there ain't no such thing as the superman
Mito é uma coisa que você vê uma vez e nunca mais esquece.
Pra sempre, na sua vida, aquilo é que vai representar a idéia que você tem da coisa em si.
Toda vez que dá uma merda, uma merda daquelas bem grandes, o que me vem à cabeça é aquele final do primeiro Superman.
O carro de Lois Lane cai numa fenda e ele não chega a tempo.
Ele tira o carro de dentro da fenda, tira Lois de dentro do carro, beija seus lábios mortos e a coloca outra vez no chão. Corre a mão pelo rosto dela e sente o calor indo embora. Faz-se um silêncio insuportável enquanto ele fica ajoelhado junto ao corpo dela.
Era aquele silêncio de ouvir as pessoas fungando no cinema.
Então, ele se levanta, dá um passo cambaleante para trás e apruma o corpo.
A câmera fecha nele enquanto ele balança a cabeça e chora.
O choro vai virando fúria, a fúria toma forma de um grito e ele parte cortando o céu até topar com uma nuvem com a forma do rosto do Marlon Brando que diz que ele não pode fazer aquilo que está pensando em fazer.
Ele manda o marlon Brando tomar no cu e faz o que estava pensando em fazer, do mesmo jeito que imaginou.
Dá voltas e mais voltas em torno da Terra até que o tempo pára e volta atrás, cuspindo o carro de Lois pra fora da Terra e Lois de volta pra vida.
Aí, tudo que tem a fazer é parar do lado do carro e dizer “Hi”.
Afinal, ele é o Superman.
Ela, claro, desfia uma série de reclamações do tipo “onde vc tava quando eu precisei de você?” porque, afinal, super ou não, Lois é uma mulher.
Ele olha pra ela, com aqueles olhos azuis brilhando por ter a mulher que ama viva novamente, e diz com aquele sorriso de Christopher Reeves: “eu me enrolei com algumas coisas”.
As vezes, eu queria ser capaz de fazer isso.
Mas é como o Gil-Scott Heron diz: there ain't no such thing as the superman.
1 comentários:
E, naquele dia, todos tiveram uma segunda chance: quem estava feliz pode sorrir de novo; quem falhou pode tentar novamente.
Postar um comentário