12.8.08

A verdade é verde

(o artigo a seguir - que é uma espécie de urtigo - foi escrito originalmente para a revista Go Outside)





Desde criança, a gente ouve a história de que é preciso salvar o
planeta. Foi isso que ensinaram pra gente na escola, é isso que a
gente vê na TV e é isso que todo mundo diz, que é preciso salvar o
mundo... mas salvar de quem?
Na real, quem precisa de salvação é a espécie humana e só. Porque a
gente nunca fez nada pra salvar o mundo. Tudo que a gente fez até
agora foi tentar limpar os próprios erros. O que leva qualquer um com
QI acima da temperatura ambiente a supor que a situação seria outra
caso, no Grande Dilúvio, Noé tivesse ficado de fora da arca.
Outro dia, um amigo meu me mandou um link interessante. Era uma
passagem filmada de uma fase do jogo de videogame Super Mario. Fui
viciado nisso no começo da década de 1990 e reconheci, de cara, a fase
como uma das mais difíceis. Quando eu vi o vídeo até o fim, me senti
um completo idiota. Passei dias tentando superar aquela fase e, no
vídeo, o sujeito mostrava que se você deixasse o joystick em cima da
mesa e não tentasse resolver nada, você passava de fase sem nenhum
esforço.
Isso me lembrou de Musashi, o maior samurai do Japão, que tem em sua
biografia um episódio em que tentou drenar uma larga porção de terra e
não conseguiu. Toda vez que ele achava que estava sendo engenhoso
demais, a natureza vinha e ria de seus planos. Por fim, olhando para a
terra inundada, ele decidiu que o melhor seria deixar tudo como está e
plantar arroz, que era a única coisa que nasceria por lá. Para lembrar
pra sempre da lição que aprendera, ele afixou uma placa em sua
propriedade em que todos leriam: "Os caminhos da natureza não podem
ser contrariados". Esta, segundo ele, foi a maior lição de sua vida.
A atitude mais verde de todas no momento, então, seria deixar o
planeta como está. Pagar – e pagar BEM as pessoas que cuidam do nosso
lixo- porque, daqui pra frente, os lixeiros são os únicos e
verdadeiros heróis.
A gente precisa ter a humildade de sacar que é um parasita que
castigou demais o hospedeiro e que o que a gente pode fazer, no
máximo, é retardar a extinção. É uma queda livre e, enquanto o nosso
corpo não bate no chão, a gente só tem o direito de repetir como um
mantra o "até aqui tudo bem" durante toda a descida.
O problema fatal é que o homem não entende a natureza.
O homem é incapaz de entender a sua própria natureza, quanto mais a
natureza toda, aquela com N maiúsculo.
A gente vive em uma época da história da humanidade em que a
informação vem pra todos, mas a gente nem sempre pára e se pergunta de
quem mesmo é que ela vem.
Um bom exemplo é a história do aquecimento global.
Tem gente que diz que a Terra está esquentando e, do outro lado, tem
gente que diz quem está esquentando é o Sol. Eu não sou especialista
nisso, mas tenho a impressão de que é mais fácil o Sol esquentar,
afinal, esse é o trabalho dele.
A ciência sugere o futuro. Por outro lado, a história traz o passado
de volta e – dizem – o passado se repete. A história lembra que entre
800 e 1200 depois de Cristo, o planeta esteve mais quente do que agora
e que, naquela época, não havia carro. A história também nos lembra de
que em 1972, houve uma conferência em Estocolmo e a pauta falava sobre
como fazer para deter as emissões de carbono porque, por causa disso,
o planeta estava ficando – veja você – mais frio!
Aí, já não sei mais de nada.
O que ontem fazia o planeta ficar mais frio hoje faz o planeta ficar
mais quente? Pelo que a ciência diz, é isso.
O que a história diz é que, naquela época, tanto quanto agora, o mundo
enfrentava uma baita crise de petróleo.
Como é que eu vou ser verde se eu não sei em quem acreditar?
Vou acreditar em meteorologistas? Eles não são os mesmos caras que não
conseguem prever o clima pro dia seguinte e que, ainda assim, estão
deixando o mundo histérico com uma previsão apocalíptica pra 2100?
Peraí... Não pode ser perigosa essa história de confundir mudança
climática com conservação ambiental? Parece a mesma coisa que deixar
uma neurocirurgia na mão do garçom da churrascaria, só porque ele
entende de facas.
Às vezes, essa coisa de restringir o uso de combustíveis fósseis me
parece coisa de irmão mais velho (e mais forte) dizendo que a comida
acabou, quando, na real, ele é que está comendo sua parte. Quando falo
do irmão mais velho, não quero dizer "os Estados Unidos". Não é tão
simples assim. Talvez eu possa estar querendo falar de gente que
realmente tem grana e ponto. Também não quero dizer que talvez exista
um lobby de grupos de pesquisa de aquecimento global que seja bancado
por donos de indústrias que talvez tenham interesse que o mundo pare
de consumir petróleo.
Eu não quero dizer nada disso porque, de qualquer forma, seja lá o que
eu diga, você não vai acreditar. E nem deve.
Antes de ser verde, a gente precisa fazer muito mais perguntas do que
a gente faz normalmente porque não dá pra ser verde sem saber no que
acreditar.
É justamente por isso que a gente tem que tomar cuidado.
Pra não ser verde no sentido errado, sendo verde do jeito que verde é
o contrário de maduro.
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1 comentários:

Flávio Dantas disse...

gostei daqui...
vamos nos linkar?