30.9.11

A primavera chegou, Bandini



No começo, tudo que eu queria era escrever.

Tinha aula de redação na quarta série e, se fosse depender da professora, chegava o fim do ano, mas não chegava o meio do caderno.

Veja bem: isso é 1983 e minha mulher nem tinha nascido ainda e Bill Gates e Steve Jobs ainda eram amigos (ou não).

Basicamente, eu escrevia pra falar palavrão e eu nem falava palavrão pra caralho que nem eu falo hoje.

Depois, o esquema mudou: passei a fazer historinhas de super-heróis. Eu era um terráqueo no meio de alienígenas (hoje, esse 6 me parece mais um 9).

Meu nome era Alpha-Star e, quando eu fiz o lance Buck Rogers que me levou pro futuro, eu só levei meus discos. E o futuro era o ano 2000. Eu copiava enredos dos Thundercats e dos Transformers e, no fim, batia em todo mundo e salvava a mocinha.

Eu fui Faraday, um pugilista peso-pesado que resolvia lutar para vingar o pai, assassinado por mafiosos - uma mistura de um Rocky Balboa e um Matt Murdock que não era cego.

Daí vieram os quadrinhos, os Ramones, a MAD e eu resolvi que ia ser o novo John Buscema. E então veio a punheta e misturou tudo pra cuspir logo em seguida, agora com ordem de importância.

Eu derretia chumbo de espingarda de pressão pra despejar num azulejo frio e, então, fazer esculturas tão lindas que me envergonhava ter feito.

Agora, quase 15 anos depois (um pouco mais, um pouco menos), vou vivendo essa estranha experiência de olhar pra trás e reconhecer meus filhos.

Cada um deles.

Até os mais errados, os mais fodidos e os tais maus pagos.

De olhar pra eles, eu consigo dizer de onde de mim eles caíram.

Eles são o que eles foram.

Eu não tenho a mesma sorte, mas tenho sorte ainda maior.

Posso olhar pra frente e me tornar o que sempre fui, porque, no fim, o que eu quero é só escrever.
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1 comentários:

Lucia Freitas disse...

Oi, Tucori!!!
faz tempo! amei, porque isso a gente tem em comum: tudo o que eu sempre quis foi escrever.
beijo grande, sumido!