1.4.09

Mel Gibson X Jesus Cristo





(OBS: Este texto foi escrito ANTES que Mel Gibson sequer cogitasse a possibilidade de filmar "Paixão de Cristo". Por ter sido meio premonitório, vale a repostagem. Publiquei originalmente na "Coluna do Meio", no Rockwave, em 2001. Acho. Por isso, as letras maiúsculas.)


Uma história 50% ficção e 50% delírio, estrelando Mel Gibson, Jesus Cristo e Mister Beam.



Estou em meu mundo. Meu quarto. O lugar onde o caos procria em caos menores, talvez maiores, talvez melhores, talvez piores. Aqui, da porta pra dentro, tenho a ilusão que o mundo deixa de ser mundo e passa a ser meu mundo. Aqui que pinto, aqui que durmo, aqui escrevo, aqui é o lugar onde eu penduro minha cabeça.
Olha... Acabei de inventar o papel perfumado com suave odor de bourbon. Derrubei Jim Beam na mesa e, pra secar, usei um isqueiro Bic, que acende três mil vezes ou mais. Se não fosse pela intervenção do vizinho de estibordo e de seu ruidoso extintor de incêndio vermelho, o caderno estaria seco e eu poderia escrever do jeitinho que escrevi antes de passar pro computador. Alguns trechos estão ilegíveis. Outros já estavam assim porque minha letra é horrível. E alguns outros, também ilegíveis, não vão fazer tanta falta assim. Eu não tinha escrito nada. Só agrupei palavras que, aparentemente, não dizem nada juntas. Minha intenção era parecer mais profundo do que realmente sou. Parece que deu certo. O Jim Beam se acumulou em poças precisamente nestas aéreas, mas eu consegui secar. Foi só lamber... Profundidade é isso, né?
Imagino que você queira saber como é o cheiro de um papel de carta sabor Jim Beam... Particularmente, eu reprovo, mas se você insistir demais, algum dia eu te mostro. Guardei uma amostra dentro da minha carteira. É só pra o caso de eu ficar preso em algum engarrafamento na Marginal do Pinheiros e sofrer um surto de abstinência alcoólica. Quando isso acontece, a simples menção da palavra "engarrafamento" faz com que eu comece a tremer e não consiga mais tirar o pé da embreagem. É nessa fase que o papel de carta do Mister Beam entra.
Bom... Vamos aos fatos, então?
Você já assistiu "O Troco"? Com o Mel Gibson! Então... Na versão original do filme, o personagem principal do filme, Porter (sim... o Mel Gibson. Presta atenção, pô! Eu disse Porter e não Potter!), termina entre a vida e a morte, sangrando em um beco. Assim que era pra ser. Mas o Mel Gibson não gostou e mandou mudar o final. O diretor não quis. Acabou na rua. O final ficou do jeito que o ator principal achou que deveria ser. Ponto final.
As vezes, eu me pergunto o que aconteceria se Mel Gibson fosse fazer um papel mas, digamos, conhecido. E se ele fosse escolhido pra fazer o papel de Jesus Cristo?
"- Desculpa aí, gente... Mas com esse final aí não vai dar...
" - Que final, senhor G?"
"- Esse aí, o da cruz e tudo mais... Você não pode fazer um herói de apelo popular tão forte quanto Jesus Cristo morrer desse jeito! Eu me recuso a tomar parte nisso...
"- Mas a história original é assim, senhor G..."
"- Dane-se a história original! Eu me importo com o PÚBLICO! Eu não julgo o público... Mas eu sei o que eles querem. E eles não querem que Jesus Cristo seja crucificado... Pelo amor de Deus! Quem escreveu esse livro, afinal? O Pakula? O Mamet? Já sei... Isso tem cara de Michael Crichton! Ou foi aquele brasileiro... O Roger Rabbit..."
"- Paulo Coelho, senhor G!"
"- Exatamente... Paulo Coelho! Foi ele?"
"- Ele diria que sim... Mas, não! Olha, senhor G... A Bíblia foi escrita por pessoas que realmente conheciam e realmente gostavam de Jesus Cristo... Se eles disseram que ele foi crucificado, é porque ele foi crucificado mesmo... Lamento, senhor."
"- Espere! E se nós fizéssemos uma inovação na história? Uma pequena intervenção...?"
"- Do que exatamente o senhor fala, senhor G?"
"- Vamos ressuscitar Jesus! Assim, criaremos uma ilusão de que Jesus Cristo pode estar por aí, em qualquer parte. Poderá ser um final, assim, meio Matrix... Só que com um personagem real... Jesus Cristo será o Elvis Presley do século XXI! As pessoas vão vê-lo em supermercados, vão procurar por ele... E se ele não morreu? Este será o ponto máximo do enredo!
"- Exatamente... O ponto máximo, senhor G!"
" - Podemos até chamá-lo de:... atenção... 'O Ponto G'! Richard, querido, acredite: essa tal de Bíblia será o livro mais vendido do mundo quando este filme for lançado! Escreva o que eu digo..."
"- Escrevi. Podemos filmar agora, senhor G?"
"- Claro... Mas, antes, me diga uma coisa: quem inventou este nome, hein? 'Bíblia' é tão horrível. Lembra biblioteca e bibliotecas são tão tediosas... Eu demitiria meu agente por isso!"
Encerramos, assim, a participação de Mel Gibson nesta coluna, uma vez que o cachê dele praticamente exterminou as reservas do nosso tesouro e secou nosso reservatório de bebida.
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