lagostim que seja no freezer,
tinha uma gaveta cheia de todo tipo de macarrão.
Nem se deu o trabalho de perguntar
que tipo de macarrão que a gente queria.
Fez o que veio à mão.
E a gente teve que comer macarrão.

(25 anos depois...)

Um dia, num dos primeiros ensaios,
quando o Américo ainda tocava baixo,
o baixo dele desligou.
Eu tava ralando os dedos numa catarse da guitarra,
enquanto o Igor fodia a bateria dele.
Não me vinha nada na cabeça e,
também por uma questão de ética,
eu não ia começar a cantar sem ele estar na música.
De repente, o baixo ligou.
O Américo falou alguma coisa terminada com “ada”
e aquilo acendeu uma luz na minha cabeça,
que mandou minha boca cantar o que tinha entendido
“terremototorquemada-terremototorquemada”
umas oito bilhões de vezes sem respirar.
Quando a gente parava,
alguém dava três ou quatro toques secos
e a gente começava tudo de novo.
As cordas e peles resistiram bravamente,
mas minha garganta parecia pegar fogo
enquanto eu gritava aquelas palavras sem sentido.
Completamente sem sentido, não.
Porque terremoto é uma coisa que acontece de repente e,
quando acontece,
muda tudo.
Não tem regra,
rola porque é a hora de rolar.
Deus quis e foda-se.
E do mesmo “Deus quis e foda-se” veio Torquemada, o inquisidor.
Ninguém era melhor que ele
pra seguir regras às cegas e cagar com tudo.
Era um nome lindo.
As antíteses todas se beijando na boca,
o oito e o oitenta no mesmo lugar.
Claro que tinha que virar o nome da banda.

A gente acabou a música
e o Américo me perguntou:
“o que é que você tava cantando?”.
Eu respondi:
“Terremoto Torquemada”.
“Por quê?”, ele perguntou.
Eu pausei,
voltei a fita até o último momento antes do baixo entrar
e aquela luz aparecer pra mim.
Aí, eu perguntei:
“Na hora que o baixo desligou e você ligou ele de novo...
O que você disse que aconteceu?”.
Ele respondeu “Mau-contato na tomada”.
Mau-contato na tomada... Terremoto Toquemada.

Foi um erro de comunicação,
eu sei.
E é bem esse tipo de erro que a gente tá a fim de ser.
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20.3.09

Uma espécie de release: Terremoto Torquemada




Então, deixa eu contar como foi que o Terremoto Torquemada começou a existir.
Tem todo aquele negócio sobre o nome da banda, mas o que o Terremoto Torquemada fazia vinha de antes de haver um nome pra isso.
Eu sei porque fui eu quem começou a fazer essa merda e mais: quem deu pra essa merda o nome de Terremoto Torquemada fui eu.
Isso você pode ver num outro texto, que eu e não tem porquê ficar contando de novo.
Então, eu preciso que você lembre daquele Oscar em que Central do Brasil perdeu pra A Vida É Bela e a Fernandona perdeu o Oscar pra Gwyneth Paltrow. Naquela noite, depois de um encontro mágico daqueles dignos da série “There Must Na Angel” em que um homem me disse que o que faltava ao mundo era as pessoas dizerem “oi, vim te ver” às outras, vi a entrega dos prêmios na casa da Andréa Lago, junto com o Ricardinho.
O Ricardinho tinha acabado de solucionar um impasse.
Faz um tempo, o ex-baixista da banda dele, o Edu, tinha esquecido um violão elétrico empenado lá na casa dele. Ele ia se casar com a Fabiana e estava se livrando de todo tipo de entulho que havia na casa dos pais e ligou pro Edu.
“Aquele violão?”, perguntou o cara. “Pode queimar”.
O Ricardinho, aparentemente, achou que havia algo pior pra se fazer com um violão e deu o coitado de presente pra mim.
Era um arremedo.
Era quase uma guitarra.
Faltava uma corda e ela não sustentava afinação por nada nesse mundo.
Você afinava as cordas de cima e as cordas de baixo desafinavam.
Eram cordas de aço, duras que só.
Eu amei.
Tudo bem que ela não sustentasse a afinação nas cordas de baixo – eu não queria nada com elas.
Tudo bem que faltasse uma corda – só havia duas que eu realmente usava mesmo.
Tudo bem que ele fosse feio – eu mesmo não era lá grande coisa.
O violão ficou um tempo comigo, nos meus últimos dias na antiga sede da 01, na rua Romilda. Era uma casa grande e um lugar do caralho pra se trabalhar. O Zappa, que toca guitarra no Garbage Truck, e o Otávio, que tocou no Pork A Light, ficavam tentando me ensinar a tocar qualquer coisa. O Zappa conseguiu me adestrar pra que eu tocasse “Louie Louie” e, na primeira festa que teve na casa do Igor, toquei umas 96 mil versões diferentes com 96 mil letras diferentes. O Otávio me ensinou a tocar “Orgasmatron” que virou uma variação mais mongolóide que fui capaz de executar por horas a fio naquela maldita festa em que a gente tocou no quarto do Igor e o Marcelo – o vizinho de trás – disse que a gente tocava tão mal que a mulher dele tava com medo que satã viesse pessoalmente buscar o filho dela.
Terremoto Torquemada não é simplesmente uma banda.
É uma coisa que você pode fazer mesmo que não saiba tocar.
Simples assim: você pega seu dedo médio, levanta ele como se fosse mandar o Bush tomar no cu e encosta ele nas cordas de um jeito que ele alcance todas elas. Aí, você escolhe um lugar em que faça barulho e vai tocando o mais rápido que você pode. Você pode começar a fazer isso por qualquer motivo, mas um bom motivo é porque você não tem habilidade o bastante pra tocar o que querem que você toque.
Atenção: é essencial, pra isso, que você tenha um pacto com o baterista. Por que com o baterista? Porque se as mulheres são de Vênus e os homens são de Marte, bateristas são de Plutão e eles adoram fazer essas coisas que fazem muito barulho e pouco sentido.
Quando o barulho da guitarra parecer alguma coisa como ‘gan-gan-dã-ran-gan-gan-dã-ran-gan-gan-dã-ran-gan-gan-dã-ran-gan-gan-dã-ran”, tente entrar no ritmo gritando as palavras “terremoto-torquemada-terremoto-torquemada-terremoto-torquemada- terremoto-torquemada”.
Se não der pra entrar no ritmo, pode ser fora do ritmo também. Mas entre.
Entre porque Terremoto Torquemada é isso aí.
Mais que a democratização da música: a SIMIALIZAÇÃO da música.
Pra que, quando os donos do circo resolvam se ausentar para furunfar com a mulher barbada, os macacos estejam a postos pra assumir o comando.
Mesmo que só por uns instantes.
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14.3.09

vamos?



(foto que o Leco tirou de mim, pulando alto em Rio das Ostras - RJ - no dia que ficou conhecido como "o dia em que Rio das Ostras ganhou mais uma ostra")


Tava saindo da rádio, pronto pra levar uns 40 minutos de chuva no lombo e, no elevador, toca o telefone. “Calu Celu”, aparece escrito nele. “Tô aqui no Gazeta. Quando você sair, passa aqui”.
Coisa mais fácil, impossível: era só atravessar a rua.
Daí, a Calu foi comigo pra casa e a gente foi conversando sobre o Bruno, irmão dela e, consequentemente, meu irmão também. A gente desceu por trás do MASP e veio pela Frei Caneca e veio aqui pra casa. O plano era pegar algum filme, levar pra casa dela e assitir, mas assim que ela pegou pra checar os e-mails dela, eu me botei a arrumar a estante de livros e, quando a gente foi ver, já era quase meia noite.
Resolvi dar uma passada nas gravações do ensaio de quinta com o Terremoto Torquemada, que foi excepcional. Começou que liguei pro Igor pra ver se não tinha igrismo¹ no ensaio – e tinha. O puto estava em Minas Gerais e, se eu não tivesse metido na cabeça que seria bom falar com ele pra confirmar, só ficaríamos sabendo disso na hora de botar pra foder. Acabou que, na quinta aparecemos só o Gui, o Murilo e eu. Nem o Manel foi. Por outro lado, o Murilo chamou a batera pra ele, catou a prataria toda do Igor emprestada e ainda trouxe o baixo do Manel pra que eu tocasse. O show² foi do caralho e a gente conseguiu tirar uma pá de música que precisava tirar e rendeu pra caralho. A merda é que a gravação ficou uma bosta porque o microfone abriu o bico com a barulheira que a gente tava fazendo e tem horas que a gente parece uma banda de dub-psicodélico e Deus me livre o que isso significa.
Ouvindo aqui com a Calu, até vieram algumas idéias pra tentar salvar a brincadeira, mas não sei se rola não. Vamos ver.
Só que aí, pouco depois da meia noite, o telefone toca.

Cara: o Leco!

O Leco, o holandês voador, meu amigo querido e parceiro de Ecomotion, liga pra mim e me diz que tá na Augusta e que quer tomar uma cerveja. Estão ele e a esposa, a Andréa, que há muito tempo eu vinha querendo conhecer.
O Leco!
O LECO!!
Fiquei o ano passado todo querendo tomar uma cerveja com ele e nunca dava. Duas vezes a gente combinou, duas vezes eu dei cano, as duas vezes por motivos justos. Mesmo assim, por mais que eu estivesse me sentindo culpado por não ter ido nessas duas vezes, não havia outra pessoa com quem eu desejasse mais dividir uma cerveja.
Bom, pelo menos não havia outra pessoa – em um raio de menos de 400km de casa – com quem eu desejasse mais dividir uma cerveja.
Coisa de meia hora e ele tava aqui. Ligou quando chegou, mas eu tava cheio de coisa na mão e desliguei o telefone por acidente. Não era coisa pra se preocupar. Foi só olhar pela janela e ele já estava saindo do carro. Assobiei e ele olhou pra cima. Berrei que ia descendo, no melhor estilo dos cortiços da Santa Cecília.
Daí, a gente desceu e foi pra pizzaria lá embaixo.
Pedimos pizza, pedimos cerveja e o papo foi embora.
A gente lembrou das merdas que fez no Ecomotion e nem foi proque a gente é nostálgico, mas porque a gente começava a rir e tanto a Calu quanto a Andréa queriam saber o motivo. Aí, a gente contava daquele jeito que a gente conta as coisas – um vai levando a história principal e outro vai dando exemplos e lembrando de detalhes, cada vez mais detalhes.
O Leco é o melhor fotógrafo com quem eu trabalhei. E olha que eu nem trabalhei com ele. A gente só trabalhou junto na mesma pauta, mas, como a gente tava sempre fazendo merda junto, falando merda junto e se metendo em todos os lugares pra onde a gente nunca era chamado, a coisa rendeu.
Tanto que rendeu que a conversa foi produtiva e ainda acho que a gente vai trabalhar junto pra caralho e, na boa, a gente trabalha como se brincasse.
No fim, botaram a gente pra fora da pizzaria quando deu duas horas e, depois da gente ter terminado (terminado?) a conversa em pé na porta de casa, fui a pé com a Calu até a porta do prédio dela.
Quando cheguei aqui tinham quatro carros de polícia parados na porta do prédio e, ao que parece, era um campeonato pra ver quem tinha achado a melhor coxinha nos botecos de São Paulo.
Eu ouvia Batone e queria que você tivesse estado comigo o tempo todo




Notas:
- ¹ “igrismo” – capacidade pra fazer merda própria de Igor Cizauskas.
- ² “show” – por convenção, diz-se que Terremoto Torquemada não ensaia, faz “show”.
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6.3.09

27.2.09

Planos de turnê Mundial (ou Terremoto Torquemada Do America)






Igor,
tomei a liberdade de marcar dois shows do Terremoto Torquemada depois da missa de domingo na Igreja Batista Cansada de Guerra, em Houston, Texas.
Precisamos da confirmação dos seguintes membros da banda para agendarmos outras datas para uma provável turnê americana – A “Ninguém Mandou Não Assinar o Tratado de Kyoto, seus idioto! Tour”.
Segue:

- O Neto vai?

Eu acho que ele é a pessoa ideal pra dirigir o busão em alta velocidade por aquelas highways que passam em Medo e Delírio.

- O Douglas vai?

Ele pode tirar fotos da banda berrando "calaboca batista" na igreja se bem que, ao contrário do que você disse, igor, não acho que se a gente berrar bem alto saia um balãozinho com a frase na foto.

- O Du (Manuel) vai?
Alguém precisa apanhar quando a gente não tiver em quem bater. A Marília sugeriu que, caso a gente não possa contar com o Du, que a gente use a Débora (Porkilita).

- O Emmanuel vai?
Aquela música em que a gente berra "filhadaputa" 672 vezes seguidas, na minha opinião, ficou outra coisa com os backing vocals do cara.

- O Panissi vai?
Você não conhece o cara, mas ele é nosso consultor para mentiras na internet, muito embora nós só falemos a verdade.

- O Rodrigo vai?
Alguém tem que colar aquelas galinhas pretas em todo canto dos EUA.

- O Gui Koreeda vai?
Ele precisa ir. Sem ele a gente não tem a manha de tocar aquela música que a gente deu o nome de "todas as músicas do mundo"

- O Felipe vai?
Acho que a gente precisa dele pra tocar aquela música que você odeia ("eu me perdi") e, depois, ficar afinando a guitarra o resto do show e voltar no fim, cantando "a balada do messiânica".

- o Américo vai?
Ele é membro fundador.
A gente não pode ir pra América sem o Américo.

- o Paxá vai?
Ele já disse que vai, mas só se a gente prometer que não vai divulgar a foto dele cagando. clique aqui (www.paxacagando.com.br)

- a Mona vai?
ela é a única fã que nunca faltou em nenhum ensaio, a gente já fez músicas pra ela e ela é a verdadeira musa da banda. mas eu não sei.... se ela fosse humana, não soltasse aqueles peidos fedidos e parasse de latir para os outros fãs, eu acharia legal. mas não sei.


- O Murilo vai?

A gente precisa dele. Não sei pro quê ainda, mas a gente precisa dele.

- O Homem-Pássaro vai?
Só ele sabe qual é aquela nota que, quando a gaita acerta, derruba gente no estúdio. Voltar, ele volta voando.

- O Diego vai?
Ele faz os melhores brigadeiros do mundo. Mas pede pra ele não ficar me perguntando se eu lembro como toca aquela música que a gente tocou aquele dia, que eu não sei de que porra ele tá falando, ok?


- e, por fim, a Marília (minha irmã) vai.
essa eu nem pergunto. ela tem que ir. sem ela, não existe terremoto torquemada. e é ela que vai convencer o Manco a tocar teclado. (ela diz que vai)



aguardo resposta.
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Ain't It Fun?





Vou te falar uma coisa e talvez você não acredite, mas eu toco com a melhor banda do mundo. Foda-se os Ramones e pau no cu do Motorhead. Se você tem uma banda e acha que sua banda é pior que essas duas, você que se foda, porque você não merece estar numa banda. Mijaria no seu túmulo o primeiro mijo da manhã.

A gente marcou de ensaiar hoje.

Por pouco, a coisa não virava show, porque a gente ia tocar no palco do Espaço Impróprio, lá na Antônia de Queirós, que é comadre da tia Augusta. Pensei bem e achei que nem era o caso de divulgar. Vamos ver o que ia rolar.
Mesmo porque o Terremoto Torquemada é uma banda que trabalha com o gerador de improbabilidade infinita sempre e sempre ligado e operando no vermelho.
Um dos motivos disso é o Igor. Ele veio aqui em casa. Saiu agora, faz pouco.
Faltou cerveja, é verdade. Mas aconteceu que a gente ia sair pra tomar, mas resolveu ficar e conversar. E ouvir música. E fazer a primeira reunião de repertório do Terremoto Torquemada.
A primeira reunião de repertório do Terremoto Torquemada foi assim: a gente olhou pra lista de músicas do único ensaio em que a gente fez questão de dar nome pras músicas que a gente sempre faz e, também, praquelas que a gente fez ali, de improviso. Delas todas, uma única tinha anotação. Em “Iracema”, tá escrito do lado que o Manel sabe a base. As outras ou todo mundo sabe ou ninguém sabe. Eu tenho lá minhas dúvidas. O Igor garantiu que, em pelo menos cinco delas, ele sabia a parte dele: “é um barulho que não acaba mais e segue direto”.
Sério: senti um puta orgulho do baterista que toca comigo nessa hora.
Restava saber porque o ensaio/show não tinha rolado.
O Igor disse que era pra eu ligar pro Manel e eu liguei. Ele que sabe a base de “Iracema” – e se não sabia, lembrou, porque, mostrei pra ele outra vez quando a gente saiu pra beber, na segunda de carnaval. O Manel atendeu e perguntou o que eu tava ouvindo. Era Bruce Springsteen com Jerry Lee Lewis – “Pink Cadillac”. Fingi que nem tinha falado com o Igor e disse: “e o show?”. E ele: “Não vai rolar. Não consegui falar com o cara”. O cara, no caso, é o dono do Espaço Impróprio – o lugar foi assaltado esses dias e eles estão refazendo tudo. Por isso, não rolou.
O Igor fez sinal pra mim. “Fala pra ver se ele marca outro amanhã”. Falei. O Manel disse que, agora, ele não ia conseguir falar com o dono do estúdio, mas que amanhã, na hora do almoço, ele passava lá e via com o cara se rolava da gente tocar de noite. Chamei pra vir beber com a gente e ele disse que tava de bode vendo TV. Desliguei.
Repeti pro Igor o que o Manel disse e ele rachou de rir: “Foi a mesma coisa que esse filho da puta disse pra mim! É só esse puto descer a rua da casa dele na hora do almoço e falar com o cara. Ele vai até lá e vai bater na porta. Se o cara atender, tem show. Senão, não tem”.
Fiquei me sentindo meio culpado porque eu xinguei o Igor pra caralho porque é aquela coisa: mulher são de Vênus, homens são de Marte e bateristas são de Plutão. O Igor já fez tanta merda que valeu a pena ter cunhado o termo “igrismo”.
Vou dar três exemplos e encerrar o assunto:

- Igrismo é quando você marca um show num dia, em nenhum lugar fora da sua cabeça, comunica todo mundo e não vai. E quando te ligam e perguntam: “Você esqueceu?” e você replica com um “Esqueci o quê?”
- Igrismo é quando você começa a dançar no meio de um luau e chuta uma lata de cerveja, só porque ela está na sua frente, só que ela está cheia, seu chute pega em cheio e ela passa – zunindo – entre duas mulheres. Uma delas, grávida. A outra, minha irmã.
- Existe uma comunidade sobre isso no orkut, que se chama “Igrismo – mito e realidade” . O tópico “Quem levou cano no jogo da Copa?” é bastante esclarecedor.

Um baterista Igrista e um baixista autista.
Quem precisa de mais?

É tipo isso.
Por isso que o Japonês foi pra casa puto e nem precisava.
Se o Igor tivesse trazido o tamborzinho, a gente tinha gravado outro acústico.
As coisas funcionam mais ou menos assim.
É um jeito parecido com não funcionar.
Mas funciona.
Sério: funciona.

Aí, a gente ouviu um som que a gente fez, totalmente de improviso, no aniversário do Igor, em 2006. Começa só eu na guitarra e ele na bateria, depois chega minha irmã, vem o Japonês, o Diego fica querendo que eu lembre “da música que a gente fez lá em cima” e eu praticamente tenho que desenhar pra ele que não, eu não sei de que porra ele tá falando. Depois, tem uma música que fica do caralho, mas a gente tem que parar porque o Igor fica preso nas próprias calças. Eu não lembro como isso acontece, mas o nome da música ficou sendo “fiquei preso nas minhas próprias calças”.
E tem o melhor momento de todos, que é quando a mãe do Igor vem brigar com ele porque a gente tá tocando alto demais e que os vizinhos vão reclamar. A gente gravou a discussão toda, enquanto as cordas eram afinadas. Deixa qualquer um maluco.
Não queria postar sem antes mostrar pra ele. E ele apontou uma coisa – as músicas precisam ser colocadas exatamente na mesma ordem que elas forem tocadas. O certo mesmo era botar o ensaio todo, brutão mesmo. Mas aí, ninguém merece se não pedir. Por isso, se você for esse tipo de maluco e se sentir preparado, peça, por favor. Nós não somos como os outros. Nós gostamos de você.

Depois, pra continuar no clima retardado, assistimos – de cabo à rabo – o show que os Cramps fizeram no Hospital Napa, pra doentes mentais. Eu mesmo só tinha visto o momento que eles tocavam “The Way I Walk”. Se você não viu, eu recomendo até a última raspa de tutano dos meus ossos. Aquilo sim é rock’n’roll. E nada mais. É o Lux Interior largando o microfone no chão e os birutas pegando pra gritar.

Antes que o Igor chegasse, comecei a gravar uma mixtape, que começava com “Ain’t It Fun?”, na versão do Rocket From The Tombs e eu queria dizer outra coisa, completamente diferente do que agora eu penso.
No começo, queria dizer um “Olha que legal que é”, no sentido irônico e cruel.
Aí, quando eu ouvi a gente tocando, quando o celular brilhou com aquela luz azul e me disse “a gente estava falando de você”, quando, hoje à tarde, o céu ficou inteiro cor-de-rosa e o mundo pareceu outro, eu pensei do mesmo jeito que eu pensei agora.

“Cara.... Não é legal pra caralho tudo isso?”
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9.2.09

Singlezinho safado do Terremoto Torquemada



o ano passado foi um ano morto pro Terremoto Torquemada.
O motivo é simples: todo mundo tava fodido de trampo e ninguém tinha muito tempo de ensaiar. No primeiro semestre, era o Gui que - por sua enorme competência em fazer tudo que é preciso fazer com um capricho resoluto - acabou sendo abduzido por uma empresa de incompetentes que tirava o sangue dele e a gente nunca podia ensaiar.
Depois, foi minha vez.
Comecei a trabalhar como locutor, logo de manhã e não podia mais ser o "cara que grita as letras".
Ninguém paga um locutor pra ficar rouco todas as sextas de manhã.

Daí, veio a idéia que ninguém gostou, ms era óbvio que era o único caminho que a gente tinha pra seguir.
Principalmente depois que o Luiz vendeu o estúdio da Augusta onde a gente vivia ensaiando. Lá a gente tinha liberdade que não tinha em nenhum outro lugar a não ser na lavanderia da casa do igor, quando a gente tocava lá no meio da semana.

A idéia era: vamos fazer acústico.

Tentamos, tentamos e tentamos e nunca funcionava.
Precisamos estar os três: o Gui, o Igor e eu.

Ontem, enfim, rolou.
Veio todo mundo aqui em casa e a gente ficou ouvindo música e falando sobre tudo.

Aí, em 13 minutos de gravação, a gente fez 5 músicas.
Todas elas novas.
Todas elas toscas.
E todas, evidentemente, gravadas em um único take - porque Terremoto Torquemada, quando faz dois takes, faz duas músicas.
Uma delas a gente achou por bem deixar proibida, porque não é bom esperar demais do bom senso e nem do senso de humor das pessoas.

A Ju, esposa do Igor, além de ajudar nos backings, também fez as fotos.
A capa, inclusive, é foto dela com a minha tosca arte.

As músicas são:
- Little Marie -
- Roda o Baleiro - (nada a ver com o Zeca Baleiro, embora a idéia de rodar ele pelos pés me agrade um bocado, mas é uma versão memória fraca daquele jingle da bala de leite kids)
- Canção do Cagão - afinal, improvisar a letra com escatologia é muito mais fácil.
- Perdi Meu Amor (no Tsunami) - podia ter ficado melhor se a gente tivesse pelo menos imaginado como ela ficaria antes de começar a gravar, mas o som das risadas e os backings desencontrados são o charme dessa perolinha do humor negro nunca dantes registrada.

quer baixar?
aqui.
http://www.4shared.com/file/85258339/c00ce5cd/terremoto_torquemada_seated_and_unplugged.html
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18.7.08

NINGUÉM FODE COM O TERREMOTO TORQUEMADA.



(texto originalmente postado em 18/01/2005, no blog antigo)

Tinha passado um pouco das cinco da tarde e a chuva já havia passado bastante do limite. O som continuava rolando na festa do Américo e meia dúzia de gatos pingados ainda se contorcia debaixo dos graves que saíam das caixas. A festa tava praticamente acabada e a gente estava desistindo de fazer o primeiro show do Terremoto Torquemada na represa de Guarapiranga.
Foi quando minha irmã, que tinha ido chamar o seu Mário (Bros) e seu tratorzinho vermelho, despontou com seu carro na prainha.
Em seguida, veio o tratorzinho vermelho do seu Mário (Bros)...
Logo depois, a Saveiro do Igor, com uma lona amarela, protegendo a bateria da chuva.
A bateria que a gente usa – é bom que se diga – é lendária.
Foi um presente do Paxá, o mentor do Terremoto Torquemada, pai do Américo e baterista fenomenal que tocou com todo mundo que foi alguém nos primórdios do rock brazuca.
O Kiss tem “God Gave Rock’n’Roll To You”.
A gente teria que ter um “Paxá Gave Rock’n’Roll To You”, mas... você sabe...
... músicas com notas demais não são o forte do Terremoto Torquemada.
Eu não sei se o Igor já trouxe a bateria montada, mas, quando eu dei por mim, já estava tudo pronto.
“Tudo pronto?”, eu perguntei.
“Tudo pronto”, respondeu o Igor.
O Américo balançou a cabeça e riu com o canto da boca.
Estamos em 2005 e, neste ano, faz pelo menos 15 anos que a gente faz merda junto – todo tipo de merda – e, se você tivesse passado parte desses 15 anos convivendo com esses dois como eu convivi, você saberia na hora. Aquele sorriso do Américo diz, sem palavras: “a gente vai fazer merda”.
A gente fez merda.
No começo, a gente até que demorou pra se encontrar e – pra dizer a verdade – a gente nem sabia que música a gente tava tocando. Geralmente, quando a gente não sabe que música a gente ta toicando, essa música acaba virando o tema de Terremoto Torquemada. Acho que fez bem a gente ter postado a letra aqui, porque quando as pessoas perceberam que era aquilo, todo mundo começou a gritar: “TERREMOTO... TORQUEMADA”.
Lembro de ter visto o Brisa, um sujeito de camisa verde que dançou praticamente por toda a festa com um esgar maluco no rosto, ter olhado pra gente e balançado a cabeça em aprovação, antes de desaparecer em desabalada carreira em direção às águas barrentas da Guarapiranga. Acho que ele atravessou nadando, porque eu não lembro de ter visto o sujeito voltar.
Depois, a gente fez o que o Terremoto Torquemada faz: inventar o nome da música e depois tocar. A gente olhava um pro outro e ria. A gente tava fazendo merda. Daí, veio o nome da próxima música: “Você caga grosso/ Eu cago no chão”, que eu não tive a manha de cantar além do primeiro refrão, mas acabou gerando uma microfonia do cão – que é o que fode com todo show, menos o nosso. Se a chuva não fodeu, se NÓS MESMOS não fodemos...
NINGUÉM FODE COM O TERREMOTO TORQUEMADA.
Nem Deus,
Nem o Diabo.
Nem uma chuvinha de merda.
Os trovões faziam o céu tremer quando a Má subiu ao palco e foi com ela que a gente mandou ver em “No Cu Pardal”, que fechou o show.
Uma coisa é certa: as pessoas podem não ter entendido porque a banda se chama Torquemada, mas a parte do TERREMOTO ficou bem clara!

TESTEMUNHAS OCULARES

Há pouco tempo, descobri que JAM session, era uma abreviação de Jazz After Midnight Session. O fato é que para mim, sempre significou uma reunião de um bando de gente que subia num palco qualquer para tocar o que quisesse, sem que aquele som fizesse necessariamente um sentido individual, mas que no geral tinha lá a sua harmonia. Isso dito, devo dizer que a porra do Terremoto Torquemada destruiu qualquer tipo de ideal harmonioso quando começou a tocar, no último domingo, lá na represa.
Quem tava lá, e eram poucos, viu algo no mínimo bizarro. Os caras (incluindo aí os que assistiam) estavam todos chapados e começaram a fazer barulho sem que aquilo fosse necessariamente música. Lembro que os caras começaram com o já famoso (?) "tema de terremoto torquemada" e logo emendaram com "bruce lee". O resto eu não lembro, afinal foi tudo improvisado ali, na hora.
Ó, não dá para dizer que foi o show da minha vida, afinal tava chovendo pra cacete e lembro que cheguei a meditar que a porra do tsunami que aconteceu lá na Ásia e destruiu tudo começou com uma merda de um terremoto. E daí olhei para frente e me liguei que eu tava olhando exatamente isso... terremoto fazendo merda! Mas com estilo, claro!
Ninguém mandou ir pra casa... perdeu!

(Marcelo Forlani)

Quem perdeu se fodeu, só isso que posso dizer do show do TT.
Tinha pouca gente, mas não importa a quantidade e sim a qualidade!
O Américo parecia um doente tocando baixo, era como se o rapaz estivesse sobre o encanto de alguma serpente, e olha que era a festa aniversário do cara.
O Fernando, sem comentários, acha que guitarra é “tauba” de lavar roupa, senta a mão sem dó. Mesmo faltando uma corda no pseudo-instrumento, o barulho era idêntico ao de uma lixadeira, daquelas que meu avô usava para acertar as ripas do galinheiro. Mesmo chovendo pra caralho o TT não abriu mão de sua performance tosca e grosseira. O Igor quase caiu do banquinho da batera por duas vezes. Será que ele escorregou na enchurrada?!
No final do show, depois de ver um louco alucinado comedor de cogumelos fazer merda o tempo todo, minha amiguinha Marília, irmã do Maradona, tocou guitarra e manteve o nível exagerado de ruído!
Comentários finais: Fernando Tucori, seu demente, cuidado para não engolir o microfone!
TT – puta show podreira
(Paulo Zappa Neto)
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