20.8.09

36 anos




Hoje é o dia do meu aniversário.
São onze horas da manhã e eu não gravei a mixtape que eu me prometi gravar.
Tem problema não.
Tô fazendo faxina aqui em casa e pensando na vida.
Hoje de manhã, não era nem oito horas, eu tava de pé.
Esqueci de desfazer os despertadores todos, programados pro meu primeiro dia de trabalho na Record.
Meus pais me ligaram e deixaram uma mensagem falada no correio de voz do celular.
Sabe lá Deus quando eu vou poder ouvir.

Não era nem nove horas da manhã e eu achei que era uma boa hora pra sair e ver o mundo.

Fui naquela loja de cama, mesa e banho que desde mudei pra cá queria ir.
Como o que tem de mesa em casa não conta como tal, comprei coisas de cama e de banho.
Comprei duas toalhas novas, uma roxa e uma azul e vermelha, e agora, posso jogar fora as toalhas velhas.
Só não vou jogar aquela que ganhei do Billy Ficca, do Television porque não é todo mundo que ganha uma toalha branca e limpa do Billy Ficca.
Ela não tá assim tão branca e nem tão limpa, mas, mesmo assim fica.
Ficca.
Comprei dois travesseiros novos e não vou jogar fora os velhos não.
Vou jogar aquele de espuma porque nem travesseiro de albergue é tão xexelento.

Não tem uma única roupa suja aqui em casa.

Levei na lavanderia e prometi pegar amanhã.
Deu 60 reais a conta.
A Rejane, que trabalha lá, olhou o tanto de roupa que eu tava levando e perguntou “mas faz tempo que você não lava roupa, hein?”.
É.
Fazia tempo. A última vez foi no final de março.
Depois, foi tudo pedindo emprestada máquina de lavar da Calu e voltando da Japurá até aqui equilibrando três sacolas que me faziam andar de um jeito bem esquisito.
Assim como aconteceu com Bob Dylan, as pessoas achavam que eu era mendigo.

Meus pais ligaram.
Provavelmente estavam no carro.
Ligaram do celular e falaram rapidinho.
Eu tava tomando café e comendo biscoito de leite, na janela, embasbacado com o email que recebi da Joh, dando bom dia e fêliz aniversário.
A foto que ela me mandou é a coisa mais linda do mundo.
Peço perdão a ela por usar o “coisa mais linda do mundo” outra vez, mas não existe nada mais lindo no mundo, em lugar nenhum e foda-se.
Meu mundo é outro e foi ela quem deu pra mim.

Logo mais vou tomar banho e ir até a Jovem Pan, me despedir dos amigos que ficaram lá. Fiquei uma semana correndo atrás de documentos e acabou que saí de lá sem me despedir de ninguém. Liguei pro André ontem pra avisar que ia porque pelo menos ele tem que estar lá. Não só porque ele é um dos melhores e mais brilhantes amigos que eu fiz por lá, mas também porque eu vou poder pagar a grana que eu devo pra ele desde o ano passado.

Lembrei do anúncio de jornal do Mike Dolan.

Lembrei também daquilo que o Tony me falou quando foi aniversário dele, sobre o número 12. São doze meses no ano, são doze apóstolos de cristo, doze lápis pra colorir e doze garrafas de Heineken na geladeira. O Tony disse que a vida se move em ciclos de doze e, naquele mesmo dia, aconteceu uma coisa sensacional que, perdão, eu não vou explicar agora – posso dizer que vi minha namorada e meu melhor amigo conversando através de mim, como se ela tivesse um jeito de estar presente sempre e, às vezes, brincasse de bomba relógio. Campbell, que usava meu banheiro naquela época, concordou com o Tony nessa coisa sobre o número doze e disse que é preciso balançar com as ondas.

Fiz doze anos em 1985.
Ano que o mudei de colégio e fui pra um mundo maior. Saí do Centro Educacional Júlio Pereira Lopes e fui para o Colégio Anglo Latino. Ano em que o Tancredo Neves morreu e, puta merda, o Sarney acabou presidente. Fim da infância

Fiz 24 anos em 1997.
Foi o ano em que saí da faculdade e caí no mercado de trabalho. Fim da molecagem. Um ano antes, eu tava pra ser mandado embora da 89 porque, embora funcionário contratado, ainda me sentia meio estagiário. Em 1997, firmei o pé. Isso teve seu preço, mas eu aprendi.

Agora, em 2009, completo 36 anos.
Fecho assim, mais um ciclo de doze.

Os últimos anos foram terríveis, mas tiveram uma coisa de bom – eles passaram.
Este ano teria sido uma bosta sem tamanho, mas não foi.
Eu poderia chorar mil coisas aqui, reclamando disso ou reclamando daquilo, mas não.
Este foi um ano em que eu comecei lendo “Espere pela primavera, Bandini”, do Fante. A parte final do livro, quando o Fante descreve a chegada da primavera, ficou gravada no sangue. Rosa Pinelli morta, um cachorro meio lobo meio cão de caça, chamado Jumbo e um floco de neve em forma de estrela derretendo nas costas de sua mão.
O fim dos dias tensos.
O fim dos dias tristes.
Vou tomar banho e levar pra igreja as roupas que separei pra doar.
São três sacolas grandes e pesadas.
Ainda maiores que as sacolas de roupa suja.
(Foi só falar na igreja que o sinos do meio dia começaram seu espetáculo diário – meio dia, 20 de agosto de 2009)
Chegou um sms da Joh dizendo que, se o Submarino for legal, ganho meu presente ainda hoje.
Respondi pra ela que não se enganasse.
Tê-la em meu futuro é o melhor presente que poderia haver.
Eis tudo.

Feliz ano-novo, Fernando Tucori.

PS: Pra provar que, às vezes, o que a gente pensa que é tudo é quase tudo, meus pais me ligaram de volta agora, da casa da minha avó. Botaram dona Iracema na linha e eu chorei de alegria como uma criança por ouvir o “Deus te abençoe” dela.
Share:

1 comentários:

Gui disse...

Parabéns, Fê.
Espero que tenhas mais 36, ao menos.
Um puta abraço!