23.10.09

comprei as alianças, beibe




elas não são as mais preciosas que existem, não são nem as mais bonitas e talvez nem fiquei bem nos nossos dedos.
isso não tem a menor importância.
não exista símbolo que valha tal significado.
o mensageiro não é importante.
você sabe de onde elas vieram, você sabe por que ela vieram de onde vieram e sabe, sobretudo, o significado de cada coisinhas que fazem delas NOSSAS alianças e não simplesmente... alianças.
Fiquei inseguro às vezes, te confesso.
Fiquei mil vezes inseguro por causa do valor que eu já vi gente dar pra isso. É que cada um tem seus próprios preços e seus próprios valores pra colocar nas coisas. È como o Louback disse no texto hoje, o texto dele que eu achei do caralho. É preciso haver cumplicidade.
Achei lindo o texto dele e, quando você ler, você vai entender o porquê. Provavelmente você vai lembrar do que eu te disse sobre aquela pichação de “mais amor” que tem espalhada por SP toda. Minha vontade é dizer “obrigado. tô satisfeito”, mas cito aqui as últimas palavras no nobre doutor Spock: “as necessidades de muitos sobrepõe-se às necessidades de poucos”.
Fico feliz por que cumplicidade não é uma coisa que a gente precise encontrar. Eu tô há meses tentando escrever um livro, você sabe. Não consigo. Vou escrevendo devagar porque eu quero heróis que sejam cúmplices e, por mais que eu me esforce pra fazer com que eles sejam no livro, e eles sejamos nós, a gente é muito mais sem nem precisar olhar um pro outro.
Fico feliz que tenha alguém falando disso, porque é vital falar disso, e fico ainda mais feliz que seja tão bem dito como é dito pelo Louback. Ele provavelmente vai ficar orgulhoso em saber que eu chorei da primeira até a última linha – porque ele começa falando de tênis vermelho e termina dizendo que é “nós X mundo” e, nessa briga, na boa: pau no cu do mundo.
deixa eu te contar de hoje.

fui gravar nossos nomes nas alianças.

não sabia como fazer isso, onde fazer isso. achava que só o lugar que vende a aliança é que grava a aliança quando você compra a aliança – e compra lá. (percebe: eu tô gastando a palavra “aliança”, mas é que a caixinha azul delas tá aqui, aberta e o tempo todo eu vou lá olhar – do verbo “botar a mão” – pra elas. a repetição é um símbolo pra essa ânsia. você entendeu)

tava aqui buscando no google um lugar onde se grava nome em aliança.
achei um cara perguntando se alguém sabe escrever em mordor porque ele quer gravar o nome dele em mordor na aliança (alá). achei uma página tosca que dizia “veja aliança com o nome JOYCE gravado nela” e pensei – porra! – desenha mais, deus! peguei o endereço da casa das alianças na avenida são joão, botei a caixinha no bolso e o mp3 no ouvido, dei play no johnny cash e saí pra rua – vestido de preto.

quem diz que o google sabe tudo nunca teve a idéia de perguntar nada pra algum funcionário de banca na praça da república.
o cara me disse: “você entra nessa rua e vai reto. tem uma galeria lá no fim. lá tem um cara que faz isso pra você”.
a rua que ele apontava pra mim era a mesma rua em que a gente foi andando na primeira vez que você veio pra cá e a gente parecia aquela capa do “freewheelin’” do bob dylan.
segui as coordenadas e achei, sem problemas, o mesquita.
o mesquita tem o processo dele pra gravar em aliança. eu devia ter anotado o nome, mas esqueci. ele não escreve à mão. ele usa uma máquina manual. o mesquita disse pra mim que, se fosse pra escrever à mão, ele ficaria contente em indicar um amigo dele que faz isso até em aliança de anão.
pensei assim: talvez não fique tão bonito, mas é em letra de forma e, se eu pudesse, gravava em arial unicode ms, normal, tamanho 14. Preta na sua, roxa na minha. E botaria um ^^ nas duas.
fechado: vai em letra de forma.
o mesquita – eu sei o nome dele porque a loja dele chama “mesquita” – é cheio de pergunta. acho que ele faz isso com todo mundo que vai lá comprar aliança ou gravar nome em alianças (tá vendo?).
ele me encheu de pergunta.
fui deixando ele me dissecar pra ver o que ele ia conseguir tirar de dentro de mim. você sabe: isso é uma espécie de autobiografia em duas vias. ele põe a verdade dele em xeque e tenta por a minha também. no fim, a gente vê quem foi que tocou quem, agradece e vai embora.
não gravei os nomes da gente.
gravei outra coisa e tô morrendo de vontade de te contar o que foi, mas não vou não. vou fazer do jeito que eu faço, que é te dar uma dica difícil e deixar você praticamente saber, sem ter certeza absoluta.
são seis palavras – três minhas, três suas – em cada uma delas. seis palavras da letra de uma música que é um símbolo também. três pra mim, três pra você. essas palavras vão ficar no fim de nossas cicatrizes.
pronto.
entreguei.
então: são essas palavras e a data de 24/10/09.
isso quer dizer o seguinte: eu vou chegar aí no dia 23 e só vou deixar você ver no dia 24. por sorte, eu vou chegar às 23h30 do dia 23, então você só vai precisar esperar meia hora. você pode até tentar usar o argumento do “mas nós estamos no horário de verão”. use.
eu aceito.
aliás: eu preciso que você faça isso – ou eu mesmo faço.
o mesquita ficou com medo que não coubesse. na minha coube direitinho. na sua, que é menor, ele tinha as dúvidas dele.
falei pra ele “toca em frente que cabe”.
ele não sabia como eu sabia – nem eu sabia como eu sabia – mas eu sabia.

enquanto ele escrevia na sua, eu fritava o peixe e olhava o gato. ficava olhando a minha aliança e prestando atenção se ele tava escrevendo certo na sua. Ele agarrou no primeiro zero da data, o zero do 10.
Disse pra ele: “agora é dar espaço, botar outro zero e um nove”.
Ele me olhava com cara de o.0.
O Mesquita me disse que a imensa maioria – aquela que equivale à praticamente todo mundo – de gente que vem procurar por ele é de casal que se conheceu pela internet. Tinha alguma coisa nisso que tava deixando ele intrigado.
O Mesquita é um cara legal. Você vê isso logo que conversa com ele. Ele não tenta te enganar, não quer arrancar seu dinheiro e o que você quer fazer é mais importante pra ele que o que ele pensa em fazer. Ele simples assim: e é um cara legal.
A conversa com ele tava indo tão franca (eu resumi aqui - ainda tem coisa que eu vou te contar depois) que ele não viu mal nenhum em me perguntar: “por que você escolheu conhecer uma pessoa pela internet?”
expliquei pra ele o seguinte: “não é que eu ‘escolhi’ conhecer pela internet. a gente tem meios e meios de conhecer pessoas. internet é só um deles”. minha impressão de quando te conheci ainda é a mesma de “por onde você andou?”. acho que a gente poderia ter se conhecido em outra vida, mesmo que nós dois fôssemos gatos, e, ainda assim, a gente, nas palavras imortais de walt whitman “soaria nosso urro barbárico sobre os telhados do mundo”.
daí, ele terminou a sua aliança e ficou um tempo irritante olhando pra ela, com uma cara de encafifado, que fazia minha ansiedade borbulhar em bile.
ele me deu a aliança.
percebi que uma letra “E” tinha saído esquisita.
ela tinha saído deitada.
parecia um M.
mostrei pro mesquita , ele achou isso também e disse que ia tentar arrumar.
enquanto ele botava a aliança de novo na máquina, eu fiquei pensando.
ele dizia que ia tentar corrigir, mas...
pedi pra ele deixar eu olhar de novo.
não era um M que o “E” deitado parecia.
parecia...
parecia um...
parecia um... ^^
você vai ver: é igual.
se eu tivesse pedido pra ele botar um ^^ na aliança, ele ia dizer que não é possível.
a gente faz umas coisas tão impossíveis quando a gente não sabe que elas são impossíveis, né?
disse pra ele que eu queria daquele jeito mesmo.
“deixa assim, caramada”.
a gente tem que saber reconhecer os acidentes felizes.

daí, chegou um cara e ficou plantado atrás de mim. não parecia cliente. parecia o cara com quem o mesquita costumava tomar cerveja depois do trabalho.
daí, ele me estendeu a mão preta de sujeira e calejada de trampar duro e me disse “rapaz, foi muito bom conversar com você. obrigado pelo papo”

eu me enganei. não era o tipo de conversa na qual uma das pessoas terminava agradecendo. era o tipo de conversa em que DUAS pessoas terminam agradecendo.
e eu agradeci.
botei o fone de ouvido e tocava “man in black”, pra me lembrar porque é que eu me visto de preto.

daí, quando eu passei por trás do caetano de campos, no caminho pra casa, tava tocando “in my life”.
e na parte que diz “and in my life... i love you more” eu beijei o nó do dedo da mão esquerda em nome de tudo que me é sagrado – ou seja: você.
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2 comentários:

talita disse...

rapaz, que bonito, hein?
torço muito, de verdade, pela felicidade de vocês dois, aqui do twitter, escondidinha.
felicidade aos noivos!

Kakaya disse...

Aaaaaai que lindoOOo!
A minha ainda tá sem gravar...acho que vamos gravar só no casório...pq eu não quero tirar ela do dedo nem pra gravar!rsrsrs

Mas amei a história!