desperte o tigre em você!

Eu tava aqui pensando e ia te responder “não tenha medo de mim”, mas alguns acontecimentos me fizeram pensar o contrário. Não tão o contrário para que eu escreva “tenha medo mesmo”, mas contrário o bastante pra que eu não respondesse nada e ficasse só deixando seu comentário reverberar em mim.
Todavia, o que eu senti – e eu acho que consegui te explicar maisoumenosmente outro dia que a gente conversou com tempo – é que as vezes é bom que as pessoas sintam medo de você. Porque senão, acaba que nego fala o que quer sem nem pensar duas vezes. É bom que as pessoas pensem duas vezes antes de falar besteira pra você. Acho que isso não é exatamente medo, mas é um fac-símile razoável. Se as pessoas começarem a te dizer as coisas que vêm à cabeça delas do jeito que elas vêm, o mundo vira um caos. È bom que elas tenham um pouco de trabalho pensando e respeitem um pouco mais você antes de dizer o que pensam. Porque senão, tudo acaba virando uma discussão inócua a respeito das cores que você usa pra pintar o quadro, ao invés de girar em torno do quadro em si. Porque assim você dá margem pra que a pessoa pense “eu não vou dizer isso porque senão ela vai ficar puta da vida” porque ela sabe que é assim que é. Porque ela sabe o tamanho da besteira que ela vai fazer.
Acho que eu quero dizer tem mais a ver com aquela fábula do leão-cordeiro, sabe?
Se bobear, ela serviu de argumento pra maioria dos filmes de kung-fu e dos filmes de samurais porque tem aquela coisa de domar a fera dentro de você – mais que o lema kellog's de “desperte o tigre em você”.
Não sei se você lembra desse desenho. Passava junto com os desenhos de série do walt disney (pateta, pluto e pato donald) e contava a história de um leão criado por uma família de carneiros. Ele sempre era zoado pelos carneirinhos porque ele não sabia dar cabeçadas (perceba: resolver os assuntos com a cabeça).
Só que uma noite, baixa um lobo lá no meio e os carneiros ficam apavorados e o leão também. Afinal, ele, pra todos os efeitos, É um carneiro.
Só que o lobo vai que vai e faz uma merda.
Ataca a mamãe-carneira do leão.
Glup!
Lembro direitinho da cena que aparece a mamãe-carneiro, acuada na beira do penhasco, no reflexo dos olhos do leão. Nessa hora, no desenho, passa um raio de lado a lado nos olhos do leão e olhar dele muda para o olhar de uma fera.
Acaba com o lobo acuado pelo leão, na beira do penhasco, recuando cada vez mais.
Aí, na hora fatal, o leão derruba o lobo lá pra baixo com uma cabeçada – ao velho estilo dos carneiros.
O que eu me pergunto é: o que acontece depois?
O leão continua sendo um carneiro?
Acho que sim, mas um carneiro com um leão ao seu serviço.
Um cara que domesticou a besta em si e a mantém sob controle.
Acho que a gente precisa muito aprender qual é a besta que tem dentro da gente.
A gente precisa fazer amizade com ela e sacar que ela é a gente. E não o contrário.
E, as vezes, também é bom deixar ela vir latir e babar na cara das visitas que se cagam de medo quando tocam a campainha na porta da frente.
Não me leve a mal.
Não digo que a gente precise sair mordendo ninguém por aí.
Mas é bom aprender a rosnar com os olhos.

Mas olha.
Isso que eu escrevi não tem nada a ver com você.
Não é sobre você.
Só é pra você.
como um presente.