2.1.09

Queime 2008, queime!




Faltava pouco tempo, mas ainda dava tempo.
Ia ser sossegado.
Botei o pernil pra assar no fogão, o forno já estava (bem) pré-aquecido e fui pagar as últimas contas de 2008 no Bradescão da Praça Rotary.
Demorei nem 20 minutos e voltei a tempo de esperar mais um pouco antes de dar aquela demão de manteiga que dizia no verso da embalagem.
Fui ver lá no forno e o fogo não estava mais lá.
Abri.
O pernil frio como tava antes.
Olhei no relógio e pensei: “dá tempo, mas tem que ser agora”.

Deixei o forno aberto, crente de que só isso bastaria, e fui lá eu.
O macaco que descobriu o fogo.
> BOOOOOF!!<
Foi uma puta explosão direto na minha cara, no meu colo, nos meus braços.
Pegou fogo na minha barba, os pelos do meu bigode ficaram loiros e entortaram pra cima, minhas costeletas sumiram até perto do ouvido.
Os pelos dos meus braços, todos chamuscados.
Minhas pernas, minhas coxas e aquele cheiro de pelo queimado em todo lugar.
Simbólico: 2008 quase torrou meu saco.
Quase.

Eu tremia.

Meu desejo era pegar aquele pernil, nem tirar do papel alumínio e mandar pro meio da Cesário Mota Junior.
Pra baixo e adiante.

Entrei no chuveiro pra esfriar a cabeça.

Quando corri os dedos pelos cabeços molhados vi que as pontas estavam chamuscadas todas.
Por sorte, estava usando uma faixa no cabelo, senão, eu ia ter que esfriar a cabeça bem antes e bem mais rápido.
Passei a escova nos braços e nas pernas e fui tirando aquele bololô de pelo queimado com tanta força que grudava tudo na parede do box.
Liguei o chuveiro no máximo, pra deixar ele bem gelado e bem forte.
A água corria pela nuca e eu olhava pras conchas que eu tinha acabado de colocar no chão do box.

Eu tinha decidido passar o ano com Iemanjá no meu peito.

Em 2008, eu agradecia à São Jorge e, ali, no chuveiro, lembrei de ter passado as mãos no corpo todo, crente que alguma parte minha poderia estar pegando fogo e me olhado no espelho.
Lá no espelho, do mesmo lugar de onde tinham saído as conchinhas de Iemanjá, estava a figura de São Jorge que ficava olhando tudo de cima no apartamento antigo.
Acho que foi nesse momento que eu parei de tremer.
“Comi o cu do dragão, Jorge”, pensei.

Foi aí que eu me lembrei do Iggy Pop com os Stooges na gravação mais legal de “Louie Louie”, uma ao vivo, em que dá pra ouvir o barulho de vidro quebrando no palco. Ele diz: “gostaria de agradecer pessoalmente ao cara que joga essas garrafas de vidro em mim. Você quase me matou, mas errou de novo. Tenta de novo semana que vem”.

Pois é, 2008, você quase me matou, mas não foi desta vez.
Agora você não tem mais vez nenhuma, 2008.

Você é passado.

Eis o presente.

Eu faço o futuro.
Share:

1 comentários:

Kakaya disse...

Verdade isso?Que meda!
Ainda bem que passou!
Agora é 200inoooooooove!