31.7.08

quando os macacos tomam contado circo


quando a gente parou o carro na augusta,
um caminhão de lixo vinha subindo.
não era daqueles caminhões que prefeitura compra.
era um caminhão normal carregado até o tampo de lixo e, sobre o lixo, cinco caras que deviam escorregar lá de cima
e ficar jogando o lixo da rua pra cima da caçamba
cada vez que o caminhão parasse.
os caras do caminhão viram a gente com os instrumentos
e começaram a encenar uma palhaçada,
como um show de rock em cima do caminhão de lixo.
percebe que a gente tem cara de banda de rock e só de banda de rock?
se a máquina fotográfica estivesse na minha mão
e o caminhão tivesse parado,
acho que a gente teria uma bela capa
pra demo do terremoto torquemada.

ao invés disso, a gente ficou gritando pra eles
e eles gritando pra gente como macacos na selva,
que se encontram
e se reconhecem.

eles subiam a augusta fazendo guerra de lixo entre eles
e eu me perguntava se, quando a porta do estúdio fosse fechada
e o REC fosse apertado
a gente conseguiria se divertir tanto quanto eles.
foi uma pergunta besta,
daquelas que não precisam de resposta.

a gente não tem escolha.
somos todos macacos
e estamos prontos para tomar conta do circo
sempre que o dono sair pra foder a mulher barbada no cu, pardal.
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