
Eu queria escrever alguma coisa que te desse vontade de viver mais.
Não se se eu tenho essa capacidade, mas sei que tenho esse desejo.
Tava aqui, a ponto de te perguntar o que te faz feliz, mas me veio outra idéia na cabeça: é mesmo preciso ser feliz agora?
Não pergunto isso porque eu acho que não seja – e é justamente o contrário, porque eu acho que é preciso sim.
O que eu acho é que já era pra ser feliz faz um tempo, mas a gente vai procrastinando.
A gente vai empurrando com a barriga e espera uma puta cara pra tomar aquelas decisões que vão foder com a vida da gente – ou não.
E é justamente nesse “ou não” que bate o ponto.
Por que.... e se der tudo errado?
E se, de repente, aquele salto no abismo que a gente tanto teme seja justamente tudo que a gente precisa?
E se a morte for vida e a vida for morte e andaram ensinando tudo errado pra gente na escola e na vida – sobretudo na vida?
Do mesmo jeito que esse “amor” que a gente ouve falar por aí é uma simplificação imbecil do amor que a gente pode sentir, a felicidade também pode ser.
Do que a gente precisa?
Quando eu tava fazendo “Gigantes da Montanha”, do Pirandello, no INDAC, o Aldo fazia um personagem magnífico, que – ou eu muito estou enganado – se chamava Docia.
Ele era uma espécie de mendigo que vivia num lugar que era uma espécie de Paraíso na terra.
Ele defendia com unhas e dentes a tese de que quem tem muito, tá fodido.
E quem não tem nada, é livre.
Lembro que tinha uma frase que ele dizia que era meio assim: “Ninguém pode ter tudo”. E a gente não podia olhar pra cara um do outro porque o Aldo era tetudo e aquela frase, na boca de chupar bife dele, fazia um sentido completamente diferente – e isso podia fazer com que metade do elenco se mijasse de rir em cena, cagando pro público.
O que eu quero dizer é que alguém ensinou pra gente que ser feliz nunca é o bastante.
Ensinaram pra gente que amor, também, nunca é o bastante.
E é aí que tá a merda.
Porque a gente se desacostuma a agradecer.
A gente se desacostuma e estar contente e hoje, simplesmente, deixar o amanhã chegar, como aquela onda da praia que vem lamber os nossos pés.
A gente foi ficando mal acostumado, mimado e ingrato.
A gente PRECISA agradecer.
E como aquela história de Sagarmatha, que é o nome, em nepalês, do pico mais alto do Everest. O nome quer dizer “rosto do céu” (embora eu ache mais bonito o nome tibetano, Qomolangma, que quer dizer “mãe do universo”).
É o lugar mais alto do mundo, o lugar mais difícil de se alcançar – como o nirvana.
Mas é aquela coisa: é um belo lugar pra se chegar, mas um péssimo lugar pra se morar.
Justamente porque, não se pode ter tudo.
É legal chegar, mas não dá pra morar lá.
O problema com esse amor e essa felicidade que as pessoas insistem em vender nas farmácias é que exige-se um grau enorme de imobilidade por parte deles.
E o que acontece é que, quando você chegar lá no rosto do céu mais uma vez, você não vai encontrar a mesma coisa.
O rosto do céu vai ser outro.
E o seu rosto também.
A gente tá sempre procurando alguma coisa que sirva pra completar a gente. Isso porque a gente é inseguro demais, se acha imperfeito demais e adoraria poder mais um pouco do que a gente realmente pode.
Mas digo e repito: a gente devia agradecer.
Porque, se não fosse assim, a gente seria metido pra caralho. Porque a gente ficaria no oito ou no oitenta. Ou tudo é possível e nada tem graça. Ou nada é possível e tudo tem ainda menos graça. Nos dois casos, nego se mata.
O que acontece?
Onde é então que a gente caga com tudo?
A gente caga por não saber o que quer.
Esse é o ponto número um.
E a gente caga também no ponto número dois, que é quando a gente tem o que quer, mas fica querendo que aquilo dure pra sempre.
Porque, no caso um, como é que você vai querer felicidade ou amor se você não sabe como é que a cara dessas duas criaturinhas?
E outra: por que é que você vai querer esticar pra sempre uma sensação que só faz sentido hoje?
Amanhã vai fazer sentido também.
Mas não é o mesmo.
É outro.
E isso é bom também.
Confia em mim: espere pela primavera.
A neve sempre derrete amanhã.
Deixe o amanhã chegar porque o amanhã vai ser melhor.
Vai sim: se você deixar.
Deixa, vai?
2 comentários:
"ponto número dois, que é quando a gente tem o que quer, mas fica querendo que aquilo dure pra sempre"
nesse ponto, eu caguei tão feio, que tou tentando limpar tudo até hoje.
Mas ainda bem que, esperando a primavera chegar, estou percebendo o quanto há vida após a separação.
E te agradeço muito por me ajudar a perceber isso!
eu queria fazer um comentario, mas acho que não cabe, só um valeu!
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