31.7.09

prestenção, porra





Aqui na rádio tem a Verônica, que faz faxina.
Primeira vez que bati o olho nela, ela tava batendo papo com o Fernando, que trabalhava ali no estúdio do meio e fiquei meio encantado com a mania dela de chamar todo mundo de “filho”.
Ela já tem filhos e os filhos dela tem filhos também e foi com um filho dos filhos dela que eu tava brincando na festa de fim de ano da rádio, em 2007.
Só soube quando o moleque chamou ela de “vó” quando ela vinha chegando com sorvete de limão. Eu tava com aquele meu casaco ridículo, o laranja e roxo (acredita que, ontem, o cara da padaria disse que achou o casaco legal pra caralho?) porque tava gripado e, por isso, recusei o sorvete que ela ia me oferecendo.
Mesmo assim, achei bonito ela vir trazer sorvete pra mim e pro neto dela.
Eu me senti, de novo, com oito anos de idade, ganhando presente da vó do meu amigo.
Foi quando chamaram meu nome na bancada.
Tava tendo sorteio de prêmios e eu tinha ganhado 500 reais em dinheiro.
Não é muito, eu sei.
Mas meu aluguel também não era muito e aqueles quinhentos pagava todo ele e ainda me sobrava uma caixa de cerveja.
Não bancava minha viagem de fim de ano, claro, mas esses já eram outros quinhentos.

Tudo isso pra dizer que, daquele dia em diante, passei a achar que a Verônica dá sorte.
Hoje encontrei com ela e brinquei que ela me dava sorte e ela deu risada e disse: “que bom filho”.
O telefone não tocou depois disso – e nem podia – mas, coincidência ou não – as coisas deram uma melhorada.
Sorte.
Tem uma pá de coisas que eu acho que dão sorte.
Às vezes, quando eu quero muito alguma coisa, vou juntando todas elas pra ver se apresso a sorte.
Claro que não dá porra nenhuma de resultado e, daí, diante de todas as expectativas frustradas, eu fico pensando que existe uma coisa que dá azar e essa coisa sou eu, que tudo vai dar em merda e que é assim que as coisas são.

ok.

a gente pensa merda pra caralho e, pra quem pensa, tudo tem sua cota de razão e, quem pensa, pensa melhor parado.
Justamente isso.
Parado.
Pensar é muito parecido com fazer alguma coisa.
A única diferença entre pensar alguma coisa e fazer alguma coisa é justamente o verbo.
Pensar não é fazer.
O que a gente pode fazer é ir constatando as coisas pelo caminho como quem vai seguindo por um caminho que é sempre desconhecido e não para de olhar pra fora pra ver se reconhece alguma coisa.
A gente nunca reconhece nada.
O que a gente reconhece é a gente mesmo, lembranças de coisas que passaram, de coisas que a gente sentiu, a gente reconhece aquilo que a gente foi.
Mas tudo é a gente.
A gente olha pra vida e, caso se disponha a isso, desenha a vida do jeito que a gente quer, mas não tem jeito.
Ela, a vida, é assim.
Ela vai continuar sendo assim depois que nós formos embora.
A vida é engraçada e é desgraçada, como escrevi numa carta pra Joh, depois de assistir “Sukyiaki Western Django” - carta esta, que ela ainda não leu.
A vida é engraçada e desgraçada e, às vezes, ao mesmo tempo.
As coisas vão melhorar sim, porque nós vamos melhorar.
Porque nós vamos seguir adiante e, se der merda, a vamos ficar até o final e aturar o parabéns.
A gente finge que é mau, mas não passa de um bando de moleque mijão, morrendo de vontade de voltar pra dentro da barriga de mamãe
Dizer que não as coisas não vão melhorar é como dizer que estamos mortos.
E você sabe: nós não estamos mortos.
Estamos apenas brincando de piratas.
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