13.5.11

Ave, Quaresma!


Não dá pra dizer que foi fácil, mas também não dá pra dizer que foi tão difícil assim. Também não dá pra dizer que eu me proibi de escrever, porque ficar sem escrever, felizmente, me é bem fácil. Ou, pelo menos, acabou sendo mais fácil do que eu imaginei que seria. Porra: eu BRIGAVA porque queria escrever pelo menos uma notinha que fosse no Meia-Hora. Daí que o jornal acabou e, de um dia pra outro, eu não precisava mais escrever, era Carnaval, os pais da Joh tavam chegando pra passar com a gente um feriado que caiu no meu colo. Foi na sexta antes do Carnaval que o Meia Hora São Paulo fechou as portas e apagou a luz.

não, mentira: a luz se apagou na quarta, por falta de pagamento.

Era pra ser meu plantão naquele Carnaval e eu fui demitido um dia antes da correria começar. Eu tava cansado, irritado e minha paciência andava mais curta que os papeis da Camila Pitanga na época em que ela tinha cecê. No fim, foi bom ter sido demitido - me deu férias, que era uma coisa que eu precisava ter, em nome da minha sanidade. Não vou dizer que cheguei a pensar em pedir demissão, mas digo que fiquei feliz por não precisar cogitar mais a hipótese. Fiquei triste por todo o resto, mas as coisas são como são.

Sou obrigado a odiar o jogo - não os seus jogadores.

Mesmo assim, não dava pra ficar triste por muito tempo. Os pais da Joh - meus SOGROS - estavam vindo passar o Carnaval em São Paulo e iam ficar hospedados na nossa kitchenette. Como isso ia acontecer, eu não sabia, mas a Joh tava pensando nisso e, se ela ainda não tinha entrado em desespero, certeza de que eu não precisaria entrar. Não por isso. Não naquele momento. Você não faz cara de bosta quando recebe alguém querido em sua casa.

No fim, é claro, a estadia deles foi sensacional. A dona Luzia, minha sogra, tava pra pegar férias no trabalho dela e eu usei a alegria dela como se fosse minha - pelo menos até que a minha começasse a fazer sentido, coisa que nem demorou muito. Você tem uma sogra com quem você pode jogar Burn Out no XBox? Não? Pobre de você. Eu tenho. Ha.

Meu sogro é o tipo de cara que te dá todo espaço do mundo pra você ser você do lado dele. Então, quando ele dá ideia de tirar foto fazendo fom-fom nos peitos de uma estátua no Trianon, você pode porque, porra, ele é seu SOGRO! E o seu Luiz tirou leite de pedra pra criar três filhas e quando aconteceu de eu ter que explicar pra ele que eu estava desempregado, mas que tava tudo bem, ele entendeu bem e, mais que isso, me deu uma oportunidade pra falar a respeito do jeito mais honesto possível.

"Você ia trabalhar e não vai mais. Você recebeu o salário do mês e eles ainda vão te pagar todos os seus direitos. Mais fundo de garantia. Mais seguro desemprego. E você ainda pode voltar pro seu emprego antigo? Então, aproveita pra descansar. Tirando o desemprego, o resto tá tudo bom. Aproveita e descansa. Tá tudo bom".

Eu só reparei o quanto eu precisava descansar quando, de fato, me permiti descansar. O despertador matinal do Fellini era uma prova diária na qual eu fui reprovado por quase um mês. Por um mês, não houve como lidar com o fato de que ele ia me tirar da cama todas as manhãs, entre 6 e 7 horas. Aquilo me irritava.

Tudo me irritava.

Me irritou mais ainda quando saiu a notícia de que a Bethânia tava ganhando uma PUTA grana da Lei Rouanet e eu quis escrever a respeito - e falhei miseravelmente. Vomitei um texto com todas as mágoas da época em que eu tive que pedir grana pra Lei Rouanet e a Lei tratou a gente como retardados. Talvez se eu tivesse paciência pra editar ou reescrever, ele ficasse bom, mas o que me incomodava era o jeito como ele tinha saído: sem foco - o enunciado correu na frente do problema.

E aí, me deu esse negócio de que eu só ia poder escrever 40 dias depois. A Quaresma entre o Carnaval e a Páscoa. Silenzio. No hay banda. E valia pra tudo. Redes sociais, blog, freelas, emails. Só se realmente valesse a pena. Era restaurar o apetite na base da fome. Enfrentar o silêncio e largar essa mania besta que o twitter faz parecer bom: a de falar mil vezes antes de pensar.

Ainda não cheguei onde gostaria, mas estou aqui. ouvindo o silêncio e, enquanto isso, vou sentindo a mesma sensação que acho que o Dexter teve quando deixou de abrir brechas no Código de Harry.

Estou restabelecendo o significado dos meus rituais e, conforme vou fazendo isso, minha vida vem seguindo atrás.
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