Pelas cores na primavera do mundo que você me deu
Que vida é essa em que a gente estuda, trabalha, rala o cu na ostra por um bocado de reconhecimento e as coisas mais bonitas do mundo acabam parecendo programa do Sílvio Santos, onde, se você não ganha, quem ganha é a carta?
Com esta carta, no entanto, quem ganha sou eu.
Desde sábado, tenho companhia na cama.
Toda noite, depois do beijo de boa noite, prolongo nossa conversa o tanto quanto posso – mesmo sabendo que ela está me dizendo as mesmas coisas da noite de ontem e torcendo a mesma palavra quando o mesmo ônibus decola na mesma lombada – e, antes de ir pro meu lado da cama, ganho mais um beijo de boa noite.
E cada beijo desses me vale um mundo, com todas as pessoas, coisas e sonhos que um mundo inteiro tem.
Aí, antes de dormir, faço dela meu pensamento bom, aquele que levava Peter Pan de volta pra Terra do Nunca, e durmo como melhor amigo de Alberto Luiz de Souza Araújo, escalando as prateleiras da sala da segunda série B do Centro Educacional Júlio Pereira Lopes enquanto a Tia Rosângela foi ver a variant laranja dela que perdeu o freio, desceu a ladeira e se espatifou contra o muro.
No dia seguinte, enquanto faço café, vou cantando baixinho e olhando os poemas trombando nos móveis e no armário do banheiro, enquanto correm pelo chão da kitchenette.
Toco músicas pros poemas dançarem e, quando saio na rua, eles se balançam nos cabelos da minha sombra projetada na calçada da Paulista.
Fico tentando puxar os poemas com os olhos, até colar um deles no papel, mas nem sempre dá tempo pra isso.
E eu nem me esforço muito nessa perseguição.
Hoje peguei um, dentro do ônibus, e ele me pareceu um pensamento solto – agora preso pra sempre no papel do meu zibaldoni.
Porque, por mais que não me esforce na perseguição, sempre é um prazer pegar um poema nas mãos e ficar com o perfume dele no corpo pelo resto do dia.
Se tem uma coisa que eu gosto em poemas é que o caminho até eles vale mais que eles todos.
Posso estar florindo,
rindo e sorrindo, mas,
mais que a flores,
vale mais quem assina as cores
dessa primavera.
1 comentários:
Fico até preocupada de comentar num post desse porque eu sei que eu vou falar merda (isso é mais do que inevitável, é involuntário), então só digo que desnorteei aqui no trabalho e esqueci o que tava fazendo. Vê? Até quando eu não fico on você dá um jeito de 'atrapalhar' meu rendimento...
E tem um tanto de tag 'Joh' ali hein. Tô perdendo só pra 'Terremoto Torquemada', mas acho muito justo hahahahaha (percebe que eu ignorei o empate com 'carnaval', né?)
(Beijo)
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