3.11.08

Uma noite como vocal do Unplay




Fui de táxi, você sabe.
Nunca tinha feito aquilo.
Era sexta-feira, véspera de aniversário da Louise, batera do Unplay e eu estava indo pro Fidalga 33 substituir o insubstituível Ricardinho como vocalista da banda dela.
A gente tinha ensaiado no sábado passado e tinha tudo ido relativamente bem.

O mais legal foi que, dia desses, tava procurando alguma coisa diferente na prateleira de bebida do Futurama e achei uma garrafa de Jurupinga.
Não lembro quando custou, o que – por si só – já mostra que o fator “preço” não foi determinante na escolha.
Quando enchi o copo e tomei o primeiro gole, a Louise me perguntava – ao mesmo tempo - por e-mail se eu não toparia substituir o Ricardinho no show do Unplay no aniversário dela.





Repare: Jurupinga me lembra Fidalga, que me lembra Unplay, que me lembra Jurupinga, que lembra Fidalga que lembra Unplay.

Naquela noite, eu tava bem cansado porque, com a Glaucinha de férias, ando fazendo a redação de notícias no Atualíssima e minhas crises de narcolepsia dentro do Praça Ramos andam cada vez mais constantes, o que – por si só – já mostra que o cachê não era importante.
Pensa bem: você tá com dois trabalhos – ambos pesados – e faltam só duas semanas pra você estrear uma peça difícil pra caralho de se fazer... Você vai topar substituir o vocalista de uma banda, num show marcado pra noite anterior ao último dia de ensaio livre da peça?
Evidente que sim.
Onde é o show?
“Fidalga”.
E lá estava eu na fila do Fidalga.

Na minha frente, um amigo meu da Pan com a namorada.
Logo depois deles, um outro casal perguntava ao cara que fica com as comandas que banda iam tocar naquela noite.
“Vai ter duas bandas”, ele disse e eu já achei que ele tinha esquecido o Unplay, mas ele se corrigiu. “São três bandas. Duas de pop-rock e outra faz umas versões escrachadas pra músicas conhecidas”.
O casal se interessou e resolveu entrar na mesma hora que o Luizão chegou.
O Luizão e eu entramos praticamente juntos – o que praticamente liquidou meu medo de estar atrasado.




“Eu sou o Fernando. Vou substituir o Ricardinho, vocal do Unplay”.
Ele me procurava nas suas comandas de bandas.
“Procura Tucori”.
O rosto dele se iluminou e ele me estendeu a comanda certa.
No alto dela: “TucorE”.
Um pouco pra baixo: “Ricardo”, todo riscado.



Entrei e já mostrei a comanda pro André e pro Rogério: “Olha: agora assim eu me sinto substituindo o Ricardinho”.
A Louise chegou e ficou rindo do nome do Ricardo riscado e a gente começou a chamar o Ricardinho de “Riscadinho” e lembrei de perguntar pra ela se o aniversário dela já estava sendo e ela disse que não, que só depois da meia noite que era.
Então, quando fosse aniversário dela, ela ia estar tocando e ela achava legal aquilo e que era uma coisa difícil de rolar.
Só consegui lembrar de uma vez que rolou coisa parecida comigo, que foi na última temporada de 2006 de Júlio César, que calhou de ter apresentação justo no dia do meu aniversário.
E que a Rose – que faz aniversário no mesmo dia que eu – tava na platéia assistindo.

Fui pro bar pegar uma jurupinga e tava todo o pessoal da Pan lá.
Tava o Renato, a Marina, a Isadora, a Maíra com o Lelo e eu encho tanto o saco do Lelo, perguntando pro Di porque é que o Elemento 13 só faz show acústico e ele sempre responde: “Porque o baterista nunca vai tocar”.
E o Lelo é que é o baterista do Elemento 13.
E eu só faço essa pergunta quando o Lelo tá do lado do Di e pode ouvir a resposta claramente.
“O baterista veio!!”, ele me disse e – verdade seja dita – o Lelo sabe o que faz.



E aí, quando voltei pra falar com a Louise, o Ivan tirou uma foto da gente e aí, existe um detalhe.
Quando a gente foi ensaiar, sábado passado, eu prometi pra Lou que eu ia de Che Guevara e realmente fui.
Macacão verde, boina e camiseta vermelhas e o tênis que melhor me coube. Evidentemente a brincadeira rendeu que rendeu pra noite toda.
E eu tinha trazido um charuto, pra acender na hora de “Mizifio”, a versão Unplay pra Suzie Q. E o charuto me deixava ainda mais com a cara do Che.

O Ivan tava com uma puta máquina legal e tava curtindo de verdade tirar fotos. Ele me passou o endereço do site dele (www.vangusphotoart.com), pra que eu pudesse entrar e ver as fotos que ele faz. “Na vida, ocasionalmente temos sorte de viver um momento ideal – um momento em que algo nos impressiona tanto que a imagem daquele momento fica pra sempre em nossos corações e memória”: é isso que você vai ler na página de entrada do site dele.
E ele tem toda a razão.





A gente ficou um tempo falando sobre essas coisas que impressionam a gente e que precisam ser registradas.
E eu falei pra ele que, pra mim, escrever é isso.
É lembrar desses momentos e contar do melhor jeito possível.
Ele me pergunta como é que eu consigo lembrar tudo e eu não sei nem o que eu respondi, sei que a gente só lembra o que não dá pra esquecer e, com o tempo, você vai pegando a manha de aumentar o número de coisas que te impressionam e, depois, vai saltando de uma pra outra, costurando no meio delas.



Os copos de jurupinga acabam muito rápido na minha mão e eu decido pegar pesado. Não posso fazer desfeita: eu sou membro fundador e vocalista do Terremoto Torquemada e, como tal, sou convidado a cantar com o Unplay.
Logicamente, isso pedia um Dreher porque é no Dreher que Terremoto Torquemada se afoga.
E eles só tinham Domecq.
Ah, vai assim mesmo.

O André me pergunta se eu peguei o conhaque com o barman ninja.
Não lembro o nome dele, mas faz um tempo, o Fabinho me apresentou e disse que ele é lendário na noite.
E a gente fica uma cara falando sobre as agruras de se tocar na noite.
Falo pra ele sobre o Hélio Matheus e o Rogério mostra que é um adorador de conhaque barato da mesma laia que eu.
Justamente por isso, o copo de Domecq não dura muito e, quando eu vou pegar o segundo, a banda já tá no palco.

E dessa vez, eu pego com o barman ninja, que me serve uma dose maciça de conhaque.
Vou pro palco bebendo e já vou dividindo com o Rogério.
Quando vou ver, tem só um dedinho de Domecq no copo.
O Ivan me diz pra tomar cuidado pra não pisar nos pedais da guitarra.
Mostro pra ele o copo com dois dedos de conhaque e digo “caralho, já acabou” e o Ivan me mostra a garrafa dele, com os mesmos dois dedos de conteúdo e diz: “relaxa que é assim mesmo”.
E aí, o show começa e é do caralho.




O medo que a gente tinha de tocar pra casa vazia virou pó assim que a luz acendeu.
E o povo pirou da primeira (“A Vaca e o Frango” – versão de “I Wanna Hold Your Hand”, dos Beatles – que tive a ousadia de dedicar a disputa entre Marta e Kassab, que aconteceria domingo, dando vitória ao Frango Kassab) até a última (“Até os meus discos” - versão de “American Jesus”, do Bad Religion – que aparece filmada num post abaixo).
Um monte de gente veio falar comigo depois do show e todo mundo disse que tinha sido legal e eu, besta que sou, acredito. Pelo menos, minha missão tava cumprida. O que eu pretendia era ir do começo até o fim do show sem que ninguém berrasse “sai daí, caralho” pra mim. Outro objetivo que eu também cumpri foi não pisar nos pedais do Ivan, que estavam perigosamente bem atrás de mim.
Podia dizer bem mais.
Podia dizer muito mais, porque, afinal, esse é meu trabalho.
Contar histórias.
Mas eu não estava trabalhando naquela noite.
Se você não viu: azar.
Pelo menos tem vídeos que o Japonês mandou.
Como esse aqui:


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8 comentários:

Louise disse...

Cheeeeeeeee! Foi ducaraio!
Realmente, como vc faz pra lembrar tudo isso e escrever aqui?
Eu parei com esses lances de blog por causa disso... rarará!
Amay o post!
Valeuzão!

bjos,
Lou

Anônimo disse...

uhauhauauh
porra.. comovente..

concordo com a louise... como que voce lembra de tudo isso heim??? fiquei ja meio assim de ter lembrado no dia que eu era o lelo e que eu tocava na banda.. CLARO só no elétrico.. pq no acustico nunca vou.. hahaha

Sucesso tucori..
Abraço

Priscila Freitas disse...

e a garrafa sempre na mão! Arrasa!
hahaha

Kakaya disse...

Não entendi nada do vídeo, mas assisti em consideração e curiosidade!rsrsrss!
Poxa, mt legal mesmo vc contar!
Mas hein, estou curiosa também para ouvir essa aí da vaca e o frango!rsrsrs!
Hein, comenta no meu pq enfim atualizei e tô carente de ibope!rsrsrs!
Abraçãaaaao!
Ah!Sucesso na peçaaaaaaa!Queria tanto ver!

Mafê Probst disse...

E eu falei pra ele que, pra mim, escrever é isso.
É lembrar desses momentos e contar do melhor jeito possível.
.

E tem tantas formas de escrever e gravar os momentos nas palavras...

Jamille Lobato disse...

No blog da Maria Fernanda eu encontrei seu post e automaticamente entrei no seu perfil porque a blogosfera é uma coisa que eu me interesso bastante. E ai, eu encontro esse post, que me fez lembrar de uma situação muito legal de minha vida no passado, enquanto eu ainda cantava e ainda fazia teatro, bons tempos... pena que não voltam mais.
E se a vida não tivesse dessas escolhas inesperadas, talvez não teria tanta graça e emoção.

Abraços

Kakaya disse...

Olha o meu blog!

Rogério Leandro Mendes disse...

Caralho...muito legal este texto...
e uma pergunta que acho que nunca ninguém fez: Como vc faz pra lembrar de todos os detalhes?? haha
abraço