Sacrifício?
Você vai achar que eu estou louco, mas acho que precisamos fazer um sacrifício.
Não, não.
Nada de bois, de bodes, de pombos.
E preciso sacrificar algo maior.
E é aí que eu me pergunto qual é o sentido de sacrifício.
Do que é, afinal, que estamos falando?
A gente vive de escolhas. Comer bem, de boa e pagar caro, ou comer barato e correndo? É uma escolha: fumar ou não? A gente sabe que, tinha uma marca de cigarro que dizia que tudo isso era uma “simples questão de bom-senso” e não é. É um contra-senso. É senso nenhum.
De todos os sensos, o que eu mais prezo é o senso de humor. Porque ele me deixa rir da morte. E porque, em cada uma dessas escolhas aí, tem uma porçãozinha proporcional de vida e também de morte.
Se sua banda quer tocar na garagem da casa do tio do baixista ou se ela quer tocar em Wembley, isso é um problema todo seu. Só que, a partir do momento que você decide ser a banda da garagem do tio do baixista, a banda de Wembley morreu. E você vai ter que ter muito senso de humor – e nem um único pingo de ironia – para aceitar que a banda de Wembley está morta e seu sepulcro não pode mais ser localizado. Você sacrificou a desgraçada e, se não sacrificou, nunca vai conseguir ser a banda de garagem que toca na casa do tio do baixista.
Simples assim.
Mas por que dá tudo errado?
Acho que é porque a gente perverte um pouco o tal do sacrifício. Dá nomes mais rasos pra ele, como “escolha”, “decisão” e, aí, fica meio que um deixa que eu deixo que não passa de um engodo. Porque é assim, como se em Romeu e Julieta, Julieta acordasse, visse Romeu morto e jogasse mais veneno na boca dele pra ter certeza de que ele ia permanecer morto mesmo.
Aí, tem Jesus, que morreu pelos pecados de alguma pessoa, mas não pelos seus.
Aí, como é que eu vou sacrificar alguma coisa se Deus não existe?
Ou mais: porque é que eu vou voltar as duas quadras que a gente combinou que a gente ia voltar se eu sei que você não vai voltar.
Porque nós somos todos uns gordinhos mimados, criados com uma antena de TV nos nossos rabos desde moleques e que achamos que sofrer é errado, que sofrer é inútil, que sofrer é vão e que sofrer é feio. A gente vai sofrer. De algum modo, a gente vai sofrer. O lugar onde bate o ponto é meio esse: por que é que a gente sofre tanto na hora de sofrer? Um: porque a gente nunca sofreu, então, a bunda da gente virou louça porque a gente acha que sacrifício é meio que juízo final, quando na real, é um parente bem próximo da redenção.
O que nos resta, homens e mulheres, é crescer. É aquele sorriso que o Humphrey Bogart dava, que parecia que o lábio superior dele estava cortado ao meio, quando encarava a morte. A gente foi criado pelo cinema também, então, por isso, o exemplo vale apenas com exemplo. Não dá pra imitar, tem que ser de verdade.
É aquele melhor senso.
É o senso de humor.
Porque escolher uma coisa é sempre renegar outra, mas, mais do que renegar: é esquecer e perdoar o engano que fez com que ela existisse. E é fácil ficar perdido em círculos fazendo isso, deixando tudo que crescer além da altura da testa morrer de fome por ter se atrevido a tanto. Do mesmo modo que a gente usa nossa coragem pra tirar a vida, a gente usa também pra dar vida. E coragem vem de cuore, que é coração e o coração tem que saber o que quer. Mais do que isso: tem que saber o que quer mais e o que quer menos. E, quando quer tanto um quanto outro, tem que contar com a cabeça pra saber que pode acabar ficando sem nada.
A não ser, é claro, que haja um sacrifício.
E pessoas que fazem sacrifícios são todos, sem exceção, heróis. Nós não somos heróis. Somos humanos que mijam nas calçolas de rir de heróis. Porque, afinal, heróis sejam os outros. Nós não: não nascemos para isso. Nascemos para ser uma promessa de felicidade eterna perdida em círculos, com medo do escuro, dentro do poço sem fim em que se meteu.
Quanto tempo faz que a gente anda caindo nas armadinhas que a gente mesmo botou, pra garantir nossa própria segurança?
Quem melhor disse foi Catão: “Delenda Cartago”.
Ou seja: que não reste pedra sobre pedra.
Hit it.
5 comentários:
rapaz!
vim parar aqui pq vc comentou noblog da pri, e qualquer doido que se diverte com o blog da priscila sópode ser no mínimo interessante...
de cara já gostei do nome do blog, não comentei mas fucei outros posts. adorei!
e sim ..não suporto gente que vive no quadradinho.
tudo é questão de escolher e arcar com as consequências de suas ações.
bj
iara
Que tapa na cara em pleno domingo a noite!
Tapa dos bons, que doi mas faz a gente pensar. Gostei!
Ahh Iara ai em cima gente!!! haiuahiuahia
Bom, o problema de todos nós é que crescemos acreditando que todas as nossas escolhas devem ser perfeitas, porque se erramos, seremos condenados por isso. É essa velha relação de pedir perdão pelo pecado cometido que eu odeio. Porque as pessoas não passam a entender que os erros e o sofrimento podem se transformar em aprendizado???
Ohh, add vc no meu blog tb!!! Sempre que puder, eu passo aqui,ok???
Bjaaaaaoooooo
É, adorei!Tenho que pensar mt sobre isso!
Sou sua fã....
Vou sofrer um pouco mais e já volto!
beijo
Re
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