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27.2.09

Ain't It Fun?





Vou te falar uma coisa e talvez você não acredite, mas eu toco com a melhor banda do mundo. Foda-se os Ramones e pau no cu do Motorhead. Se você tem uma banda e acha que sua banda é pior que essas duas, você que se foda, porque você não merece estar numa banda. Mijaria no seu túmulo o primeiro mijo da manhã.

A gente marcou de ensaiar hoje.

Por pouco, a coisa não virava show, porque a gente ia tocar no palco do Espaço Impróprio, lá na Antônia de Queirós, que é comadre da tia Augusta. Pensei bem e achei que nem era o caso de divulgar. Vamos ver o que ia rolar.
Mesmo porque o Terremoto Torquemada é uma banda que trabalha com o gerador de improbabilidade infinita sempre e sempre ligado e operando no vermelho.
Um dos motivos disso é o Igor. Ele veio aqui em casa. Saiu agora, faz pouco.
Faltou cerveja, é verdade. Mas aconteceu que a gente ia sair pra tomar, mas resolveu ficar e conversar. E ouvir música. E fazer a primeira reunião de repertório do Terremoto Torquemada.
A primeira reunião de repertório do Terremoto Torquemada foi assim: a gente olhou pra lista de músicas do único ensaio em que a gente fez questão de dar nome pras músicas que a gente sempre faz e, também, praquelas que a gente fez ali, de improviso. Delas todas, uma única tinha anotação. Em “Iracema”, tá escrito do lado que o Manel sabe a base. As outras ou todo mundo sabe ou ninguém sabe. Eu tenho lá minhas dúvidas. O Igor garantiu que, em pelo menos cinco delas, ele sabia a parte dele: “é um barulho que não acaba mais e segue direto”.
Sério: senti um puta orgulho do baterista que toca comigo nessa hora.
Restava saber porque o ensaio/show não tinha rolado.
O Igor disse que era pra eu ligar pro Manel e eu liguei. Ele que sabe a base de “Iracema” – e se não sabia, lembrou, porque, mostrei pra ele outra vez quando a gente saiu pra beber, na segunda de carnaval. O Manel atendeu e perguntou o que eu tava ouvindo. Era Bruce Springsteen com Jerry Lee Lewis – “Pink Cadillac”. Fingi que nem tinha falado com o Igor e disse: “e o show?”. E ele: “Não vai rolar. Não consegui falar com o cara”. O cara, no caso, é o dono do Espaço Impróprio – o lugar foi assaltado esses dias e eles estão refazendo tudo. Por isso, não rolou.
O Igor fez sinal pra mim. “Fala pra ver se ele marca outro amanhã”. Falei. O Manel disse que, agora, ele não ia conseguir falar com o dono do estúdio, mas que amanhã, na hora do almoço, ele passava lá e via com o cara se rolava da gente tocar de noite. Chamei pra vir beber com a gente e ele disse que tava de bode vendo TV. Desliguei.
Repeti pro Igor o que o Manel disse e ele rachou de rir: “Foi a mesma coisa que esse filho da puta disse pra mim! É só esse puto descer a rua da casa dele na hora do almoço e falar com o cara. Ele vai até lá e vai bater na porta. Se o cara atender, tem show. Senão, não tem”.
Fiquei me sentindo meio culpado porque eu xinguei o Igor pra caralho porque é aquela coisa: mulher são de Vênus, homens são de Marte e bateristas são de Plutão. O Igor já fez tanta merda que valeu a pena ter cunhado o termo “igrismo”.
Vou dar três exemplos e encerrar o assunto:

- Igrismo é quando você marca um show num dia, em nenhum lugar fora da sua cabeça, comunica todo mundo e não vai. E quando te ligam e perguntam: “Você esqueceu?” e você replica com um “Esqueci o quê?”
- Igrismo é quando você começa a dançar no meio de um luau e chuta uma lata de cerveja, só porque ela está na sua frente, só que ela está cheia, seu chute pega em cheio e ela passa – zunindo – entre duas mulheres. Uma delas, grávida. A outra, minha irmã.
- Existe uma comunidade sobre isso no orkut, que se chama “Igrismo – mito e realidade” . O tópico “Quem levou cano no jogo da Copa?” é bastante esclarecedor.

Um baterista Igrista e um baixista autista.
Quem precisa de mais?

É tipo isso.
Por isso que o Japonês foi pra casa puto e nem precisava.
Se o Igor tivesse trazido o tamborzinho, a gente tinha gravado outro acústico.
As coisas funcionam mais ou menos assim.
É um jeito parecido com não funcionar.
Mas funciona.
Sério: funciona.

Aí, a gente ouviu um som que a gente fez, totalmente de improviso, no aniversário do Igor, em 2006. Começa só eu na guitarra e ele na bateria, depois chega minha irmã, vem o Japonês, o Diego fica querendo que eu lembre “da música que a gente fez lá em cima” e eu praticamente tenho que desenhar pra ele que não, eu não sei de que porra ele tá falando. Depois, tem uma música que fica do caralho, mas a gente tem que parar porque o Igor fica preso nas próprias calças. Eu não lembro como isso acontece, mas o nome da música ficou sendo “fiquei preso nas minhas próprias calças”.
E tem o melhor momento de todos, que é quando a mãe do Igor vem brigar com ele porque a gente tá tocando alto demais e que os vizinhos vão reclamar. A gente gravou a discussão toda, enquanto as cordas eram afinadas. Deixa qualquer um maluco.
Não queria postar sem antes mostrar pra ele. E ele apontou uma coisa – as músicas precisam ser colocadas exatamente na mesma ordem que elas forem tocadas. O certo mesmo era botar o ensaio todo, brutão mesmo. Mas aí, ninguém merece se não pedir. Por isso, se você for esse tipo de maluco e se sentir preparado, peça, por favor. Nós não somos como os outros. Nós gostamos de você.

Depois, pra continuar no clima retardado, assistimos – de cabo à rabo – o show que os Cramps fizeram no Hospital Napa, pra doentes mentais. Eu mesmo só tinha visto o momento que eles tocavam “The Way I Walk”. Se você não viu, eu recomendo até a última raspa de tutano dos meus ossos. Aquilo sim é rock’n’roll. E nada mais. É o Lux Interior largando o microfone no chão e os birutas pegando pra gritar.

Antes que o Igor chegasse, comecei a gravar uma mixtape, que começava com “Ain’t It Fun?”, na versão do Rocket From The Tombs e eu queria dizer outra coisa, completamente diferente do que agora eu penso.
No começo, queria dizer um “Olha que legal que é”, no sentido irônico e cruel.
Aí, quando eu ouvi a gente tocando, quando o celular brilhou com aquela luz azul e me disse “a gente estava falando de você”, quando, hoje à tarde, o céu ficou inteiro cor-de-rosa e o mundo pareceu outro, eu pensei do mesmo jeito que eu pensei agora.

“Cara.... Não é legal pra caralho tudo isso?”
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