30.3.09

sobre balões




não é justo eu ficar respondendo sua carta aqui, mas é que o tempo todo me aparece uma coisa nova pra dizer eu confesso desavergonhadamente que são poucas as que eu deito no papel.

mas me perdoa.

é que eu gosto de anda por aí, acompanhado por pensamentos seus.
eles conversam longamente comigo quando estou sozinho.

quando você me contou a história dos balões, lembrei, na hora, da primeira escola onde estudei, que se chamava "balãozinho vermelho" (que eu chamava de "balãozinho venvelho" na época que não sabia falar a letra "erre").
de lá, o que eu mais lembro é do caminho de volta pra casa.
sempre pedia pra ir pelo caminho do "túnel de árvores".

o balãozinho vermelho ficava do lado do círculo militar, o que me lembrou de outra história com balões, que foi quando a gente foi ao zoológico em excursão (do círculo) e eu levei elástico e mais uma sacola de papeizinhos dobrados pra atirar com o elástico.

meu primo ivan, o terrível, é que me ensinou a atirar com aquilo e, pras picas com modéstia, eu atirava bem pra caralho.
tão bem que o ivan parou de mexer comigo.

ele criou um monstro, porém.

primeiro que, durante o caminho até o zoológico - a gente foi de ônibus fretado - ninguém, em nenhum carro ao lado do nosso ônibus, podia botar o braço pra fora.
levava petelecada e nem sabia de onde tinha vindo.

segundo, por causa dos balões.
no zoológico daquela época da minha infância sempre tinha uma horda de vendedores de balão de hélio na porta.
e, como em toda excursão, o ônibus parou na porta do zoo e demorou uma eternidade até que se soubesse exatamente o que ia ser feito dos pirralhos, que éramos nós.

foi nessa hora que aposentei os papeizinhos dobrados e meti a mão no bolso, em busca dos clipes de papel, que eu havia cortado ao meio com um alicate do meu avô.

cada petelecada com clipe no elástico era pelo menos um balão que ia pro saco.
era fácil e nem requeria muito desafio.

então, voltei aos petelequinhos de papel e esperei.

tinha um tiozão gordo que vendia balões sentado em uma cadeira de armar - que perigosamente arcava as pernas pra sustentar o peso dele.
fiquei analisando o seu comportamento.
lembrava dele. na última vez que a gente tinha ido no zoo, ele cagou na hora de dar o balão pro meu irmão e o balão voou pras picas, meu irmão chorou pra caralho e eu tive dar o MEU pra que ele calasse a boca.

toda vez que alguém comprava um balão, ele botava na boca TODOS os barbantes de TODOS os balões - menos daquele que a pessoa havia comprado, recebia o dinheiro e dava o troco antes de voltar a segurar o emaranhado de fios enrolado com mão outra vez.

esperei.

todo mundo no ônibus estava esperando também.
nunca gostei desse tipo de expectativa que só fode as coisas.

veio um menino e pediu um balão.
escolheu o balão.
o gordo achou o fio do balão que o menino escolheu, desemaranhou da mão e estendeu o balão pro menino.
fez do mesmo jeito que fez com meu irmão, entregou o balão com mão mole e o balão do menino foi embora.

nessa hora, que ele tava com todos os fios na boca, com o dinheiro do menina na mão e o pai do menino PUTO com a choradeira, eu atirei.

pegou no olho do gordo.
em cheio.
fez barulho: PLAF!

ele até tentou segurar, mas os balões todos os seus balões voaram, para o infinito e além.

e o ônibus explodiu numa puta algazarra de criança e a gente teria se fodido GRANDE porque o gordo sacou de onde veio a tabagada que ele levou.

só que o pai da criança que tava comprando o balão quando o gordo levou a petelecada disse alguma coisa pro monitor da nossa excursão.
Algo como "ele levou uma picada de um bicho. eu vi".

e ninguém duvidou dele.
nem eu.
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