31.8.08

memórias que não morrem, passado que fica e o futuro que não vem





Uma coisa que eu preciso fazer e preciso fazer tão rápido quanto for possível é passar pra DVD as antigas fitas de vídeo com as gravações pessoais. As razões são muitas. Morro de medo dos filmes apodrecerem na umidade do meu antigo quarto na casa dos meus pais. A gente tem que sr amigo das nossas VHS – pelo menos antes de passa-las pra DVD.
E em tanta coisa.
Tem aquela fita, que é a que eu mais quero pegar, que é uma que começa com um vídeo da festa do meu aniversário em 1994. Foi uma festa especial, no antigo karaokê Desafinado, que, na época, ainda ficava na João Passalacqua, e hoje em dia foi completamente ocupado pelo Hotel Denver. Pra filmagem da festa, a Patty emprestou a câmera dela e o foco ficou num automático meio besta, que não focava nem fodendo. É o primeiro registro em que o comportamento da câmera é perfeitamente condizente com o teor alcoólico da atmosfera. Pra não ficar chato, o Léo e eu – porque esse foi o primeiro dos vídeos que a gente filmou e, pra curtir, passou um fim de semana todo editando e inventando merda em volta dele – resolvemos que seria legal gravar uma locução em OFF pro vídeo todo e, enquanto a gente passava as imagens da fitinha, pra
fitona, eu ia narrando o que não dava pra ver. A verdade é que, na maior parte do tempo, a narração consistia em gritar "olha o foco!", cada vez que a imagem embaça – uma coisa que pode ser bastante cansativa, uma vez que a imagem embaça O TEMPO TODO.
Encontrei o Cascino hoje, do nada, no trabalho. Eu tava gravando e ele tava esperando pra gravar na mesma cabine que eu. Uma feliz coincidência que provavelmente vai me deixar sorrindo até o fim do dia (ou até o fim do texto). Ele foi um dos poucos que não foi naquela festa e acho que ele não vai achar que esse problema de embaçamento da
imagem naquele vídeo faça alguma diferença. Foi uma festa maravilhosa aquela. Tanto que é impossível falar dela num texto que seja sobre outra coisa. E, mais ainda, vou passar a fita pra DVD e, depois disso, eu falo.
Antes de interditar o quarto do Léo em pleno dia do aniversário do irmão dele, a gente ainda fez mais uma filmagem na faculdade e é aí que ta a maior graça de tudo. Cada uma das pessoas que aparece no vídeo está num canto diferente hoje, fazendo coisas diferentes.
Naquela época, fazer um vídeo era que nem dançar créu é hoje – tem que
ter disposição.
Lembrei disso agora, conversando com o Cascino porque, se ele não aparece no filme da festa, ele aparece p.a.r.a.c.a.r.a.l.h.o. na parte da faculdade. Lembro de algumas coisas. Lembro, por exemplo, que o SPFC tinha recém perdido a Libertadores pro Vélez e o Cascino tinha imitado o Galvão Bueno fazendo aquele "é goool" bem chocho que ele faz quando o time que ele não quer que faça gol não respeita a vontade dele e, não apenas faz gol, como também, ganha o jogo. Tem o Pizza imitando o Evair batendo pênalti. Tem o Ricardinho esperando a Fabi chegar pra dar um beijo nela. Tem eu e o Vlad – ah, Vlad! – dançando "Stayin' Alive" na frente da FIAM, numa cena que, se eu puder ver hoje, me cago de chorar por causa da ironia filha da puta do caralho de não ter mais o Vlad por perto.
Todo mundo ta ali, lindo, brilhante e no esplendor de uma vida que jamais vai voltar. Todos com rostos limpos e inocentes, sem os vincos dos trabalhos de merda que nos mandariam fazer por todos os anos subseqüentes. Lembro que a gente filmou aquilo num dia feio e que tinha um monte de gente que simplesmente não entendia o que a gente fazia. Pra que é que um sujeito vai querer filmar justo aquilo? Aquilo era só mais um dia. Hoje em dia, passados vários dias, tenho a impressão que, se eu assistir a esse vídeo mais uma vez, e olhar pra ele do jeito certo de se olhar, dá pra ver direitinho onde a gente ia se foder dez anos depois e onde é que a gente ia gozar néctar puro 15 anos mais tarde.
A terceira parte da fita ainda é notável. Tem um vídeo que eu fiz sozinho na casa da minha avó. Eu nunca morei lá, mas a casa da minha avó era uma espécie de "escritório" pra mim. Começou em 1985, quando eu ganhei meu primeiro rádio (com toca fitas) e era obrigado a ouvir minhas músicas longe do convívio social. Em outras palavras: começava ali minha adolescência. Nada jamais vai retratar melhor o tipo de adolescência que eu tive, com rock'n'roll e quadrinhos, como esse vídeo. Mais ainda: tem imagens vivas do meu avô e da minha avó o que é mais um motivo pra cagar de chorar.
Se eu não me engano, ainda tem uma quarta parte nessa mesma fita que é uma reunião que a gente fez na casa da Janinha. Na época, imagino que tenha sido no final de 94, eu tinha 21 anos. Como eu sou o mais velho do pessoal que tava lá, você pode imaginar o quanto as outras pessoas parecem crianças. Se eu estiver certo e essa filmagem realmente fizer parte dessa fita, tem um registro primal do que viria a ser o Terremoto Torquemada, comigo e o Igor brincando de imitar os Beatles com aquelas pás enormes de tirar pizza de dentro do forno à lenha.
É.
Tem coisas que o tempo não apaga.
Em compensação, tem outras coisas que o tempo apaga sim e, antes disso, convém fazer back-ups.
E rápido!
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3 comentários:

Priscila Freitas disse...

cara....

nem tô em condições de falar de passado hoje... mas o q vc puder salvar, salve. E rápido.


Mas pense no futuro por mais que ele demore a chegar... porque daqui a 30 anos vc vai lamentar ter lamentado tanto o passado agora.
Enfim, beijos e boa noite

Priscila Freitas disse...

tem desafio pra vc no meu blog \o/

Lubi disse...

Hoje eu tenho 21 anos.
Com seu texto reafirmei minha idéia de que as gerações mudaram MUITO!
Acho que na sua época (hahahaha) os jovens aproveitam e aproveitam-se muito, muito mais... Porque tinha essas grandes turmas inseparáveis...
Ai, ai.
Enfim.
Beijo.