30.5.08

Por que eu quebraria o Chico no meio





Não é ganhar na bola, do jeito bonito.
Não é nem ganhar feio.
Não.
Nem ganhar é.
Nada de machucar também.
Só bater mesmo.
Nada definitivo.
Um presente da sensibilidade prática de um estivador.

Quem me ouve falar e tem saco pra escutar o que eu falo quando parece que não tô dizendo nada, já deve ter me ouvido bater na tecla de que, mais de ver um show de alguém de quem gosto e admiro, o que me daria mais prazer seria fazer alguma coisa junto com esse alguém. Aí sim, eu poderia aprender alguma coisa com essa minha sensibilidade prática de estivador. Nunca sonhei que assistia a um show do Bowie, mas sonhei que fazia um show COM ele na área com sombra da piscina do Hotel Esplêndido, em Poços de Caldas, em Minas Gerais. Já sonhei que tocava gaita em rodinha com o Homem Pássaro e o Bob Dylan, enquanto o Igor fazia batuque em um penico, na noite que o Penin foi embora pra Bahia.
Com o Chico não. E não é porque eu não goste dele - justamente o contrário: gosto pra caralho dele. Eu sempre achei que, pra entender o Chico direito, eu teria que jogar bola com ele. Tudo bem que isso deva ser o equivalente, na minha sensibilidade prática de estivador, a entrar na comunidade “eu daria pro Chico”, que existe no orkut, mas é bem o que é.
É foda, mas é a real do brasileiro: quem tem, tem pra caralho, quem não tem, tem cada vez menos e, não importa quem você seja ou o tamanho do seu pau, tua mulher daria pro Chico.
Eu só queria jogar bola com ele porque, jogando bola com ele, talvez eu entendesse melhor o que ele faz e como ele faz. Como ele pensa? Como ele chuta? Pra quem ele passa? Quem ele vê quando ele lança? O quanto- pra ele – é longe demais pra se chutar pra gol? Quero estabelecer limites mais amplos pras fronteiras pra pergunta: “o que ele faria no meu lugar?”. Não é isso que a gente espera do nosso herói?
Entretanto, o meu herói de hoje é Bob Dylan que me botou a alma de volta pra dentro do corpo dizendo que se é pra viver além da lei, como bom anarquista, é melhor tratar de ser honesto.
Por isso, eu acho que eu trataria de quebrar o Chico no meio se fosse jogar contra ele. Não é ganhar na bola, do jeito bonito. Não é nem ganhar feio. Não. Nem ganhar é.
Não faria isso com Dylan, assim como não imagino o velho Bob correndo trás de uma bola por nada. Dylan tem suas manchas e eu acho que todo herói precisa de manchas, porque, senão, vira um herói invisível.
Essa de quebrar o Chico no meio seria minha mancha de presente pra ele, pro meu herói. Por isso nada de machucar. Só bater mesmo. Nada definitivo.
Só um modo de dizer pra ele que ele pode ser inteligente, pode ser bonito e pode até ser legal, mas que tem muito mais de nós, vagabundos fedorentos no mundo e , se ele não quer ser lembrado pra sempre como essa unanimidade burra que hoje é, é melhor ficar esperto.
Os heróis invisíveis são os melhores e os piores heróis que existem, porque você só vai ficar sabendo se eles são o que eles são de verdade se eles deixarem de ser invisíveis. E, quando isso rola, o problema é seu e dos seus olhos.


aí, vem o fábio e posta o seguinte comentário:
Posso afirmar (porque já joguei futebol com você) que se houvesse uma oportunidade você quebraria MESMO! Com o maior respeito...


e eu respondo:
por falar em quebrar...
as duas travas de chuteira que eu esqueci no seu perônio.... vc vai devolver ou não?


entendeu o que é a "sensibilidade prática de um estivador"?
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