22.5.09

As bolas de Ali (divididas em várias partes) Pt.04





Em 1964, quando se alistou no exército, Ali foi dispensado porque não sabia escrever direito.
Em 1966, estourou a guerra no Vietnã e, a exemplo do que havia sido feito com Elvis Presley, Ali foi convocado.

Quando soube disso, Ali declarou que não iria lutar – nem fodendo – pelo exército dos EUA e cunhou a histórica frase:
“Não tenho problema nenhum com vietcongues. Nenhum deles nunca me chamou de 'nigger'”.

Ele foi até o comitê de alistamento militar em 1967 só para ouvir o nome “Cassius Clay” ser chamado três vezes sem que ele respondesse.

Foi advertido que chamariam pelo seu nome mais uma vez e que, caso ele se recusasse a atender, ele poderia pegar 5 anos de cadeia e pagar uma multa de dez mil dólares.
Chamaram “Cassius Clay” e ele nem se moveu.

No mesmo dia, a New York State Athletic Commission retirou de Ali o título de campeão mundial, cassou sua licença pra lutar e, logo depois, todas as outras federações de boxe fizeram a mesma coisa.

A coisa era simples: ele poderia ir para guerra, ficar por lá sem fazer nada, numa casa só dele e ter motorista só pra ele, mas era uma questão de princípios.

Põe no google aí e vê o tanto de tumulto racial que rolou no fim da década de 1970, nos EUA (tá, vai: clica aqui, bicho preguiça) .

Quando Ali disse que não iria para a guerra era 1967 e a música que estava em primeiro lugar nas paradas era “The Ballad Of The Green Berets”, uma canção patriótica em honra os boinas verdes.

A mídia sustentava – porque ainda era possível – que a guerra no Vietnã era outra coisa além do que realmente era: uma insensatez sem tamanho.

Um ano depois, assassinaram Martin Luther King.

A guerra era lá, do outro lado do mundo, mas Martin Luther King foi assassinado, baleado, silenciado.
Debaixo do nariz de todo mundo.
E não foi no Vietnã: foi em Memphis.

Não demorou muito pra que a posição de Ali, que foi julgada anti-patriótica no início, passasse a ser a mais patriótica que havia.

Tão logo isso ficou claro, a Suprema Corte tratou logo de devolver a licença de Ali alegando que ela havia sido injustamente cassada.

Para retomar o título foi um pouco mais difícil.

Depois de algumas lutas, Ali pôde enfrentar Joe Frazier, que era o campeão invicto.

Foi uma luta feroz, entre dois pugilistas invictos – ambos campeões mundiais.

Pra que você tenha uma vaga idéia da proporção do evento (carinhosamente apelidado de “Luta do Século”), Frank Sinatra não conseguiu comprar ingressos para a luta e, teve que arrumar, junto a revista Life, uma credencial de fotógrafo e fez o registro das imagens para a publicação.

A luta foi pau a pau até o décimo-quinto assalto – um lutador que vinha de três anos de meio de inatividade contra o campeão mundial dos pesos pesados – até que um gancho de esquerda, duro e limpo, derrubou Ali e definiu o combate em favor de Frazier.



Pela primeira vez, aquele que se dizia “o maior de todos” foi obrigado a lidar com a derrota.

Ali fez isso com dignidade.

Assumiu a derrota sem desculpas e ficou imóvel, com uma expressão aterrorizante.

Era assim que ele estava, no vestiário, quando Diana Ross, inconsolável, chorava em seu colo, sem botar fé que o maior de todos havia sido derrubado.

Deu a impressão de que ninguém acreditou naquela derrota. Só de uma pessoa: o próprio Ali.

Ele ruminou aquela derrota sem a menor autopiedade e tirou dela tudo que pode.

Depois disso, ele ainda sofreu outra derrota, contra Ken Norton, e essa, literalmente, não foi fácil de engolir.

Acho que foi no segundo assalto que Norton quebrou o maxilar de Ali.

Seu técnico, Dundee, quis pedir o fim da luta, mas Ali disse que não.
“Eu consigo derrubar esse vagabundo”, disse ao técnico.

A luta se arrastou por doze assaltos e, no fim, em decisão dividida, o júri deu vitória à Norton.

Depois da luta, Ali concedeu entrevista mesmo sem poder abrir a boca e os médicos que o examinaram consideraram impossível que qualquer ser humano agüentasse lutar os dez assaltos que Ali lutou no estado físico em que ele lutou.

Percebe que é fácil ser “o maior” ganhando, mas que é foda pra caralho continuar sendo quando se está perdendo?

Ali fez revanche contra os dois e ganhou dos dois, mas não ganhou o título.

O título era de George Foreman que derrotara não só Joe Frazier, como também Ken Norton – ambos no segundo round.

Frazier foi massacrado: Foreman o derrubou seis vezes em quadro minutos e meio.

A luta entre George Foreman e Muhammad Ali foi, pra muita gente, a maior de todas as exibições de boxe que já se viu.

Mas ela é o tema da próxima parte.
Se você quiser a coisa completa, procure o documentário "Quando Éramos Reis", de Leon Gast, e, aí sim, você vai saber o que foi aquilo.
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2 comentários:

ourubu disse...

Do caralho teu texto! Muito foda! Mas faltou alguma crítica, porra! Ali errou muito, não foi um novo Moses! O maior erro foi se deixar usar pelo bosta do Malcolm X.
Ali é de longe o atleta do século e um gênio da auto-promoção. Mas Jesse Owens, Joe Louis ou Paul Robson sofreram e lutaram muito mais pela causa negra. Não esqueçamos : Martin Luther sempre foi Martinho Lutero. Destruir o racismo o comendo por dentro : isso é que dá certo. Ser ativista nos 60 era até glamuroso, foda era nos 40!

tonyroxy disse...

do balacobaco