(texto publicado na Coluna do Meio, do Rockwave em 09/03/2006, com uma chamada de capa que dizia assim: "Coluna do meio - Uma coluna confusa, perdida e desorientada, assim, que nem você.")
Vamos dizer que,
de repente,
eu sinta o que você quer que eu sinta,
mas vamos dizer que eu minta.
Vamos dizer que, pra dizer isso,
você teria que ignorar tudo o que você sente que eu sinto e,
vamos dizer que isso, de repente, seja fácil para caralho.
Vamos dizer que haja um atalho.
Vamos dizer que eu, de repente,
te diga bem aquilo que você tem certeza que eu nunca diria,
mas que você morre de medo que eu diga.
Vamos dizer que eu tenha lombriga.
Vamos dizer que não, mas que, talvez, eu te siga.
Vamos dizer também que seja só uma dor de barriga,
mas vamos dizer que não, que eu não diga.
Vamos dizer...
Vamos dizer que, como um sol que se apagou faz muito tempo,
esteja eu apenas reluzindo uma luz que já existiu um dia
e que só não se apagou porque ainda não acabou de se propagar.
Uma luz morta que vamos dizer que só brilha porque ainda existe ar.
Vamos dizer que essa distorção que parece legal, que parece divertida,
seja só o melancólico último acorde de uma sinfonia
que - nunca - nunca mais vai se repetir.
Vamos dizer que, de repente, eu precise sumir.
Vamos dizer que eu talvez apenas com uma vontade imensa
de copiar o primeiro parágrafo de "On The Road", do Kerouac,
porque isso tudo tem a ver com uma doença terrível
sobre a qual não vale nem a pena comentar,
exceto pelo fato de que ela tem algo a ver
com a brutal e cruel execução de tudo que um dia senti
e a vigente sensação de que tudo está morto
e o que, o que não está, é inútil.
Vamos que, de repente,
você me diz tudo que você tem em mente.
Vamos que,
de repente,
você me diz tudo que você tem.
E mente.
Vamos que, de repente, você me diz tudo de que você é temente.
Vamos dizer que,
antes disso tudo,
eu mesmo digo,
de repente.
Vamos que a gente descubra o fruto proibido
e, com ele,
a serpente.
Vamos dizer que não haja uma planilha,
que eu peça truco sem manilha,
que acabe nossa pilha.
Vamos dizer que eu mude: pra Marília
e que Marília seja o nome da minha irmã
e que eu não a vi nesta manhã.
Vamos dizer que, talvez, eu tenha sido jornalista,
que tenha sido locutor,
que tenha sido ator
e que tenha sentido dor.
Vamos dizer que eu tenha sido namorado,
que tenha sido afastado,
que tenha estado errado.
Vamos que eu sou um idiota,
com cabeça de marmota
e te chame de cocota.
Eu, que tenho sido amante,
sem que tenha sido o bastante e que,
neste exato instante,
sei que eu, não obstante,
sempre fui eu.
Distante.
Sei que fui um sucesso
e sei que fui um fracasso,
sempre sucessivamente
e sempre da noite pro dia.
Vamos dizer que fui reticência,
que não tive paciência e que
depois, me descobri um ponto.
Ah, como sou tonto...
Me dá um desconto?
Vamos dizer que seja covardia.
Mas, vamos dizer que eu já sabia.
Vamos dizer que eu tenha aprendido a entender
e que tenha aprendido a esquecer e que, por isso,
sempre isso, tenho que aprender tudo de novo,
da galinha até o ovo.
Vamos dizer que talvez eu tenha que ir embora
e tenha que ir andando agora,
antes que seja preciso correr,
antes que alguma coisa comece a doer.
Vamos...
vamos dizer.
Vamos dizer que um dia eu cansei, no outro descansei.
E aí, bati e depois corri.
E depois parei.
E depois, não sei.
É dificil falar, então que falem por mim,
mas que digam assim:
não vou vender meu peixe.
Não gosto de peixe.
E odeio vender.
Quem me quiser, que me pague pra ver.
Sei que um dia sonhei que era outra pessoa,
uma pessoa boa.
Vamos dizer que eu estivesse certo,
mas que era tudo um sonho mas,
neste sonho, havia você por perto.
Vamos dizer que dia desses eu me vi desperto,
mas vi que tudo continuava deserto.
Vamos dizer que talvez seja muito, muito cedo,
mas vamos dizer que, não é nenhum segredo,
que talvez seja só medo.
Vamos dizer que, talvez, se eu fosse seco, cínico e falso,
domesticaria minha língua para que ela dissesse "está tchudo bem",
mas eu tenho um nojo enorme de qualquer pessoa que fala "tchudo bem" e,
somando isso com o nojo que sinto de mim,
apenas digo que não tô a fim e,
sendo assim,
este é o fim.
Vamos dizer que eu morra.
Vamos dizer que não.
Vamos dizer que - porra - eu só precise...
... de um tantinho assim da tua atenção.
(para o jonathan, que me mandou um scrap no orkut pedindo pra que eu repostasse esse texto. e pra joh que deixou um scrap lá - o que me fez lembrar que existe orkut)
2 comentários:
Já disse pra você que adorei ele né? O texto. Não o Orkut e nem o Jonathan. E embora eu não me orgulhe nem um pouco de te fazer lembrar que existe Orkut (ou ME lembrar do mesmo), não fosse por ele eu não teria visto o pedido do Jonathan lá e não teria 'solicitado gentilmente' com minha delicadeza peculiar, que você desencavasse o texto aí das entranhas dos seus arquivos. Pena que eu sou de escorpião. Você pode não entender o que eu quero dizer com isso, mas um dia eu explico e até desenho.
Beijo.
Me senti tão culpado por te fazer lembrar que existe Orkut kkk brincadeira! Parabéns pelo blog Tucori!
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