There must be an angel (parte 02)
tava saindo da band pra ir pra pan. meio dia e pouca coisa no ponto da comendador adibo aires (eu adoro o nome desse porra), pertinho da entrada do albert einstein. uma senhora atravessa a rua com o filho. ele vem comendo trakinas. o pacote pela metade. uma parte ele deixacair no chão. outra ele consegue botar na boca. o menino vem, sobe no banco, sorri pra mim com os dentes cheios de bolacha, eu sorrio com os meus cheios de nicotina e ele diz, levantando o pacote de bolacha na minha direção:
“Quer?”
“Não, obrigado. Eu tô com bala na boca. Quer bala?”
“Eu quero”.
tirei um Halls vermelho, com sabor de oitava C, sabor de primeiro beijo e dei pra ele. dei outro fechado e disse pra ele que era pra depois.
a mãe disse que ele não sabia comer bala de chupar.
ele abriu a boca e deixou a bala cair no chão.
expliquei pra ele que a bala era dura, então só podia chupar.
uma velha que já tava no ponto, com cara de bruxa e bandagem na perna direita, fica enchendo o menino de pergunta. quer saber se ele tem namorada. ele diz que tem duas. ela pergunta a idade dele e ele faz “três” com os dedos e responde “cinco” com a boca. ela acha que é cedo pra ele namorar, ainda mais com duas ao mesmo tempo, mas fica toda assanhada querendo saber como eles namoram. quer saber se ele beija as duas. ele responde que sim, que dá selinho, mas não nas duas ao mesmo tempo. ele diz que gosta das duas e que as duas gostam dele, mas que uma bate nele e a outra não. e ele diz que gosta mais da que bate nele. a que bate nele chama larissa. a que não bate chama gabriela.
ele me pergunta se já pode comer a outra bala e eu respondo que sim, claro, já que a primeira caiu no chão, mas que ele não pode morder. ele põe na boca e morde uma lasca da bala. fica com a bala na mão e mastiga a lasca que arrancou.
chega o Praça Ramos.
subimos os quatro, o menino, a mãe dele, a bruxa velha e eu.
eu tô morrendo de sonbo e trato de ficar longe do menino. uns 15 minutos de sono iam fazer uma diferença enorme no resto do dia. ia ter ensaio a noite ainda.
longo.
sentei e nem liguei o mp3.
dormi direto.
na curva pra entrar na teodoro sampaio, eu abri os olhos e vi que a mulher e o menino iam se preparar pra descer.
tentei continuar dormindo.
o menino vem na frente da mãe, em direção à porta do fundo. ela chama atenção dele. mal abro os olhos, mas sinto a presença dele. ele me dá um beijo na cabeça, em cima do boné que estava abaixado na frente dos olhos pra me proteger do sol. abro os olhos e a mãe toca o menino pra fora do ônibus. “deixa o moço dormir”, ela diz.
ele acena pra mim da calçada.
aceno de volta.
abaixo a cabeça e encontro no meu colo uma trakinas.
um presente do menino, com um sorriso rosa, olhando pra mim.
4 comentários:
que coisa fofa!
fiquei imaginando as carinhas (dos dois "trakinas", é claro)
Amei.
Que gracinha!
Estou apaixonada por crianças!
Beijooooos!
Criancas sao criaturas magicas!Capazes de fazer qualquer um sorrir ou chorar!
Adorei a historia.
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