cuzinho sim!
isso foi uma vez, na primeira casa que eu morei sozinho. Eu tava encantado com essa coisa de morar sozinho e resolvi chamar dois casais de amigos nossos e fazer um jantar – porque eu achava que sabia cozinhar. Uma amiga, a Leone, que cozinha como ninguém, foi em casa um pouco antes e me falou sobre como ela cozinhava muito “no olho”. Fiquei maravilhado porque, ogro que sou, não acredito em “meia colher de sopa de manteiga”. Eu sou do “um pouquinho disso”, “um pouquinho daquilo” e nada de medidas. Fiquei encantado em saber que ela também fazia isso e, na mesma hora, achei que meu método do sem peso nem medida estava habilitado, justificado e autorizado.
Chamei o Maurão, que ficou de fazer a salada e de me ajudar a carregar as compras do supermercado pra casa. A Leone tinha me ensinado a fazer um penne com abóbora ao molho de gorgonzola que prometia ficar uma delícia desde que eu me ativesse apenas à seguinte recomnendação: “é penne com abóbora ao molho de gorgonzola – jamais penne com gorgonzola ao molho de abóbora”.
Também comprei peito de frango, que eu limpei, temperei e botei no forno pra assar.
Claro que não foi tão simples assim.
Eu morava com mais três pessoas. Todas elas sabiam que ia ter esse jantar em casa. E, de posse dessa informação, todos eles deixaram toda a louça pra eu lavar. Isso, aliás, foi outra coisa que eu descobri. Tirando aqueles pratos melequentos que a gente usava sempre, os pratos de louça eram todos lascados, rachados e fodidos, como pratos de um bunker em tempos de guerra. Deu vontade de entrar na cozinha com uma mangueira e lavar tudo, dos pratos à salada, na base do esguicho.
Pra servir junto com o frango, fiz um creme de espinafre. O creme de espinafre ficou verde demais, pastoso demais e parecia aquela coisa que a menina vomitava em “O Exorcista”. Por isso, o frango, que ameaçava sair do forno à qualquer momento foi batizado com o nome de “Frango à Linda Blair”.
A sala de casa era magenta. Sofá vermelho. Uma mesa de madeira maciça com apenas quatro cadeiras. Precisávamos de sete. O Marcelo, que morava comigo, tinha uns cubos que ele usou numa peça de teatro e, encostando três deles na parede e cobrindo com um cobertor e uma colcha, havia um poltrona – tosca, porém poltrona. A sala de jantar ficou parecendo uma reencenação da Santa Ceia, dirigida pelo Jean-Pierre Jeunet.
Tudo ia ficando lindo aos poucos, como eu achava que deveria ser. O Maurão tinha picado uns vegetais numa travessa verde e, pra mim, aquilo poderia ser categorizada como salada. O frango saiu do forno em pelotinhas e ficou lá, ao molho Linda Blair, tomando ar. A abóbora tava pronta, o gorgonzola tava pronto e só faltava o macarrão.
Foi aí que chegaram os convidados todos.
Só que tem uma coisa que eu esqueci de dizer. A casa ficava do lado de um ex-terreno baldio. O ex-terreno baldio estava sendo ajeitado pra construção de um prédio. Sabe aqueles marretões de assentar terra? Eles davam umas porradas no chão que, na primeira vez (e eles podiam ter avisado, porra!) eu atirei acidentalmente na minha própria cabeça dentro de um sonho. Uma outra peculiaridade sobre o uso desses marretões de assentar terra é que eles fazem com que todos os ratos saiam de onde se escondem e procurem um lugar seguro – como, por exemplo, dentro do armário de limpeza da área de serviço.
O macarrão estava no ponto, os convidados estavam na sala e o Maurão, de lá, me olhava como se estivesse tentando dizer alguma coisa. Fui acompanhando o olhar dele, chequei minhas pernas – que estavam ok – e continuei a panorâmica até chegar na porta do quintal, onde havia um rato, gordo que nem a minha tia frida, atraído pelo cheio de alguma coisa. Provavelmente o gorgonzola.
Eu fui na direção dele, tomando todo cuidado do mundo pra ele não entrar na cozinha. Mentalmente, tentava me comunicar com ele “vai, mickey, não estraga a festa”.
Passei a mão em uma tábua de bater bife que ninguém usava – porque nunca havia bife pra bater – e, num átimo, me atirei sobre o roedor, esmagando com um só golpe todos os seus planos para o fim de semana.
Também acabei com todos os planos do Bob para aquela noite. Porque ele estava se aproximando tão sorrateiramente como eu eu do nosso intruso, só que vindo do lado de fora. Caso você não saiba, esmagar um rato é igual pisar num saquinho de catchup do mcdonalds. Ele estoura e espirra longe. No caso, toda aquela nojeira teria espirrado no muro, se não fosse o caso de o Bob estar entre uma coisa e outra.
Até a gente despistar as visitas, fazer o Bob voltar do estado de choque e limpar a caquerada que eu fiz na porta do quintal, o penne maldito tinha ficado mole e, na hora de misturar com o molho, parecia que o molho era a massa e, pior, que a massa era o molho.
Pelo menos, o “Frango à Linda Blair” fez sucesso.
Os convidados adoraram o gosto, a cor e, mais ainda, o nome.
No fim de tudo, quando a gente tava na fase do café com chocolate de menta, não é que me aparece um baratinha, daquelas mais ridículas, andando pela sala, perdida?
O Maurão ainda tentou fazer aquela cara de novo, mas não adiantou.
A Bia já tinha visto.
“Fê... Acho que tem uma barata ali”, ela disse ao apontou pra baratinha.
“Eu tô satisfeito, Bê. Pode ficar com ela pra você. Agora eu tô só no café e doce”.
E nunca mais me meti a fazer uma merda dessa outra vez.
4 comentários:
Huahuahuahauhau!
Ri horrores!
Não sei cozinhar nada...Mas dizem que agora tem tudo na internet...Mais googledepententes!rsrsrs!
Vc conhece a Re do passei dos 30?Adoro o blog dela!Achei ele no da minha amiga Anna: dez dedinhos!
Bjuuuus!
Hahahahahahaha
Sei bem do que você está falando, também divido apartamento e na cozinha sempre rola esse tipo de peripécia. Mas, ainda bem, nunca me deparei com ratos! Ai, essa cena de você esmagando o rato não sai da minha cabeça, ui!!!!!!!
Fernando, você me amarrou do começo ao fim desse texto.
Bom blog, guri!
=)
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