31.7.08

O Fim de Terremoto Torquemada?




Direto ao assunto: o Igor e eu estamos proibidos de tocar na casa dele.
Isso quase acabou com a banda.
Sejamos justos: A banda.
A melhor de todas as bandas.
Terremoto Torquemada, influenciada largamente pela lógica paxaísta de manutenção da sanidade e que nunca repete a mesma música duas vezes.
Justo quando eu tava quase acertando a letra para "Alhos Com Bugalhos", uma música de ineditíssima parceria Tucori/Pontes/Cizauskas - Lennon e McCartney... bah!
Aconteceu que a gente deu uma festa lá na casa do Igor.
Como bom anfitrião, depois da meia noite, o Igor virou abóbora.
Travou de bêbado e dormiu numa cadeira perto da churrasqueira.
Foi removido para a cozinha, dormiu mais um pouco lá dentro (tendo dançado uma espécie de reformulação contemporânea da dança do tamanduá africano durante parte do trajeto).
Depois, ele foi imprudentemente removido para a sala, que é um lugar onde a permanência de bêbados deveria ser completamente vedada.
Sim.
Porque bêbados vomitam no sofá - e sofás são difíceis de limpar, como o Igor viria a descobrir no dia seguinte.
Para todo o resto de nós, aquela seria uma, apenas uma, entre as lições da noite.
Tudo bem que o Igor tinha que ter cuidado da casa, mas era eu quem tinha que ter tomado conta do Igor.
Eu até tentei ser a pessoa sensata que eu sou: "Deixa ele aqui fora mesmo. Ele vomita aqui na grama, a gente limpa - ou a Mona Black Dog come tudo - e tá tudo bem"
Tá...
Alguém ouviu?
Não...
É que tem sempre uma daquelas pessoas super-zelosas.
Justamente uma dessas pessoas decidiu que era melhor levar o Igor para a cama dele.
A menina tava com a melhor daquelas boas intenções que superpovoam o inferno, eu sei...
Ela não sabe do sistema de auto-limpeza que a gente, que foi criado fazendo merda em todo lugar, tem.
Quando eu vi, ele já estava no meio da cozinha tombando perigosamente para cima da mesa de vidro.
Foi nessa hora que - super-mouse-seu-amigo-vai-salvá-lo-do-perigo - consegui agarrar o Igor pela cintura e tirar ele do chão por tempo o bastante pra alguém botar uma cadeira embaixo.
Beleza.
Estava plantado o primeiro homem-samambaia da noite.
Bem plantado?
Não muito.
Afinal, quando eu voltei lá pra ver como ele estava, ele simplesmente não estava.
O Emanuel, baixista da banda dele, também extra-zeloso, levou o Igor pra sala, botou ele deitado no sofá. Naquele mesmo sofá, onde o pai do Igor assiste jogo de futebol.
No sófá da sala, que fica - sim - na sala e que tem - sim - carpete embaixo dele.
Quando eu cheguei, o Emanuel tava olhando pro sofá, andando de um lado pro outro, tentando abrir um buraco no queixo, coçando forte com o dedo indicador.
No sofá, dava pra ver os pés do Igor.
Deu medo.
Fui lá, pra ver de perto, e o medo tinha fundamento...
Aquela bunda feia tava descoberta, metade dela pra fora.
Pô... eu sou ator...
Convivo com atores e sei o quanto é perigoso permanecer com a bunda descoberta numa festa em qualquer circustância.
Tem um ditado que fala sobre isso, mas não me lembro agora. Fala de "bêbados" e de "não ter dono".
Por via das dúvidas, achei melhor espirrar Veja na bunda dele.
Deu certo: ele me xingou, xingou minha mãe, xingou o Emanuel e puxou as calças pra cima até cobrir a bunda.
A bunda dele teria sido o único problema, se ele não tivesse sentido a diferença entre estar na vertical e estar na horizontal.
Vomitou no tapete, vomitou no sofá, vomitou na camiseta e, por sorte, parou por aí.
A gente tentou limpar, mas não adiantava.
Até limpava, mas não era bem "limpar".
Era outra coisa, mais parecida com "espalhar". Quer dizer...
Quem fazia isso era menina que tinha levado ele pra cozinha.
Eu não ajudei muito.
Só ficava espirrando Veja no chão e falando "Yuuuuuck! que nojo, Igor... Não acredito que você comeu isso".
Aqui se faz, aqui se paga.
Mais tarde foi minha vez.
Só que ninguém me ajudou a limpar nada.
Deve ter sido porque eu mesmo não limpei.
Quer dizer: limpei, mas daquele jeito.
O jeito parecido com "espalhar".
Antes disso, mea maxima culpa: fui eu quem pegou os violões, era eu quem tava cantando blues com letra inventada na hora, fui em quem zerou o garrafão de vinho ruim, fui eu quem trouxe cobertor pra todo mundo que tava dormindo na sala, fui eu quem desencanou de dar a festa como terminada e, sobretudo, fui em quem saiu pra dar uma volta e acabou acordando no dia seguinte, são e salvo, na minha cama.
"Quem foi que vomitou no banheiro?".
Não teve nem "bom dia" quando eu cheguei na casa do Igor no "day after", pra visitar a terra arrasada.
"Fui eu, desculpa...".
Não adiantou.
Ele e eu estamos terminantemente proibidos de tocar novamente no quartinho da casa dele.
Ordens do pai dele, que - na boa - tem toda razão.
Assim sendo, Terremoto Torquemada, banda mais legal do mundo, não faz mais shows.
Pelo menos não faz mais shows com guitarra, baixo e bateria.
Agora, a gente tá tocando violão, sossegadinho, esperando todo mundo achar a gente bonitinho, legalzinho, limpinho...
Aí a gente pluga os instrumentos de novo e lembra os vizinhos dos pesadelos que eles esqueceram.
Mas, no fundo, no fundo, bem no fundo...a gente sabe.
Você pode tirar um tigre da floresta,
você pode cortar as garras dele,
você pode deixar ele banguelinha
e você pode ensinar ele a comer só pizza...
... mas ele nunca vai deixar de ser um tigre.
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2 comentários:

Renatinha disse...

Que texto ótimo!!!!
Se eu fosse pai ou mãe do Igor matava vcs....
beijos e aguardo convite para o próximo show...
beijo

Anônimo disse...

O que eu preciso fazer para tocar com essa magnifica banda.

Lonly bird with no hay band !