11.5.09

rachando pedra ao meio com um jato de mijo



Tava conversando com a Joh ontem e, out of the blue, tocou “I've Been Everywhere”, do Johnny Cash. Ela deu um pulo da cadeira e foi ver de onde vinha. Vinha do filme que a Globo tava passando, que eu acho que era “O Vôo da Fênix”. Eu tava com preguiça de ligar na Globo e botei pra tocar toda a pasta “Johnny Cash” na mesma hora.

Daí, lembrei do caso do Paxá com o Johnny Cash.

Foi numa viagem de reveillon que a gente fez pra Ilhabela. Acho que foi no fim de 2003, quando Cash morreu. Tinha levado pra lá um CD com músicas sortidas do homem de preto, gravadas aleatoriamente, direto do HD, só pra ter um CD do Johnny Cash que fosse descartável e que, se não sobrevivesse à viagem, tudo bem. Você não leva a sua edição de luxo do “Live At Folsom Prision” pra uma viagem onde tudo pode acontecer, leva?
Acontece que o Paxá e eu temos uma rusga histórica no que diz respeito à música. Ele insiste em ficar tocando as mesmas músicas de sempre, que ele grava em fita na Kiss FM e eu insisto em jogar as fitas dele dentro do mar, pra ele não encher o saco fazendo a gente ouvir sempre as mesmas músicas do Led Zeppelin, do Jethro Tull, do Iron Maiden e tudo mais.
Minha birra não é com nenhuma das bandas citadas, mas apenas e tão somente com a insistência das rádios em manter um playlist estreito.
Também nem é com isso, porque, pra isso é simples: é só não ouvir.
O que me irrita é ter um cara, de 65 anos de idade, que grava isso e vem me mostrar achando que é bom.
Não.
Não é bom.
Só que, pra se fazer a linha do “se você não deixa eu tocar minhas coisas, eu não deixo você tocar as suas”, ele não queria – NEM FODENDO – que eu botasse o CD do Johnny Cash pra rolar.
Ele dizia que era música country e que ele não gostava de música country e fim.

Nesse ponto da conversa, a Joh estampou um “sacrilégio”, com o qual concordei sem piscar, mas não comentei, porque o melhor da história viria a seguir.

Uma tarde, o Paxá ficou bêbado e capotou no sofá da sala.
Pra mim, era a oportunidade de ouro.
Botei o CD do Johnny Cash pra rodar enquanto ele dormia e a gente saiu pra ir fazer alguma coisa.
Provavelmente foi pra cachoeira ou, talvez, fazer compras.
Quando a gente voltou, coisa de três horas depois, vi uma cena que nunca mais esqueci.
O CD ainda tocava – e tocava ALTO – e o Paxá tava pro lado de fora da casa, sentado no degrau de entrada, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos segurando a cabeça. Ele percebeu que a gente tinha chegado, meio que tentou esconder os olhos, mas eu já havia passado por aquilo e sabia o que era. Daí, o Paxá me chamou de lado e perguntou se ele podia ficarcom aquela minha coletânea do Johnny Cash pra ele, porque ele... ele... ele... a voz afinou, os olhos ficaram vermelhos e não havia nada mais pra se dizer.

É porque você não conhece o Paxá, mas vai por mim: se o Johnny Cash conseguiu fazer isso com o Paxá, ele devia ser capaz de partir pedra no meio com um jato de mijo.

Engraçado é que, justamente depois de contar essa história pra Joh, com as músicas do Johnny Cash ainda tocando no computador, o shuffle sorteou "First Time Ever I Saw Your Face" pra tocar.
Imediatamente, parei de rir desse negócio de rachar pedra com jato de mijo e, quando fui ver, tava com os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos segurando a cabeça, os olhos vermelhos, a voz afinando e pareceu que dava pra sentir a terra girar com as minhas próprias mãos.
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1 comentários:

Paulo Araujo disse...

Bela História!!!

Tbm odeio esses fitinhas ninjas que sempre toca a mesma coisa...o pior é qnd o dono da fitinha sempre fica querendo monopolizar o som durante toda a viagem...hauahauhauha...

Johnny Cash é o cara...o cidadão tem sim raiz country e blues...e com essa mistura dominou o cenário da música mundial durante muitos anos...desde os anos 60...além de ser um 13 completo e puta de um herói!!!

Parabens pelo blog e força sempre!!