15.2.09

Dead Flowers



"Ariane Goulart Barreiro" e "Tânia Rêgo Batista".

Eram esses os dois nomes que estavam na lista de pessoas que estariam na mesa, durante minha formatura do colegial, mais o meu próprio e o de Plínio Rodrigues Filho.

Cena congelada.

Vamos brincar de jogo dos sete erros?

(resposta na linha de baixo)

Bom. Foda-se os outros seis erros...
Se você não percebeu que o nome dos meus pais não estava lá, você é um insensível filho da puta.
Como eu era.

O Plínio - também conhecido como Piolho - era um amigo eu.
A Ariane era amiga dele e, segundo ele, estava a fim de mim.
A Tânia era amiga dele... ou dela.
Sei lá.
Até hoje eu não sei.
A vaca nunca apareceu pra ocupar aquele canto da mesa.

A verdade, ou aquilo que me pareceu ser a verdade naquela noite é que tudo não passava de uma puta armação e que eu ia arrancar a cabeça do puto responsável usando apenas minhas mãos e um alicatinho de cutícula.
Era fato, ou como fato soava pra mim naquela época, e todas as suspeitas recaíam sobre a figura daquele Piolho.

Isso ficou bem claro pra mim quando ele e a Ariane ficaram juntos a noite toda.
Talvez pudesse ter sido um pouco antes, quando eu cheguei pra falar com a minha madrinha de formatura (que era justamente a Ariane), perguntando pra ela se ela ia dançar valsa comigo.
Era uma pergunta meio óbvia, afinal, estávamos ela, o Piolho e eu - só nós - naquela mesa.
E, a não ser que ela achasse normal que eu e o Piolho dançássemos juntos a valsa dos formandos e, AINDA QUE em seu convite não houvesse letras gigantes e vermelhas com a palavra MADRINHA, ela seria não só a mais lógica - como também a única - escolha para aquela valsa, naquela noite, naquele momento e naquele lugar do Universo.
Sim?
Não.

Se eu fosse bom nisso, tentava descrever a cara que ela fez quando ouviu a pergunta. Quando OUVIU.
Aquilo não era oficialmente uma resposta - era apenas uma REAÇÃO à pergunta.
Embora meu estômago hoje seja conhecido por digerir as mais absurdas iguarias e petiscos que apodrecem por trás da vitrines mais sujas do balcões mais imundos dos botecos mais encardidos, naquela época ele era outro e, assim sendo, não tive muito estômago pra ouvir o que poderia ser encarado como resposta e decidi que não ia mais voltar àquela mesa NUNCA MAIS.

Se você não tem um amigo como Marcelo Valeije Ribeiro, eu tenho pena de você.

Eu tinha esse amigo - aliás, ainda tenho.

Lá, naquela noite, não só ele, mas toda a família dele me acolheu como um deles, como um primo, um irmão, que tinha chegado tarde na festa, mas ainda havia tempo para a valsa.
A VALSA!

Foi o Marcelo quem me disse que a irmã dele, a Andréa, queria dançar valsa, mas não tinha ninguém que dançasse com ela.
Então, o círculo se fechou e o universo era, de novo, um lugar calmo e tranqüilo.
E eu me orgulhava dele.
O medo do dia depois de amanhã que se fodesse.
Eu estava ali e estava pronto.

Sei que depois disso, encontrei a Isabel com o cara que eu ajudei ela a ficar, mesmo que fosse eu o cara com que a Isabel estava ficando antes.
Aquilo me deu uma dor, misturada com um orgulho besta e eu vislumbrei a possibilidade de haver um vasto, vasto mundo.
Mesmo que meu nome não fosse Raimundo, talvez nem tudo precisasse de rima nem de solução.
Meu nome é Fernando: um gerúndio em andamento.

Se você pudesse - e eu rezo furiosamente pra que não possa - assistir aquela fita VHS com a minha formatura de dezembro de 1991, você ia ver que, na hora da valsa havia duas câmeras alternando takes: (1) uma panorâmica, filmando do segundo piso, e (2) uma unidade terrestre, esbarrando brutalmente contra o pessoas que se arriscava a dançar no raio periférico de sua equipe.

Na primeira passagem da câmera panorâmica, eu estou dançando com a Andréa.
Na segunda, já estou dançando com a dona Sônia, a mãe do Marcelo.
Na terceira, eu estou dançando com a outra Andréa, namorada do Marcelo.
E, na quarta, eu já estava dançando com o próprio Marcelo.

Ambos cuspíamos, bêbados, rindo de tudo aquilo como se fosse um passado que a gente pudesse um dia esquecer em detrimento de um futuro que viria sem nenhuma pressa.
A valsa já havia acabado e gente estava escorado um no outro, engasgando de rir a respeito de alguma merda que a gente fazia na aula quando, do outro lado do salão, metida naquele lindo vestido vermelho cintilante, Ariane levantou a mão num aceno de "até logo".

Sem nem me dar o trabalho de interromper o que estava dizendo pro Marcelo e pras duas Andréas, levantei o dedo médio bem alto como que dizendo "adeus".

Acho que ela entendeu, pois foi a última vez que ouvi falar de Ariane Goulart Barreiro e, a menos que ela me processe por isso, jamais ouvirei falar de novo.

Então, se o seu nome é Ariane Goulart Barreiro e te aconteceu algo parecido com isso, você que se foda.
Eu inventei esse nome pra substituir um outro nome que não vou dizer porque sempre achei que, dito em voz alta, ele traz má sorte terrível, causa terremotos em Tangamandápio, no México e afunda pequenas ilhas do Caribe.

Mesmo assim, baby, você teve o que mereceu.

E se o seu nome não é esse e a carapuça te serviu, lamento: você não pode falar nada.
Share:

1 comentários:

Anônimo disse...

magistral. [como sempre]