20.8.09

25 anos*




Já faz muito tempo que eu bebi cerveja pela primeira vez. Foi no aniversário do meu tio e eu achei que era guaraná. Achei uma bosta.
Pior ainda foi meu irmão, que, no mesmo ano, entornou um copo de querosene da tocha de um balão de festa junina com a mesma desculpa que eu.
São treze anos do dia em que eu mudei de colégio e fui parar no Anglo Latino, que eu achava que era só pra gente inteligente. Sete anos depois, eu saí de lá e só encontrei um professor que eu pudesse chamar de mestre. Ele foi demitido no ano em que eu saí exatamente porque muita gente chamava ele de mestre.
Há cinco anos eu entrava no barbeiro e pedia pra ele rapar um moicano porque eu tinha passado na faculdade e tinha que aproveitar enquanto não era jornalista.
Faz seis anos que eu decidi abortar a apresentação de uma peça que eu tinha escrito porque eu não consegui ser diretor, só amigo. Há três anos essa mesma cena se repetia, com outros atores, outro cenário e o mesmo motivo.
Já se passaram quase vinte anos desde o dia que a professora chamou minha mãe no colégio pra dizer que, um dia depois do meu aniversário, eu tinha entrado na minha classe do jardim da infância e dito: “Cuidado, pessoal! Eu já tenho cinco anos!”.
Faz um aninho que eu consegui driblar uma provável demissão e entrar de novo, desta vez, pela porta da frente. E, também, faz quase três anos que eu comecei a trabalhar com a certeza que, em menos de quinze dias, faria uma cagada e seria demitido na lata.
Também faz nove anos que eu consegui sair da lista negra dos “canditados à expulsão” do Colégio. Foi no fim de 89 que eu quebrei um ventilador e resolvi aceitar as contas com o Big Brother (aquela câmera que vigiava todos os movimentos da classe inteira). Também não fui expulso por isso e saí de lá, há sete anos, apertando a mão do diretor e dizendo: “Nunca mais vou alimentar essa barriga, tá?”.
Já se vão 13 anos desde o meu primeiro beijo, lá no Parque da Aclimação, matando aula de Laboratório. Também tem uns seis anos desde que eu descobri o mundo outra vez ao som de Johnny B. Good no banheiro, em frente ao espelho, com a cara cheia de espuma de barbear. Até hoje tem marcas de espuma do teto de casa. Até hoje tem marcas desse 18 de janeiro de 92 na minha alma e eu nunca mais consegui ouvir um Johnny B. Good igual ao daquela noite.
Faz nove anos que eu conheci as duas melhores amigas que eu já tive em minha vida. Faz mais de 20 anos que eu enfiei a mão dentro de um moedor de cana e ela saiu inteira pra contar a história.
Faz sete anos que eu tomei o maior porre da minha vida e (coincidência?) faz sete anos que eu não posso sentir nem cheiro de 51.
No próximo dia 22, faz nove anos que eu apresentei minha primeira peça de teatro e era sobre Fernando Pessoa.
Já faz uns sete anos desde aquele dia que eu decidi esquecer as lágrimas que eu um dia chorei e, tomada essa decisão, eu vi o temporal em minha frente se dissipar em um arco-íris.
Faz dois anos que me formei e descobri o quanto a faculdade atrapalhava meu desenvolvimento profissional. Faz seis anos que eu decidi que não ia prestar Odonto porra nenhuma e que meu negócio era mesmo escrever, escrever e escrever... Faz seis anos que eu escrevi na agenda da Sandrinha que um dia eu ia revolucionar a língua portuguesa e a nem minha gaveta de meias eu consegui revolucionar...
Hoje eu completo um quarto de século.
E, quer saber de um negócio?
Saber que eu ainda posso ter mais 25 anos pela frente é o melhor presente de aniversário que eu poderia ganhar.

Fernando Tucori

(* texto escrito em 20 de agosto de 1998)
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