Como não estragar tudo, por Toby Litt
Algumas regras para não acabar com sua consistência artística antes da hora – se é que isso é possível – de acordo com o escritor Toby Litt, autor de “I Play Drums In A Band Called OK”.
Toby Litt é um escritor que, no próximo dia 6 de março, lança seu novo livro “I Play The Drums In A Band Called Okay. No último dia 17, porém, ele escreveu um artigo delicioso com o título de “I Can’t Stand Losing You” (não suporto perder você) no jornal The Observer em que ele faz observações sobre os motivos que fazem um verdadeiro deus do rock se tornar motivo de piada um dia.
“Jagger, McCartney, Clapton e Bowie. Esses caras foram deuses um dia. Ou, no caso de Clapton, Deus”, é assim que ele começa a falar de pessoas cujos discos mudaram o mundo e cujas entrevistas explicaram porque o mundo precisava ser mudado e, depois, perderam a mão. Tornaram-se constrangedores, previsíveis e bobos-bobos-bobos. “Pior ainda, eles começaram a fazer os dentes da minha namorada doer”. O que é que acontece com essas pessoas? Por que os astros do rock perdem a mão e o que exatamente é “a mão”?
Carpinteiros não têm e perdem a mão a não ser que a coisa seja literal e, aí, não é pra brincadeira. Porém, o fato é que, na maioria dos empregos o que acontece é que, quanto mais se trabalha, mais se aprende o que se tem que fazer e é sempre uma curva ascendente daqui até a aposentadoria, não é verdade?
Toby diz que, depois de anos de desapontamento, desilusão e arrependimento, chegou a um certo número de teorias que espera chegar perto da resposta.Ele também aproveita e pede desculpas se fez com que parecesse que ele falava apenas da geração dos sixties e reforça que os ídolos da geração dele - Morrissey, Michael Stipe, Brett Anderson, Noel Gallagher – merecem o mesmo ataque.
A teoria do “Eu poderia falar, falar e falar até eu morrer”
Para ele, quanto mais os artistas falam, mais eles se repetem. Por isso, as entrevistas são um problema. Ele conta de quando viu Paul McCartney na TV, falando sobre John Lennon e repetindo palavra por palavra a resposta de uma outra entrevista e ter pensado “você não é mais o cara que escreveu todas aquelas letras, é? Você é só um cara”
Outra coisa sobre as entrevistas é que elas fazem com que os músicos sejam obrigados a se explicar. Isso faz com que eles pensem a respeito deles mesmos o que, provavelmente, não é uma boa idéia.
A teoria do “Você já ouviu falar em se vender?”
É a taoria que diz que, sim, existe aquela coisa de se vender. Um cara chega com uma maleta, te pega pra assinar um contrato, te aprta a mão, te dá um cheque gigante e leva sua alma pra sempre quando se vai.
A teoria do “Um momento de verdadeira cagada põe tudo a perder”
É a teoria do se você fodeu com tudo uma vez, você fodeu com tudo pra sempre. O exemplo dele é o David Bowie com o Tin Machine. Para contra-atacar a teoria que ele mesmo criou, Toby acha que a contra-teoria a essa teoria é Bowie e “Tha Laughing Gnome”. Quer dizer que você não pode dizer que Bowie é um cara legal porque você sabe que ele é capaz de fazer algo como o Tin Machine. Por outro lado, ele conseguiu ser legal mesmo depois de ter feito “The Laughing Gnome”, portanto, espere qualquer coisa. Pelo menos do Bowie. .
Outra coisa que ele acrescenta aqui é que, depois que se adquire um certo nível de virtuosismo técnico, tocar rock’n’roll é tão desafiador quanto sentar no quarto e dedilhar as escalas maiores. Não é de se espantar que certos caras pareçam entediados e soem entediados – é porque eles ESTÃO entediados.
A teoria do “Rock é dos pintudos”
É uma teoria que meio que se explica. Conforme as partes vão ficando flácidas, todo o resto vai ficando também.
A teoria do “White Lines (Don't Do It) / Needle and the Damage Done”.
Pode ser explicada por Noel Gallagher que declarou que você até pode fazer um bom disco usando cocaína, mas que é só. Não existe muito além disso. Tudo bem que Noel tenha dado também algumas declarações estapafúrdias, mas, diz Toby, ele entende de cocaína e de fazer um bom disco. “Ok, um bom disco e três quartos”.
Estranhamente, a heroína não parece ter este efeito tão rápido. Crack, por outro lado, acaba com você antes da metade.
A teoria do “O ódio é uma energia”
Se a sua principal motivação para fazer música é que ninguém te ama, ninguém te quer, todo mundo te odeia, você fica em casa escrevendo seus riffs. O problema vem quando, depois de tudo, um tanto razoável de pessoas passa a amar você. Então, cria-se um círculo vicioso, que Toby chama de “My Chemical Romance Impasse” em que as afirmações de ninguém-me-ama acabam soando ocas demais quando tudo que você recebe dos seus fãs é adoração sem limites.
A teoria do “pra dizer a verdade, ser internacionalmente famoso por tanto tempo não é assim tão bom”
O fato é que a possibilidade de você virar cuzão é praticamente inevitável uma vez que se tem tantas pessoas achando que você é o máximo.
O “Argumento Malcolm Maclaren”
A música folk tem a tradição de permanecer fiel a alguma coisa. O rock, por outro lado, sempre foi meio de se travestir, desde que nasceu. Esperar que o rock seja fiel até a morte é se enganar completamente a respeito dele. Bruce Springsteen faz isso e fez gloriosamente. Mas ele sempre teve mais a natureza de um fã de rock do que um verdadeiro astro.
A “Contra-teoria Lemmy” ou a teoria do “se não está quebrado, não tente consertar”
É uma boa teoria, só que é conservadora demais pra se basear toda uma carreira. Contra ela, há a contra-teoria de Neil Young que compreende o seguinte: escute o disco “Greendale”.
Teoria Final: “A teoria Excuse Me While I Kiss They Sky”
Fazer música boa, rock bom, como fazer qualquer outro tipo de arte, é incrivelmente difícil e requer um nível de intensidade que a maioria dos mortais consegue manter por coisa de um ano ou dois. Some a isso o fato de que o tipo de gente que vai atingir esse nívvel não vai ser exatamente o tipo de pessoa que ia dizer não para todas as tentações do sucesso. Quem quer o mundo quer agora e não se preocupa com a decadência.
E, no final, Toby acrescenta que viu Paul McCartney fazendo uma versão solo de “Here Today” no Electric Prom que o deixou tocado. “Por um momento, ele deixou as afetações vocais para trás e soou verdadeiramente vulnerável – como se estivesse tocando por razões pessoais, porque significa algo. Por um momento, eu quase o perdoei por tudo”, diz Toby Litt encerrando o artigo.
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