22.10.08

o terceiro pateta






Um dia eu joguei uma mulher pra fora do ônibus
...sei...
Isso, em alguns países,
pode ser crime federal inafiançável,
mas juro que foi sem querer.

A gente estava saindo do ensaio
do grupo de teatro da faculdade.
Era sempre um grupelho de umas oito pessoas.
mas eram oito pessoas escolhidas a dedo
e decididas a usar o ônibus como palco,
ou algo que o valha.

Foi numa dessas voltas dos ensaios
que eu tive que tirar o Ricardo da janela,
porque ele estava levando a sério
o negógio de latir - sim: LATIR! -
para um poodle no carro ao lado.

isso foi engraçado.

quando joguei a mulher pra fora,
foi sem querer e foi besta.

O ônibus estava meio cheio
e a gente ocupou os lugares vazios no fundão.
Eu tinha o hábito de viajar de pé.
sempre em pé.

Nesse dia,
a gente começou uma guerra de bolinha
amassando "O Momento" - o jornal da faculdade.
isso não teria tido graça nenhuma
se a gente não tivesse feito o que fez:
pego o Ricardo pra Cristo,
até que ele se refugiasse
em asilo do lado do cobrador.

Eu tava parado bem perto da porta,
aquela por onde as pessoas saem do ônibus
quando ele ameaçou pegar pesado
e brandiu no ar aquele tênis fedido que ele usava,
antecipando movimentos que ficariam eternizados
por Russel Crowe, tempos depois, em "Gladiador".

Quando ele ameaçou jogar o tênis em mim
-"coragem" é meu nome do meio -
eu abaixei muito rápido
e acabei dando uma bundada
na mulher que estava na porta.

Por sorte o ônibus estava parado no ponto
e com a porta aberta.

Ela deu três pulinhos:

Upa, neguinho na estrada
- primeiro degrau
Upa pra lá e pra cá
- segundo degrau
Upa (Ai, meu Deus do céu!)
- calçada em frente o Eldorado!
(isso foi em 1994 e, naquela época
o ponto era na calçada em frente o eldorado)

De lá,
ela ficou lançando imprecações
contra a minha pessoa que,
não sabendo se pedia descupas
ou se fazia cara de paisagem -
mantinha-se, por via das dúvidas,
entretido com minha própria saliva
em um histriônico ataque de riso.

No dia seguinte, no ensaio,
a gente fez reconstituição da cena
e o veredicto do Tony,
o diretor, foi o seguinte:
"Com dois patetas como vocês,
pra quê um terceiro?"

o mundo é nosso terceiro pateta, Tony.
o mundo é que é.
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1 comentários:

Priscila Freitas disse...

deixa eu ser a quartaaaaa, deixa eeeeeeu!