26.6.08

Um longo adeus




(advertência: este texto foi escrito à sombra de raymond chandler e ao som de bob dylan)

Se você nunca soube onde é que as coisas começaram a terminar, um dia, talvez, você leia isso aqui e tenha certeza.
As coisas terminaram muito antes que a gente parasse de falar um com o outro.
As coisas terminaram bem antes.
Terminaram quando você fez tanta questão de ser ouvida que acabou não me ouvindo mais.
Terminaram quando você não sacou mais que eu sempre te ouvi e achou que, por não estar de acordo, eu não estava te ouvindo.
Por que é que as coisas têm sempre que ser assim?
Você olha a coisa de longe e diz “você vai se foder assim”, a pessoa larga um “foda-se” e, no fim, se fode toda.
Por que a gente não pode cortar a parte do acidente de uma vez?
Por que é que as pessoas que confiam em você pra certas coisas acabam não confiando mais justamente quando você tem mais certeza a respeito do que você tá falando?
É triste saber que uma pessoa só vai sacar que era tudo verdade aquilo que você dizia sobre traição quando não estiver mais na posição de ser traída e quiser que, em nome dela, você traia e você disser “não”.
Deve ser triste só sacar que você foi a única, quando quiser ser a outra e perceber que não existe lugar pra outra onde há uma única.
Não pensa duas vezes agora.
A gente pode chamar isso de futuro.
A gente pode chamar isso de presente.
A gente pode chamar isso de daqui a pouco.
Mas o mais certo é chamar isso de “tarde demais”
E é ruim pra caralho quando a gente saca as coisas tarde demais.
Aquela sensação de “eu teria feito diferente hoje” nunca tem gosto tão amargo quanto tem nessas circunstâncias.
O pior ainda é quando a gente saca que o outro lado da moeda até que tentou, mas a gente foi o pior tipo de cego na hora de ver.
O pior dos piores cegos, como diz o Olavo do Gianoukas Papoulas/Lestics, que é aquele que finge que não viu.
Eu acho que a maior prova de amor que uma pessoa pode dar para outra é a de permanecer por perto mesmo quando saca que há uma arma engatilhada e apontada contra sua cabeça e que a mão que a aponta pertence ao corpo que se ama.
A maior prova de amor é essa de amar quando não se pode e quando não se deve porque é quando mais é preciso.
É de doer ver todas aquelas músicas, aqueles blues de gente indo embora, começarem a fazer sentido e, mesmo assim, você não ir pelo caminho que eles indicam.
É de doer ver sua boca aprendendo a falar “não, não, tá tudo bem, não esquenta” porque sua alma simplesmente não está mais ali.
Você diz que vai achar ruim caso a gente mude um com o outro, mas eu digo que você vai, aos poucos, colhendo justamente aquilo que semeou.
Vai chegar um dia em que não vai adiantar nada sentar sozinha pra beber cerveja na sala e se perguntar o porquê.
Não vai adiantar nada de jeito nenhum.
Não vai adiantar você usar os créditos novos do seu celular pra mandar uma mensagenzinha bonitinha pra mim, escrevendo meu nome do jeito que você nunca escreveu, porque eu não sei se vou saber quem foi que me mandou.
Pode ser que chegue um dia em que você diga que eu não sou mais o mesmo, mas eu acho que já faz tempo que você anda se disfarçando de outra pessoa e, durante todo esse tempo, te dei meu amor em vão sem dizer uma palavra torta e, agora, o amor acabou.
Vai chegar um dia em que não vai adiantar se perguntar nada disso, porque não vai fazer nenhuma diferença acender todas as luzes que eu jamais conheci porque a mariposa que você quer atrair já está do lado escuro da estrada faz uma cara de tempo.
Eu queria mesmo que tivesse alguma coisa que eu pudesse dizer ou fazer que pudesse te fazer entender, mas toda vez que eu te digo, você diz que eu não te escuto, então eu acho que a gente nunca conversou tanto assim.
Não sei se seria o caso de dizer adeus, porque essa é uma palavra muito boa, mas talvez fosse a hora de dizer um “fica com Deus”.
Você poderia ter feito as coisas de um jeito melhor.
Poderia sim.
Mas agora acho que o que aconteceu é que você já gastou demais do meu tempo.
Mas olha...
Não esquenta não, viu?
Tá tudo bem.
Fica com Deus.
Share:

1 comentários:

Anônimo disse...

Sabe, já me aconteceu isso algumas vezes. Mas eu julgo MUITO pior, quando você tá do outro lado. Rejeitando o amor, sabe? Ano passado eu passei por esse lado duas vezes e é o que mais deixa marcas. "Você olha a coisa de longe" é a frase perfeita pra 2007, pra mim. É realmente muito doloroso perceber tudo depois.
E parabéns pelo texto, ó. Mesmo, mesmo. Você escreve demais, tudo o que eu queria ter escrito e não foi. hahaha sério! Boa noite!